“Tenho que trazer quatro marmitas se não desmaio de fome, porque aqui não tem bandejão e também comprar marmita toda hora fica caro”. O relato é da estudante de geografia, Barbara Viera, 21, que estuda no campus da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), em Itaquera, na zona leste de São Paulo.
Por três vezes na semana a estudante fica das 7h30 às 18h na universidade. Moradora de Cidade Tiradentes, a jovem conta como a falta do bandejão, como é apelidado o restaurante universitário, afeta o dia a dia dos estudantes. “A gente perde o foco, a fome faz a gente ter mais sono. Às vezes a gente se alimenta tão mal que não consegue dormir e muda todo o nosso corpo”, argumenta.
O campus zona leste foi criado em 2014 pelo Ministério da Educação. O terreno de 173 mil m², na avenida Jacu Pessêgo, foi cedido pela prefeitura da capital paulista e abrigava galpões da antiga fábrica Gazarra.
De acordo com o Projeto Político-Pedagógico do Instituto das Cidades, está prevista a construção de prédios administrativos, estudantis, centro esportivo, uma creche e um parque no local.
A universidade abriu em 2016 com o atual prédio de extensão, único em operação. O campus concentra o Instituto das Cidades e oferece graduação no curso de geografia. Os estudantes começaram a chegar em 2020, hoje são cerca de 160.
Moradora do bairro Jardim Colégio, em Embu das Artes, Andressa Gomes, 25, leva seis horas para ir e voltar da faculdade. “Tinha que sair daqui meio-dia em ponto e já ia para casa, mas eu passava muito tempo com fome e isso interferia no meu humor”, relembra.
Segundo os estudantes, não há uma lanchonete próxima a universidade, sendo a loja de conveniência em um posto de gasolina a única opção de um lanche rápido. Outra saída é a compra de marmita por aplicativos de entrega. O preço do almoço varia entre R$ 15 e 25 reais. Em unidades da Unifesp onde há bandejão, o preço da refeição é R$ 2,50.
Além de prejudicar a saúde dos alunos, a falta do restaurante universitário impede que o campus tenha atividades ao longo do dia. “O Instituto das Cidades está começando agora com a geografia e é muito importante que ele se estabeleça aqui na zona leste, porque vem de uma luta dos moradores pela educação”, argumenta a estudante Andressa.
A também estudante de geografia, Vitória Oporto, 21, está com menos aulas para não precisar passar o dia inteiro na universidade. Moradora do bairro Cidade Tiradentes, Vitória afirma que alguns alunos desistiram da graduação por conta da demora na construção do campus.
“Tem muitos alunos que saíram do curso e tem muitos alunos que estão pensando em sair e pedir transferência ou até mesmo fazer o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de novo”
Vitória Oporto, 21, estudante de geografia
“O pessoal não tem vontade de permanecer no campus e isso é muito perigoso para a luta e permanência da universidade, porque se fica cada vez mais desocupado, não tem porquê da obra avançar ou do campus evoluir”, alega Vitória.
Em junho de 2022, os estudantes do Instituto das Cidades fizeram uma manifestação na reitoria da Unifesp na Vila Clementino, na zona sul da capital. Organizado pelo CAGeo (Centro Acadêmico de Geografia Unifesp Zona Leste) a movimentação teve o objetivo de conseguir melhorias para o campus.
“Foi um marmitaço em frente à reitoria. Ficamos sentados comendo para mostrar que estamos com fome aqui. Ficamos a manhã inteira, então entramos e fomos subindo até conseguir falar com o reitor”, relembra a diretora de ensino e pesquisa no CAGeo, Giovanna D’Amaral, 19.
“O auxílio alimentação foi uma conquista dos estudantes, assim como uma nova copa, mais banheiros e salas de aulas. A gente vem lutando, para conseguir ocupar esse espaço, e também ocupar com qualidade”, ressalta Giovanna.
Procurada, a Unifesp respondeu por meio de nota que o projeto para a construção dos novos prédios do campus, assim como o bandejão, aguarda licença da prefeitura de São Paulo.
“O Campus Zona Leste está em implantação e temos um projeto de construção que compreende um complexo de edificações no valor de R$ 210 milhões”, afirma a entidade.
“Temos a sinalização de recursos vindos da Prefeitura de São Paulo para a construção do refeitório e de recursos do Governo Federal para o início das obras correspondentes a construção de dois galpões com salas de aulas e laboratórios.”
Segundo a universidade, a construção do bandejão levará um ano para ficar pronta, após a licença do projeto pela prefeitura.
Procurada, a Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento da Prefeitura de São Paulo afirma que o projeto precisa de readequação. A gestão diz ter mantido reuniões com a unidade e prestado apoio nas mudanças necessárias ao projeto apresentado. “Após ajustes, a pasta municipal seguirá com a análise”, diz a secretaria.