Por: Redação
Publicado em 27.09.2017 | 15:14 | Alterado em 27.09.2017 | 15:14
Considerado o maior conjunto habitacional da América Latina, a Cidade Tiradentes, no extremo leste da capital paulista, possui cerca de 40 mil moradias, erguidas nos anos 80. Nascida como um “bairro dormitório”, infraestrutura básica só chegou com o tempo, após muita reivindicação popular. De lá para cá, muito coisa mudou: o distrito ganhou hospital, escolas, praças e parques. Três décadas depois, no entanto, os mais de 200 mil moradores reclamam da ausência de alguns serviços fundamentos à população.
Apesar de ter uma prefeitura regional própria, a população precisa recorrer à regional vizinha, Guaianases, para ter acesso à DRE (Diretoria Regional de Ensino), ao Caps (Centro de Atenção Psicossocial) Infantil e a um Serviço de Proteção Social às Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência.
“Na década de 90, a situação era muito pior. Nos últimos anos, houve mudanças”, afirma Regiany Silva, que morou durante 20 anos na região. “Hoje a gente tem até universidade no CEU (Centro Educacional Unificado) de lá”. Segundo ela, viver na Cidade Tiradentes é ter que pagar “pedágios simbólicos”.
“Viver na periferia implica pagar pedágios simbólicos todos os dias tanto para acessar serviços e oportunidades quanto para ocupar espaços de fala e representatividade. Estamos à margem territorial e simbólica da cidade”, reforça.
Além de precisar pagar pelas tarifas de ônibus, o trajeto entre as regionais costumam ser longos. O deslocamento do Terminal Cidade Tiradentes à estação de trem, de Guaianases, varia de 40 minutos até uma hora. Isso quer dizer que o morador gasta cerca de duas horas no trajeto de ida e volta. Para uma pessoa com deficiência, esse tempo pode demorar ainda mais.
Apesar das escolas locais, da creche ao ensino médio, Caique Alves, 20, reclama da falta de vagas. “Conheço pessoas que precisaram ir até a Guaianases, onde existe uma Diretoria Regional de Ensino”.
Segundo a DRE, as solicitações de vagas para da pré-escola e ensino fundamental estão zeradas. A diretoria diz que somente no caso das creches há demanda provenientes da Cidade Tiradentes, sendo que podem ser resolvidas nas próprias unidades de ensino locais. “A busca pela DRE é opcional para a família. O que pode acontecer é uma mãe não se sentir bem atendida na unidade e buscar a diretoria para reclamar, assegura a assessoria de comunicação da Diretoria de Ensino de Guaianases.
Dados de 2016 do Observatório Cidadão mostram que 15 mil crianças de zero a três anos vivem na Cidade Tiradentes, das quais pouco mais de 11 mil foram matriculadas em creches municipais. Já na pré-escola, foram matriculadas pouco mais de 7 mil (de 10 mil) de 4 a 6 anos. Cerca de 7 mil delas estiveram fora de sala de aula, no ano anterior.
Outros serviços que faltam
“As famílias com crianças que precisam de acompanhamento pelo CAPs [Centro de Atendimento Psicossocial] Infantil também precisam ir até Guaianases para serem atendidas”, denuncia a conselheira tutelar Katia Regina Santos, 43.
O 32xSP solicitou ao CAPs Infantil dados sobre a demanda oriunda da Cidade Tiradentes, mas não obteve retorno.
Já a Secretaria Municipal de Saúde informa que até o fim da gestão do governo do prefeito João Doria (PSDB) será construída uma unidade do CAPs Infantojuvenil na Cidade Tiradentes.
Mãe de uma jovem com deficiência, Gersonita Pereira, 50, reclama da ausência de políticas públicas na área. “Na Cidade Tiradentes tem muitas pessoas com deficiência. A prefeitura precisa dar atenção especial para elas. Não há espaços de lazer e pontos de reabilitação aqui”, relata ela, que também atua como conselheira da pessoa com deficiência.
Em nota, o Serviço de Proteção afirma que “a prioridade é atender [os distritos de] Lajeado e Guaianases por conta do convênio. Então chamamos os casos de Cidade Tiradentes com menor frequência. Em relação aos casos, é difícil priorizar quais são os mais urgentes, visto que são casos de violência”.
Foto principal: André Bueno/ CMSP
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