Moradores vivem insegurança no cenário político e dificuldades com situação da pandemia. Cidade tem maior taxa de mortes por coronavírus na Grande São Paulo
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Por: Katia Flora
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Publicado em 22.04.2021 | 14:41 | Alterado em 22.04.2021 | 14:43
A auxiliar de enfermagem Selma* diz que pouca coisa mudou desde o início de uma gestão temporária na Prefeitura de São Caetano do Sul, na Grande São Paulo. “A cidade está estagnada, principalmente na área da saúde onde atuo há 16 anos”, comenta ela que pediu para ter o nome trocado por receio de represália.
A situação tem sido complicada em meio o enfrentamento da pandemia da Covid-19. Selma conta que os profissionais de saúde recebem poucas máscaras adequadas para proteção no trabalho – como a N95/PFF2. Cada profissional recebeu uma a cada 15 dias, ou seja, apenas duas por mês – a prefeitura nega e diz enviar mais materiais.
Em meio a alta de casos, a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Engenheiro Marcucci Sobrinho foi fechada para a população, sendo permitida a entrada somente de quem chega de ambulância.
“Nós estamos trabalhando no limite, com a sobrecarga e o avanço da doença no município. Espero que o antigo prefeito não assuma a prefeitura, e quem entrar precisa priorizar a saúde”, avalia a auxiliar.
A cidade de São Caetano do Sul segue sem prefeito eleito há mais de três meses. José Auricchio Júnior (PSDB) buscava a reeleição e venceu com 45% dos votos. No entanto, os votos foram anulados pela justiça que julgou irregular a candidatura dele.
Auricchio concorreu mesmo depois de ter sido enquadrado na Lei Ficha Limpa, devido às doações irregulares que recebeu em 2016, quando era candidato.
Com isso, o tucano não pôde tomar posse em janeiro deste ano. Quem assumiu a prefeitura foi o presidente da Câmara de Vereadores, Tite Campanella (Cidadania), que permanece no cargo como prefeito em exercício.
No período, São Caetano tentou ir contra a quarentena e buscou na justiça autorização para sair da fase vermelha estipulada pelo governo estadual e assim reabrir os comércios. Porém, a situação ainda estava grave com a ocupação da maior parte dos leitos hospitalares.
Com 618 vítimas até a última semana, o município é proporcionalmente o que teve mais mortes por causa da doença na Grande São Paulo – 383 óbitos para cada 100 mil habitantes (Veja os dados da região metropolitana aqui).
Por outro lado, São Caetano é a cidade que mais vacinou entre os 39 municípios da Grande São Paulo. 20% da população já recebeu a primeira dose e 7% a segunda dose.
Os primeiros 100 dias de Tite Campanella como prefeito interino também foram marcados por outros problemas.
Morador do bairro Fundação desde que nasceu, Rogério Bregaida, 33, presidente da Fundação Viva (associação de moradores do bairro criada em 2019), diz que há descasos com as enchentes.
Segundo ele, Campanella não apresentou projetos para a população no combate aos alagamentos.
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ALAGAMENTO
Em fevereiro deste ano, houve fortes chuvas com alguns pontos de alagamentos. Bregaida propôs o projeto de piscinões sustentáveis e um sistema de alarme para avisar em casos de enchentes, mas não teve retorno da prefeitura.
“É triste ver dessa forma uma cidade tão pequena e com uma arrecadação tão alta. Estamos num momento delicado na política sulsancaetanense, com um prefeito aguardando julgamento da justiça.”
“Nós sentimos a deriva e precisamos de políticas públicas”, diz o assistente comercial Valter Soares Silva, 50. Ele reside também no bairro Fundação há sete anos e passou por problemas com os alagamentos.
Procurada, a assessoria de José Auricchio Júnior nega irregularidades e afirma que aguarda julgamento no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ainda sem agendamento previsto. A Prefeitura de São Caetano do Sul reitera que tem possibilidade de Tite Campanella seguir na gestão para o segundo semestre.
O advogado especialista em direito eleitoral Luciano Caparroz Santos, 62, explica que esses processos não têm prazo para julgamento.
O TSE está analisando todos os casos daqueles que ficaram com pendência na eleição de 2020. “Isso traz uma insegurança para os eleitores da cidade, pois não tem uma data estabelecida.”
Nos últimos anos, cidades como Cajamar e Pirapora do Bom Jesus levaram mais de um ano para que fosse convocada uma nova eleição.
“Teve processos políticos que levaram três anos para ter o veredicto. O sistema deveria ser mais ágil, para não ficar com essas pendências por muito tempo”, diz.
Após a decisão do TSE, será possível definir se Auricchio volta e assume o mandato ou se será convocada uma nova votação para a escolha do prefeito.
O QUE DIZ A PREFEITURA
Sobre os problemas citados, a Prefeitura de São Caetano do Sul diz que todos os profissionais de saúde recebem kit diário com seis máscaras descartáveis e, dependendo do setor, também uma face shield. Já para os que trabalham na UTI Covid e na Central de Material e Esterilização são fornecidas uma máscara N95 a cada 7 dias.
Sobre a UPA Engenheiro Marcucci Sobrinho, o órgão aponta que a unidade foi fechada para atendimentos não urgentes por conta do aumento da demanda. Agora, está atendendo somente casos de urgência e emergência.
Segundo a prefeitura, com a reabertura do hospital de campanha, houve a ampliação dos leitos de UTI em 25%, reorganizando o sistema de atendimento. Também afirma que houve a adoção de medidas de restrição da circulação de pessoas.
Por fim, sobre o combate às enchentes, mantém o projeto ReFundação, que prevê a construção de dois piscinões.
Jornalista com experiência em jornalismo online e impresso, tem publicações em diversos veículos, como Uol, The Intercept e é ex-trainee da Folha de S. Paulo no programa para jornalistas negros. Correspondente de São Bernardo do Campo desde 2014.
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