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Universitárias das periferias apontam desafios e soluções para aliviar a rotina acadêmica  

Para universitárias periféricas e pretas, políticas de permanência pensadas para facilitar a conclusão de cursos precisam se tornar mais acessíveis

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Arquivo pessoal

Por: Estela Aguiar

Notícia

Publicado em 20.02.2024 | 17:09 | Alterado em 20.02.2024 | 17:09

Tempo de leitura: 4 min(s)

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Com mais de 12,1 milhões de visualizações no TikTok, o vídeo “a vida de quem estuda na USP e mora na favela”, da estudante Luana Nascimento, 23, moradora da comunidade Pedreirinha, em Mauá, na Grande São Paulo, retrata a realidade e os desafios enfrentados por muitos jovens periféricos no universo acadêmico.

Antes de ingressar na USP (Universidade de São Paulo), Luana relata que já havia enfrentado outra experiência universitária e estava ciente dos diversos obstáculos, incluindo questões sociais, financeiras e emocionais, que poderiam dificultar sua conclusão do curso.

“Fiquei quase um ano estudando sozinha para prestar vestibular para estatística, prestei Unicamp [Universidade Estadual de Campinas] primeiro e passei. Fui morar em Campinas em 2019, iniciei o curso lá, mas não me adaptei porque demorou muito para sair meus auxílios. Passei fome e era muito ruim voltar para casa, então desisti.”

Em 2020, Luana prestou vestibular para a USP (Universidade de São Paulo) e entrou para o curso de estatística. Após o retorno, a estudante compartilhou o vídeo na rede social relatando sua realidade, com uma casa com infiltrações em risco de desabamento e as dificuldades financeiras de sua família.O desabafo atraiu a atenção de muitas pessoas.

‘Meu curso é em período integral, meus pais não podiam me enviar dinheiro, e o bandejão não era suficiente. No início, passei fome’

Luana Nascimento, estudante e moradora de Mauá

Políticas de permanência estudantil podem ser fundamentais para que alunos com o perfil de Luana concluam sua graduação. Elas abrangem um conjunto de medidas projetadas para garantir que os estudantes tenham condições adequadas para permanecerem matriculados e concluírem seus estudos. Além de contribuírem a reduzir a evasão escolar, também devem promover um ambiente propício ao aprendizado.

Entre essas políticas, estão incluídos apoios financeiros, como auxílio moradia, transporte e alimentação, suporte psicossocial para adaptação ao ambiente acadêmico, programas de tutoria e mentoria para promover a integração entre os alunos, além de políticas governamentais com investimento em políticas públicas.

Segundo dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), houve uma redução de 13% no número de estudantes inscritos em universidades federais pelo sistema de cotas em 2023. Em 2022, houve o registro de 108 mil calouros cotistas, representando uma queda de quase 20 mil em relação ao ano anterior, a maior em uma década.

Thaís Carvalho dos Santos mora em São Mateus, na zona leste, e estuda ciências sociais na USP @Arquivo pessoal

Assim como Luana, do outro lado de São Paulo, Thais Carvalho dos Santos, 23, moradora do bairro Cidade Satélite Santa Bárbara, distrito de São Mateus, na zona leste de São Paulo, percebeu o quanto o aspecto emocional pode influenciar em sua permanência na universidade, após conseguir uma vaga pelo Sisu (Sistema de Seleção Unificada) para cursar ciências sociais na USP.

“Só entendi a universidade como um lugar possível para mim, em momentos de partilha com pessoas com uma realidade parecida com a minha, seja de raça, classe, escolaridade, como coletivos e amizades. Precisei entender que, para continuar naquele espaço, eu precisava parar de considerar só a sala de aula; ela pode ser o espaço da minha formação, mas não só”, diz.

Manter os estudos em dia, com tantas leituras, foi um dos maiores desafios para Thais durante a graduação, principalmente por morar em uma ponta da capital e estudar na outra. A solução encontrada foi aproveitar o tempo de deslocamento.

‘É muito difícil ler em movimento, ainda mais quando não se dorme bem e a mente está cansada. Qualidade no trajeto é uma vida mais saudável, principalmente para mulheres pretas que são as maiores usuárias’

Thais Carvalho, estudante de São Mateus

A logística exaustiva também marca a trajetória acadêmica da estudante Thamires de Souza Neri, 24, moradora do distrito do Grajaú, na zona sul da capital paulista, e que se desloca até a Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Guarulhos, na Grande São Paulo, onde cursa ciências sociais.

“Estar lá foi um processo bem maçante, quanto pelo deslocamento e também por estar lá dentro, por questões de raça, de não me sentir representada”, diz.

Thamires observa que, em toda sua graduação, a representação de alunos negros não ultrapassa os 30%. Embora não tenha considerado desistir, ela admite sentir desânimo em “enfrentar os obstáculos até chegar na universidade”, diz.

E enfatiza a importância do apoio à saúde mental dos estudantes. “É necessário informações para que o suporte psicológico seja mais acessível”, afirma.

A estudante Thamires de Souza Neri mora no Grajaú, zona sul, e estuda na Unesp, de Guarulhos @Arquivo pessoal

Para Luana, as políticas de permanência precisam ser eficazes. “Não adianta elas existirem e não darem conta do número de alunos. A moradia, por exemplo, são 1800 moradores atualmente e é muito difícil conseguir uma vaga para morar no Crusp”, desabafa.

Em relação ao auxílio financeiro, a estudante conta que para quem mora no campus, o valor disponibilizado é de R$ 300. “Quem sobrevive com esse valor em São Paulo?”, questiona.

Para Thais, uma maneira de melhorar a permanência dos alunos é pensar em campus em outras localidades. “Levar a universidade para locais periféricos e não centrais também seria importante e interessante”, diz.

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Estela Aguiar

Jornalista. É fiel à crença de que da ponte pra cá, o jornalismo é revolucionário. Apaixonada por carnaval, filmes e séries. Correspondente do Jardim João XXIII desde 2019

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