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Espiritualidade à beira da Billings: ‘A represa é um ponto de cura’

Léu Britto/ Agência Mural

Em Diadema, sacerdote da umbanda cria espaço para realizar rituais de cura com Ayahuasca, inspirado pela força espiritual das águas

Por: Jacqueline Maria da Silva

Notícia

Publicado em 25.03.2025 | 19:59 | Alterado em 28.03.2025 | 18:31

Tempo de leitura: 3 min(s)

Era 1974 quando Ezequiel de Oliveira Pereira, 55, viu pela primeira vez o “mundaréu de água” da Represa Billings, que em 2025 completa 100 anos.

Em suas lembranças de infância ficaram os “muitos peixes graúdos” que pescava com o pai, a multidão de pessoas tomando sol e mergulhando para se refrescar, o movimento animado dos comércios locais, o vai e vem dos barcos e pescadores, e a procissão pelas águas de Nossa Senhora dos Navegantes.

“Era bem agitado. Para mim, que era uma criança, parecia uma festa. Lembro daquela água fresca batendo nas margens, tinha muito colorido”, descreve Ezequiel, que também é subinspetor da Guarda Civil Metropolitana de São Bernardo do Campo.

Para sacerdote, represa é um ponto de conexão com o mundo espiritual
Altar com Oxalá no centro e garrafa de Ayahuasca no canto esquerdo
Cantinho do Preto Velho, onde Ezequiel se prepara para nos dias de ritual com o chá.
Ezequiel em frente ao altar da Casa de Reza
Recanto possui
Decoração da Casa de Reza
Ezequiel toca isntrumentos durante rituais religiosos
Fachada da Casa de Reza
Biodigestor do local, que funciona como uma fossa séptica para evitar ro despejo de esíduos na represa.

Para sacerdote, represa é um ponto de conexão com o mundo espiritual @Léu Britto/ Agência Mural

Altar com Oxalá no centro e garrafa de Ayahuasca no canto esquerdo @Léu Britto/ Agência Mural

Cantinho do Preto Velho, onde Ezequiel se prepara para nos dias de ritual com o chá. @Léu Britto/ Agência Mural

Ezequiel em frente ao altar da Casa de Reza @Léu Britto/ Agência Mural

Recanto possui @Léu Britto/ Agência Mural

Decoração da Casa de Reza @Léu Britto/ Agência Mural

Ezequiel toca isntrumentos durante rituais religiosos @Léu Britto/ Agência Mural

Fachada da Casa de Reza @Léu Britto/ Agência Mural

Biodigestor do local, que funciona como uma fossa séptica para evitar ro despejo de esíduos na represa. @Léu Britto/ Agência Mural

Ezequiel nasceu em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, e mudou-se com apenas um ano de vida para o bairro União, na periferia de Diadema. Viveu um momento único na região, quando a Represa Billings era um ponto turístico e uma das poucas opções de lazer dos moradores locais aos fins de semana.”Era tipo um ‘point’ do pessoal que morava ali”.

Quase 50 anos depois, Ezequiel comprou uma casa a cerca de 200 metros das margens da represa, no bairro Eldorado, em Diadema. Desta vez não para pescar, nadar ou tomar sol, mas para praticar sua religião.

Como sacerdote da umbanda e adepto dos rituais como Ayahuasca, fundou o Instituto Espiritual Xamanico Inove na Billings, onde realiza rituais universalistas com uso do chá.

“A represa é um ponto de força da natureza. Este foi um dos motivos que escolhi vir morar aqui. A Billings tem essa ligação física, espiritual e energética que ajuda no processo de cura das pessoas”.

O bom filho às águas retorna

Um portão de madeira dá acesso ao quintal do Instituto. O cheiro das ervas, os cristais espalhados e a playlist com mantras e músicas espíritas, xamânicas, hinduístas e umbandistas convidam a um mergulho espiritual.

O caminho que leva ao espaço é cercado de plantas como bromélias, palmeiras, costela de Adão e boldo. Há um chafariz e local reservado para fogueira, além de bancos e mesas de madeira. De frente para o quintal, está a fachada da Casa de Reza, ou Templo de Iansã, como Ezequiel batizou.

Para Ezequiel, o espaço ao redor da represa inspira contemplação e aproximação com o espiritual @Léu Britto/ Agência Mural

“Iansã é a mãe dos nove filhos. Não por acaso, minha mãe tinha nove filhos”, conta sorrindo. “É também a mãe dos ventos e das águas” – mais uma conexão entre a Billings e a entidade, considerada sua orixá na umbanda.

Fora do templo de cor amarela vibrante, há uma imagem do Mestre Irineu, xamã que consagrou a Ayahuasca no Acre com os povos indígenas. Dentro, as paredes azul royal são decoradas com imagens de orixás e figuras indígenas e xamânicas. No altar, está representado Oxalá ao lado de imagens de santos e entidades espirituais, que vão de Pachamana, a Mãe Terra na mitologia Inca, à Deusa Shiva, do hinduísmo.

O preparo da Ayahuasca é feito com a infusão de três elementos: o cipó Jagube, uma erva chamada Chacrona e água. A bebida é originária dos povos indígenas e é usada em seus rituais religiosos.

Cachimbos, ervas, guias, velas, atabaques, pedaços do cipó Jagube e, claro, a garrafa de Ayahuasca, protagonista no ritual, completam o cenário religioso. Sentado diante do altar, Ezequiel toca o tambor de forma suave e ritmada, como um mantra. É assim que começa o ritual que ocorre uma vez por mês.

Para Ezequiel, viver perto da Billings traz a fluidez necessária para o ritual e potencializa todas as práticas propostas no espaço. Em sua crença, ele reforça que o local concentra a energia de elementos essenciais para as práticas do xamanismo e da umbanda: água, mata, animais, terra e ar.

“A água retém a vibração de tudo, limpa, dilui e conduz.”

Na beira da represa, em meio aos sedimentos, restinga e areia, ele contempla a imensidão do reservatório, lamentando que o local não seja mais adequado para banho devido à poluição, apesar de a região ser considerada uma Área de Proteção Ambiental, segundo lei municipal.

“Chegar perto, me parece que já é um banho de energia. Ver aquele espelho d’água, aquela coisa linda, é uma força da natureza”, suspira. “Ela é importante não só espiritualmente, mas para gente viver na matéria. Mesmo você não tendo essa ligação [espiritual], não tem como negar a importância da água para nós”.

Essa reportagem faz parte do especial “Nas Margens da Billings“. Navegue por outras histórias e conheça as pessoas que transformam a represa em lar e fazem da preservação ambiental uma missão de vida.

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Jacqueline Maria da Silva

Repórter da Agência Mural desde 2023 e da rede Report For The World, programa desenvolvido pela The GroundTruth Project. Vencedora de prêmios de jornalismo como MOL, SEBRAE, SIP. Gosta de falar sobre temas diversos e acredita do jornalismo como ferramenta para tornar o planeta melhor.

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