Música “Fit Rose chegou” marca o início da carreira de Gabriel Rosa, artista drag queen da zona sul de São Paulo
Luis Nascimento/Agência Mural
Por: Luis Felipe do Nascimento
Notícia
Publicado em 15.03.2021 | 17:13 | Alterado em 27.02.2024 | 17:01
Como diria Criolo Doido, a arte liberta. E foi em busca dessa liberdade que o jovem Gabriel Rosa, 20, morador do Jardim Guacuri, distrito da Pedreira, zona sul de São Paulo, decidiu se lançar como artista para o mundo. Nasceu então a drag queen Fit Rose.
A relação de Gabriel com a música se iniciou quando ele ainda era criança. Desde pequeno, sempre gostou de cantar músicas nacionais e internacionais em casa ou em eventos familiares na quebrada onde mora, no bairro que fica no limite entre São Paulo e o município de Diadema, no ABC Paulista.
Aos 12 anos, inclusive, participou das seletivas do programa “Ídolos”, do SBT, e segundo o artista, essa experiência foi importante para dar o primeiro passo da carreira.
Por incentivo de amigos e colegas, decidiu se matricular em um curso de canto gratuito oferecido pelo Projeto Guri no CEU Alvarenga, no Balneário São Francisco, também no distrito de Pedreira.
“O curso de canto foi muito bom, lá eu aprendi muitas técnicas, participei de projetos e eventos. Também fazia um uma vez na semana uma disciplina complementar de percussão”, conta.
No bairro em que mora, ele é conhecido por gostar de moda, brechós e de cantar. O artista de sorriso fácil e contagiante conta algumas das características que aparecem na personagem Fit Rose.
“A Fit Rose é tudo o que eu tenho de forte, ela é imponente, tem presença e é carismática. A Fit Rose é confiança!”, afirma.
“Quando eu estou com a peruca na cabeça eu não tenho nenhuma dúvida de quem sou e do que posso fazer, só tenho a certeza de que meu trabalho é excepcional e que posso fazer tudo o que quiser.”
PRIMEIRA MÚSICA
As músicas de Fit Rose tem como propósito retratar o ser periférico e como é ser artista drag queen na sociedade.
Com a colaboração da produtora e empresária Luana Coelho, 33, o artista lançou em fevereiro o primeiro single, “Fit Rose chegou”. O próximo lançamento será a música “Onda”, em abril.
Luana trabalha há mais de cinco anos como DJ e produtora musical e cita que a obra de quem vem das periferias traz um peso diferente. “Para quem é da periferia, existe um diferencial que é a bagagem. A vivência periférica é muito rica, o artista periférico tem muitas questões e vivências para mostrar”, diz a produtora.
No entanto, produzir esse trabalho ainda esbarra na questão financeira. “É um tipo de mercado em que é muito difícil fazer as coisas sem recursos”, aponta.
Gabriel viveu esse problema. Para conseguir comprar roupas, maquiagens e perucas, e assim poder participar de apresentações em saraus e eventos do bairro, ele trabalhou como atendente de call center em uma empresa no centro de São Paulo.
Com o trabalho, conseguiu comprar as coisas que precisava e ajudar com as despesas de casa.
“A grana curta é um dos fatores que atrasou muito a minha carreira. Uma peruca, por exemplo, custa mais de R$ 400. Uma roupa boa também não é barata. Quando você não tem uma grana sobrando, o rolê é mais difícil. Quem tem grana terceiriza tudo e eu, como não tenho, precisei trabalhar de várias coisas para conseguir tirar o meu sonho do papel”, desabafa. Esse não foi o único obstáculo.
SER DRAG NA PERIFERIA
“Ser drag queen na periferia é duas vezes mais difícil. Na sociedade, em geral, a gente precisa lidar com o preconceito e na periferia não é comum as pessoas verem drags no dia a dia delas”, conta Gabriel.
No vídeo abaixo, o artista explica o que é ser drag e o que a Fit Rose representa em sua vida:
Gabriel diz que nunca foi vítima de nenhum tipo de agressão, mas já ouviu relatos de amigas travestis e transexuais que foram alvo de xingamentos e violência física.
“Já tive uma amiga que foi chamada de vagabunda, de ‘traveco’, ‘bichinha’. Às vezes eu preciso sair mais cedo de casa para me arrumar no lugar onde vou me apresentar por medo de sofrer algum tipo de agressão. Se já sofro essa repressão, imagina as mulheres/homens transexuais e travestis?”
“Mesmo que indiretamente, a gente sofre diariamente por sermos ‘diferentes’, mas isso não me atinge, tento ser bem blindado em relação às críticas”, declara.
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Jornalista e educomunicador. É cofundador do coletivo Perifate. Geminianjo, comunicativo, ama esportes, trilhas e aprender coisas novas. Correspondente de Diadema desde 2019.
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