Marilisa Bocardi/Divulgação
Por: Katia Flora | Gabriel Negri
Notícia
Publicado em 04.10.2024 | 8:31 | Alterado em 04.10.2024 | 8:31
Quem vive no Pós-Balsa, bairro periférico do distrito do Riacho Grande, em São Bernardo do Campo, às vezes prefere atravessar a represa Billings para ir a São Paulo do que ir para o próprio município fazer compras ou buscar serviços de saúde.
Com falta de infraestrutura, intervalos maiores nos ônibus e poucas linhas circulando em bairros como Tatetos, Capivari, Santa Cruz, Taquacetuba e Curucutu, a falta de acesso à cidade é um dos desafios, apesar de ser pouco mencionado pelos candidatos nas eleições 2024. [Veja as propostas abaixo]
A região fica entorno da represa Billings e para chegar no centro da cidade, as pessoas precisam atravessar a balsa João Basso, pegar um ônibus municipal que custa R$ 5,95 (uma das tarifas mais caras da Grande SP), descer no centro do Riacho Grande e fazer a integração. Todo esse trajeto demora cerca de 1 hora e meia para o passageiro chegar no centro de São Bernardo. Mas ainda tem a espera.
Moradora do bairro Taquacetuba há 15 anos, Marilisa Bocardi, 55, conta que, com o orçamento apertado, ela costuma fazer as compras no bairro ou atravessar para a Ilha do Bororé, na zona sul de São Paulo, para economizar.
“A gente faz a opção de ir para o Grajaú (extremo sul de SP) que a condução é mais em conta. Gasto R$ 20 e a integração dos ônibus é maior. Em São Bernardo se fosse para o Hospital de Clínicas (bairro Alvarenga) junto com minha mãe passar por consulta, gastaria em média R$ 60” diz.
Marilisa aponta ainda que a frota de ônibus na região foi reduzida no período da pandemia da Covid-19.
‘Antes, em Taquacetuba, o tempo de espera era de 40 minutos. Na pandemia, como não tinha um fluxo de moradores ficou com 1 hora e vinte de espera (horário dos fins de semana) e desde então não tivemos alteração’
Marilisa, moradora de Taquacetuba
Ela fez reclamação na época para o então secretário de transporte que ouviu as demandas, mas não houve retorno.
Ela mobilizou os moradores e fez um abaixo assinado com 300 nomes, em fevereiro deste ano, entregou na subprefeitura do Riacho Grande pedindo a redução dos horários das linhas de ônibus, porém continua aguardando resposta. “Eles ficam nesse jogo de empurra, vai para um, vai para o outro, não resolvem nada”.
Além disso, os moradores ainda enfrentam ônibus sucateados e quebrados que circulam na região e atendem cerca de mil pessoas.
“Todos os dias os ônibus quebram, não tem reposição. Os passageiros descem e continuam o trajeto a pé. Não tem nenhum fiscal quando isso acontece”, lamenta a moradora do Taquacetuba.
Além do Pós-Balsa, os desafios do transporte público em São Bernardo do Campo afetam outros bairros periféricos da cidade, como o Jardim Pinheiro, onde a região fica praticamente isolada da cidade. Bairros mais próximos do centro também enfrentam desafios.
Morador do Montanhão, o estudante Fernando Becari, 18, precisa sair de casa duas horas antes para chegar no curso, às 19h, porque o cartão Legal para estudantes funciona apenas a partir das 17h.
Ele pega as linhas 02 e 24 saindo do bairro até o centro e a 15 sentido Rudge Ramos. Como o ônibus só pode ser usado duas horas antes, às vezes chega atrasado na aula.
Além disso, o transporte público sempre apresenta problemas como sujeira no corredor e poltronas manchadas. “As condições da frota variam bastante, além de antigos, são inadequados para os passageiros”, opina o estudante.
Becari afirma que não está otimista com as promessas dos candidatos.”Nada muito prático, eles [candidatos] contam histórias. Não tenho nenhuma esperança no próximo prefeito”, lamenta o jovem.
A opinião é parecida com a de Marilisa. Ela destaca que, neste período eleitoral, os cinco prefeituráveis, não foram conversar com os moradores da região.
“As promessas são bem rasas. Eles propõem coisas fantásticas, falam de asfalto nas estradas, mas já foi proposto na gestão do outro prefeito e ainda não chegou. Onde moro no Taquacetuba a rua faz interligação com as balsas e não tem asfalto”, diz ela, esperando que o próximo prefeito eleito não esqueça do Pós-Balsa e que os munícipes sejam ouvidos.
Em nota a prefeitura de São Bernardo afirma, por meio da Secretaria de Concessões e Parcerias, que não houve redução da frota, foram feitas adequações nas linhas para a otimização do atendimento.
A pasta diz ainda que houve baixa demanda em alguns pontos do pós-balsa. Já em relação ao Montanhão o bairro é atendido por diversas linhas do sistema, tendo inclusive a frota adequada para topografia da área, com veículos novos e com maior capacidade.
Há poucos dias da eleição do dia 6 de outubro, os cinco candidatos a prefeito que disputam a vaga na prefeitura, como o Alex Manente (Cidadania), Flávia Morando (União Brasil), Luiz Fernando (PT), Marcelo Lima (Podemos) e Claudio Donizete (PSTU),sugeriram propostas enxutas para o transporte público.
Somente o candidato Luiz Fernando (PT), propôs rever a tarifa dos ônibus na cidade. No debate que participou da revista Veja.
A Agência Mural fez um levantamento com base nas propostas dos candidatos e o que pretendem fazer durante o mandato referente à mobilidade urbana.
Jornalista com experiência em jornalismo online e impresso, tem publicações em diversos veículos, como Uol, The Intercept e é ex-trainee da Folha de S. Paulo no programa para jornalistas negros. Correspondente de São Bernardo do Campo desde 2014.
Jornalista, projeto de aventureiro, aspirante a escritor e aficionado por história. Correspondente de São Bernardo do Campo desde 2023.
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