Por: Redação
Notícia
Publicado em 12.03.2018 | 14:12 | Alterado em 18.05.2023 | 15:44
No dia 21 de fevereiro, a gestão do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), divulgou uma nova proposta que pretende reestruturar o sistema de transporte da capital. A ideia é que, em até três anos, a partir do início do contrato, a frota seja reduzida em 35%.
A região sudoeste, que engloba Santo Amaro, Guarapiranga, Campo Limpo e Butantã, é a que mais terá ônibus extintos ao final das três fases de reconstrução, totalizando 64 veículos fora de circulação. A zona leste é a segunda com mais cortes, com 53 linhas a menos. As mudanças devem ser implementadas a partir do fim do ano que vem e seguem até 2021.
A estudante de publicidade e propaganda Erika Reinof, 21, mora na zona leste da capital e, para realizar o caminho ao trabalho, na zona norte, precisa pegar a linha 1016-10 (Cemitério do Horto – Shopping Center Norte), que será substituída por outro trajeto após reformulação.
“Além de mim, grande parte da empresa em que trabalho utiliza desse mesmo micro-ônibus que está entre os que serão desativados, já que é a única linha que nos deixa mais próximo ao trabalho”, pontua ela, que após a mudança terá de sair mais cedo de casa.
Atualmente são gastos R$ 8 bilhões com 1.336 linhas que circulam na cidade. A promessa da prefeitura é que, no futuro, com 1.187 frotas, a redução dos custos anuais com o transporte será de 2,5%. A medida também prevê aumento de 22 para 29 empresas prestando o serviço.
Após questionamentos da população, a Secretaria Municipal de Transportes e SPTrans atualizaram e detalharam a proposta em relação às novas linhas que serão implementadas.
O que antes eram 235 ônibus extintos, com o novo edital, passa a ser 202. O comunicado esclarece ainda que “a rede apresentada na licitação é considerada como referência e comporta ajustes, mesmo durante a execução dos contratos”. A zona leste foi a região que mais recuperaram linhas até então.
Os ônibus que serão cortados ou extintos passarão por um processo de mudança de itinerário. Assim, as linhas que antes faziam caminhos extensos serão divididas. Em alguns casos, usuários que agora pegam um ônibus para chegar ao destino desejado, terão que pegar até três para realizar o trajeto.
Confira aqui o status da sua linha após a atualização da prefeitura.
É o caso de quem precisa sair da Lapa, na zona oeste, com destino a Socorro, na zona sul. A linha 856R-10 (Lapa – Socorro) será extinta, fazendo com que o usuário tenha de pegar um ônibus na Lapa até o Terminal Pinheiros, em seguida embarcar em outro até o Terminal Santo Amaro, e, por fim, um ônibus até Socorro. Essa linha recebe em média 519 mil passageiros por mês.
Com uma mistura de saudosismo e indignação, foi criado inclusive um evento no Facebook para uma balada de despedida dentro do 856R-10 no dia 30 de março. A celebração promete reunir mais de 1.000 pessoas.
Essa situação se concentra também nas demais regiões, como a zona sul com o 6078-10 (Cantinho do Céu – Shopping Interlagos), que mudará o destino para o Terminal Grajaú. Com isso, o usuário efetuará embarque na linha que o levará até o Metrô Brás.
O 6038-10, que antes saia do Jardim das Rosas com destino à Santo Amaro, com a nova proposta, irá até o Terminal Capelinha, para ter a ligação ao Terminal Santo Amaro.
Outro exemplo é o 352A-10 (Jardim Helena – Terminal São Mateus) que, na conclusão da fase 2 do projeto, mudará seu ponto inicial para o Terminal Sapopemba, e o usuário terá que fazer a conexão a partir da avenida Rio das Pedras.
Segundo a prefeitura, a ideia é reduzir a sobreposição de linhas, o que gera maior custo, já que existe uma série de ônibus que realizam trajetos idênticos.
Segundo Rafael Drummond, planejador urbano e estudante de transportes terrestres na Fatec, “ao mesmo tempo que eles estão planejando tirar linhas dessas áreas, eles não estão remanejando os trajetos para outras vias que hoje são subutilizadas”.
Ele cita exemplos como as marginais Tietê e Pinheiros, a avenida Bandeirantes, a avenida Pacaembu e o eixo Sumaré, que segue até República do Líbano e Indianópolis.
Drummond reforça que há um detalhe importante nesse processo de cortes e modificações que não está sendo tratado da devida maneira.
“A prefeitura diz que a racionalização será bom para a população, mas não considera que os locais para a troca de ônibus não são adequados. Isso acontece porque a construção de terminais ou de corredores se estancou e muitas trocas de ônibus serão feitas em pontos nas ruas”, diz o planejador, que também destaca que a localização e qualidade dos pontos de ônibus não fazem parte do planejamento atual.
Com a licitação aprovada, a gestão planeja dividir as linhas em setores que operam nos horários de pico, em eventos especiais e redes de linhas extras em momentos pontuais.
A rede noturna continuará em circulação, assim como a ambiental, rural e a estrutural, que engloba os itinerários que operam em corredores ligando todas as regiões até o centro.
Após a repercussão das comparações das linhas atuais e futuras feitas pelo Movimento Passe Livre, a Secretaria Municipal de Transportes lançou na última quinta-feira, 1, uma nota oficial e declarou que “prevê ônibus chegando em mais ruas da cidade e com maior oferta de lugares na frota, atendendo melhor a população”.
No edital, os órgãos destacam que as entidades, junto com a SPTrans, seguem abertas a sugestões e críticas “com o objetivo de construir um sistema municipal de transporte mais eficiente, confiável e confortável aos passageiros”. A instituição também garante que todos os usuários serão avisados com antecedência por meio dos canais da SPTrans.
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