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10 motivos para dar o play agora em Mandume, novo clipe do Emicida

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Por Redação | 13.12.2016

Publicado em 13.12.2016 | 15:31 | Alterado em 27.02.2024 | 17:01

RESUMO

Música tem as participações especiais de Drik Barbosa, Amiri, Rico Dalasam, Muzzike e Raphão Alaafin

Tempo de leitura: 6 min(s)

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Emicida e rappers de Mandume — Foto: Reprodução

Reúna uma turma pesada de artistas em uma música de calibre, munida para acertar vários alvos de representatividade. Pow! Estamos falando de Mandume, som de Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa (2015), mais recente álbum do Emicida, que teve seu videoclipe lançado no último dia 5.

Mandando um papo reto sobre ancestralidade da população negra, desigualdade social, machismo, entre outras questões, o vídeo, de direção de Gabi Jacob, já ultrapassou 700 mil visualizações e conta com as participações especiais de Drik Barbosa, Amiri, Rico Dalasam, Muzzike e Raphão Alaafin, artistas que estão despontando na cultura Hip Hop.

A Agência Mural destaca 10 motivos para você assistir ao clipe, prestar atenção nos detalhes, e divulgar a ideia de empoderamento dos negros e periféricos.

Clipe já entrou na lista dos 10 melhores clipes de 2016 pela Miojo Indie — Foto: Reprodução

1 — A história por trás do rei

Mandume Ya Ndemufayo (1894–1917), homenageado no clipe, foi o último rei dos Cuanhamas, um povo pertencente ao grupo etnolinguístico dos ovambo (ou ambó) do sul de Angola e norte da Namíbia. Seu reinado durou de 1911 a 1917, período em que se iniciou a colonização portuguesa efetiva. Mandume opôs aos portugueses uma resistência, enfrentando ao mesmo tempo o avanço dos ocupantes alemães, mas foi vencido. Segundo a tradição oral angolana, Mandume preferiu suicidar-se ao ter que se render, porém o relato oficial é que o rei foi morto a tiros.

Em seu site oficial, Emicida declarou: “A história de ‘Mandume’ fala sobre resistir e vencer. Esses pontos são comuns na vida de muitos brasileiros e brasileiras. Todos os dias, há tempos, o que fazemos é sacudir a poeira e dar a volta por cima. (…) Estou muito feliz por cada uma das participações no projeto, cada uma das pessoas ali é um universo de criatividade e força incrível, trazendo uma homenagem à altura ao grande rei Mandume e a cada um dos que resistem dia após dia nas ruas desse mundão!”

Figurino da coleção “Yasuke”, da Lab Fantasma — Foto: Reprodução

2 — O desfile das roupas da grife do Lab Fantasma

Grande parte do elenco do clipe veste roupas da coleção “Yasuke”, da Lab Fantasma, empresa de Emicida e seu irmão Fióti, que foi destaque na última edição do São Paulo Fashion Week. O desfile, que chamou atenção com a presença de modelos negros, gordos, tradicionalmente fora dos padrões do evento, provocou um alvoroço no mundo da moda.

Regiany Silva e Semayat Oliveira, do coletivo Nós, mulheres da periferia — Foto: Reprodução

3 — A participação de pessoas de movimentos e coletivos

Se você já frequentou eventos ligados à periferia certamente vai reconhecer os figurantes que aparecem no clipe. Você verá entre outras participações a galera de coletivos como o Nós, mulheres da periferia, escritores como Elizandra Souza, Cocão, Akins Kinte, Mel Duarte, dentre outros. Conheça todos eles aqui.

“Mandume tem significado para o Nós, mulheres da periferia porque além de ser enredo e história é trilha nos nossos caminhos e já nos acompanhou no som do carro e do fone, altão. A gente se identifica, a gente se energiza, a gente coloca o queixo na direção do horizonte. Que honra estar aí ao lado da parceira Regiany Silva e no mesmo bonde de pessoas que são inspiração pra mim”, relatou Semayat Oliveira, cofundadora do coletivo Nós, mulheres da periferia.

Uma das cenas do protagonismo feminino no embate contra o machismo — Foto: Reprodução

4 — O nocaute feminista de Drik Barbosa

Essa parte do clipe detona uma poesia empoderada e aborda situações enfrentadas no dia a dia da luta contra o machismo e a violência contra a mulher, como nesses trechos da rapper Drik Barbosa:

Tempo das mulher fruta, eu vim menina veneno(!!!)

Sistema é faia, gasta, arrasta Cláudia que não raia. (cita Claudia, morta e arrastada por uma viatura policial no RJ). Basta de Globeleza, firmeza? Mó faia!”

Fotos de artistas negros são sobrepostas em banca de jornal — Foto: Reprodução

5- Na banca padronizada, homenagem aos artistas negros

Em uma das cenas emocionantes, um casal de jovens negros para diante de uma banca de jornal lotadas com capas de revistas com fotos de modelos e assuntos padrões. As fotos são trocadas por artistas negros como Elza Soares, Ellen Oléria, KL Jay, Rappin Hood, entre outros, nos convidando a perceber como não há representação da população negra na mídia.

Cena relembra a campanha do Movimento Negro Unificado (MNU) — Foto: Reprodução

6 — Beije sua preta

O que parece só uma cena romântica pode ter muito mais significado. O casal se beijando pode ser uma referência à campanha de 1991 do Movimento Negro Unificado (MNU) que divulgou uma imagem com o poema de Lande Onawale — “Reaja à violência racial: beije sua preta em praça pública”. Segundo o poeta, o verso foi concebido como ato de resistência diante de uma sociedade racista que “diz a todo tempo que não somos capazes e merecedores desse amor mútuo — de nenhum amor, na verdade”.

Representatividade LGBT em cena de aceitação e diversidade — Foto: Reprodução

7 — A lacração da drag queen negra

A resistência LGBT vem no trecho rimado por Rico Dalasam, o primeiro rapper negro assumidamente gay do Brasil representando o movimento “Queer Rap”. Na cena, um artista negro se monta como mulher reflexivo, como se fosse enfrentar a guerra rimada por Dalasam, mas ao descer para uma festa é convidada com gesto de acolhimento pelos demais e cai na balada celebrando a diversidade.

“Pior que eu já morri tantas antes de você me encher de bala/Não marca, nossa alma sorri/Briga é resistir nesse campo de fardas”

Trecho com referência à intolerância religiosa — Foto: Reprodução

8 — A luta das religiões de matrizes africanas contra a intolerância religiosa

A intolerância religiosa não podia ficar de fora da história. O batuque que dá ritmo aos versos do rapper Raphão Alaafin saúda entidades de religiões de matrizes africanas. Enquanto a letra trata das adversidades, o clipe encena o ritual de duas jovens negras interrompido por um senhor com a Bíblia na mão. Mas a situação se reverte e a crítica se concretiza no verso “O coração diz que não está errado, então siga!”

Emicida e seus versos certeiros com referências históricas — Foto: Reprodução

9 — As referências da letra da música

Do pop ao cult, desde X-Men, Xuxa, a Kunta Kinte, Fela Cuti, Ron Mueck, Scorcese, Emicida enche a letra de referências que são uma viagem na história e na cultura, mas claro com posicionamento, como ele afirma nesse trecho:

“Como prever que freestyles, vários necessários vão me dar a coleção de Miley Cyrus/Misturei Marley, Cairo, Harley, Pairo, firmeza/Tipo Mario, entrei pelo cano mas levei as princesa”

Refrão marca a importância de se empoderar da sua história — Foto: Reprodução

10 — Refrão poderoso

E não dá pra falar da letra sem gravar o refrão que gruda na mente, com uma mensagem que contempla a submissão histórica e a volta por cima que precisa ser dada.

“Eles querem que alguém que vem de onde nóis vem/ Seja mais humilde, baixa a cabeça/ Nunca revide, finja que esqueceu a coisa toda/ Eu quero é que eles se *@$#”

Os escritores Cocão, Elizandra Souza, Mel Duarte e Akins Kinte — Foto: Reprodução

E ainda não acabou, trabalhamos com bônus: o poema de Mel Duarte pra fechar

Para encerrar com chave de ouro, após o clipe, os créditos sobem com um daqueles poemas bombásticos da poeta Mel Duarte. Em entrevista ao site Redbull, ela conta que, quando foi chamada para fazer os versos, procurou saber mais sobre o Mandume. “(…) a música já é uma aula de história, mas quando você para pra pesquisar consegue entender outras várias coisas ali citadas que a partir do momento que você não tem referência não faz a ligação, foi bacana fazer estudo pra entender melhor a história!”, disse. Veja a entrevista aqui.

O poema de Mel Duarte:

“É mais do que fazer barulho e vir retomar o que é nosso por direito/ Por eles continuávamos mudos, quem dirá fazendo história, ter livro feito/ Entenda que descendemos de África e temos como legado ressaltar a diáspora de um povo oprimido/ Queremos mais do que reparação histórica, ver os nossos em evidência/ E isso não é um pedido/ Chega de tanta didática, a vida é muito vasta pra gastar o nosso tempo ensinando o que já deviam ter aprendido/ Porque mais do que um beat pesado é fazer ecoar em sua mente o legado de Mandume/ E no que depender da minha geração, parça, não mais passarão impunes”

Assista ao clipe oficial:

Por Cleber Arruda e Lívia Lima da Silva, correspondentes da Brasilândia e Arthur Alvim

Emails: [email protected] e [email protected]

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