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Voto das favelas de São Paulo mostra desafio de candidatos no segundo turno

Distribuição dos votos de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, destoa do restante do distrito

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Léu Britto/Agência Mural

Por: Lucas Veloso | Paulo Talarico

Notícia

Publicado em 28.11.2020 | 10:54 | Alterado em 28.11.2020 | 11:08

Tempo de leitura: 3 min(s)

A diarista Maria Aparecida, 56, vive em Paraisópolis há mais de duas décadas. No primeiro turno da eleição para prefeito escolheu Jilmar Tatto (PT). “Conhecia ele e acredito no trabalho dele e do PT. Eles fizeram muita coisa por nós, que somos mais pobres”. 

Neste domingo (29), a intenção é ir em Guilherme Boulos (PSOL), por conta da indicação do petista. “Ele disse que eles eram irmãos. Covas não gosto porque não vi as coisas aqui onde eu moro. Está faltando muita coisa, como comida, saúde e emprego”. 

Boulos conta com os votos do petista e de outros nomes que conseguiram uma boa presença na região para tentar virar o jogo. Do outro lado, contudo, o prefeito Bruno Covas (PSDB), que tenta a reeleição, também conta com apoiadores de outros candidatos que apareceram bem por ali, como Celso Russomano (Republicanos). 

Um levantamento do Pindograma, site de jornalismo de dados, permite mapear a concentração dos votos de todos os candidatos em cada quarteirão da cidade.

O mapa indica que, embora Covas tenha sido o mais votado em todas as zonas eleitorais da cidade, há variações na distribuição de votos dentro de uma mesma zona eleitoral. 

Mapas do distrito de Vila Andrade, onde fica a favela de Paraisópolis, indicam uma dessas divisões. A favela de Paraisópolis está encravada entre o Morumbi e a região de Vila Andrade, bairro que também dá nome ao distrito. 

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Votação em primeiro turno nos distritos do Morumbi e Vila Andrade (Fonte: TSE/Pindograma) @Pindograma

Os mapas do Pindograma mostram um contraste. Apesar de ter terminado em quinto na cidade, Jilmar Tatto (PT) foi desproporcionalmente bem na comunidade. Em algumas partes de Paraisópolis, chegou a 18,2% dos votos válidos, embora não tenha passado de 8,65% na cidade como um todo.

Covas, por outro lado, chegou a ter 49,6% em partes do Morumbi, mas na comunidade teve uma votação menor, em torno de 28%. O tucano ainda ficou à frente dos adversários, mas por uma margem muito menor.

Boulos teve seus votos divididos entre a região de Paraisópolis e a Vila Andrade, com pouca presença no Morumbi. Também é possível observar a região da favela como o local em que Russomanno chegou a seu melhor resultado. 

Uma das eleitoras dele foi a autônoma Cleide dos Santos, 35. Ela disse que conhecia Celso Russomanno (Republicanos) da televisão e dos casos em que defendeu o cliente perante empresas. “Não tem medo não, vai lá, mostra a lei e obriga os lugares a fazer o que não querem. Foi assim que descobri o trabalho dele”. 

As aparições na TV motivaram o voto dela no candidato nestas eleições, mas ela afirma que, além da fama, acompanhou a atuação dele na Câmara dos Deputados. 

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Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, pertence ao distrito de Vila Andrade @Léu Britto/Agência Mural

Nas últimas semanas, Russomanno declarou apoio a Bruno Covas (PSDB), atual prefeito e candidato à reeleição, mas Cleide não concorda. “O Covas tem mais de dois anos na prefeitura e não fez nada pela gente. O trabalho dele a gente conhece, ou melhor, a gente não viu, né”. 

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Cleide diz que depois de ver algumas propagandas e ouvir a indicação dos amigos, decidiu em ir Guilherme Boulos, apesar das relações do candidato com figuras do PT. 

“Sinceramente, tenho pé atrás com o PT por várias coisas e ele é amigo deles, mas ele veio do movimento de moradia que é importante. E outra coisa, não é porque ele anda com eles que vai fazer a mesma coisa”, emenda. “Decidi apostar no domingo. Tomara que dê certo”.

Na região, contudo, o cenário que já teve a votação em partidos de esquerda como marca, hoje adota cautela. No primeiro turno, por exemplo, o líder da Associação de Moradores, Gilson Rodrigues, afirmou não apoiar nenhum dos nomes. 

Mais do que a preocupação com a eleição, ele afirmou que a falta de comida na região tem sido o principal dilema, tendo em vista a pandemia de Covid-19.

Apesar da caminhada dos políticos também não houve as tradicionais entrevistas com candidatos a prefeito, que costumava ser feita pela Rádio Comunitária. 

A abstenção por escolher um dos nomes também foi o mote de lideranças em Heliópolis, na região sudeste da cidade, e que fica no distrito do Sacomã. O bairro tem cobrado políticas públicas de urbanização e mais acesso à cultura e a Unas (associação do bairro) declinou em apoiar nomes. 

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Mapa de votação no distrito do Sacomã, onde está a favela de Heliópolis (Fonte: TSE/Pindograma) @Pindograma

Por lá, Covas foi o mais votado, porém, a quantidade de apoiadores dos demais candidatos também tiveram peso. Márcio França (PSB), por exemplo, chegou a ter mais de 18% dos votos válidos em partes da comunidade considerada a maior da capital. 

O candidato não declarou apoio no segundo turno, embora seu partido apoie Boulos. Jilmar Tatto (PT) também teve votação proporcional maior ali do que o geral em toda a cidade, ficando em alguns pontos à frente do psolista Guilherme Boulos, mesma situação de Russomanno. 

*Esta reportagem foi feita em parceria com o Pindograma 

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Lucas Veloso

Jornalista, cofundador e correspondente de Guaianases desde 2014.

Paulo Talarico

Diretor de Treinamento e Dados e cofundador, faz parte da Agência Mural desde 2011. É também formado em História pela USP, tem pós-graduação em jornalismo esportivo e curso técnico em locução para rádio e TV.

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