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Rolê

MC Gatinha incentiva inclusão, menos celular e mais leitura com ritmo e poesia

Moradora da zona norte de SP, Wendy tem 9 anos e cria rimas que pedem inclusão

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Nathalia Ract da Silva/Agência Mural

Por: Nathália Ract da Silva

Notícia

Publicado em 12.10.2024 | 8:56 | Alterado em 11.10.2024 | 21:14

Tempo de leitura: 3 min(s)

Com apenas 9 anos, Wendy Queiroz tem tem uma rotina parecida com a maioria das crianças: vai à escola diariamente para estudar, gosta de brincar e passear. Mas foi também no colégio onde ela começou a rimar, cantar e se tornou a MC Gatinha. Hoje, a menina também já participa de uma série da Netflix e esteve no Criança Esperança, da TV Globo. 

Moradora da Vila Isolina Mazzei, bairro da zona norte de São Paulo, Wendy tem contato com a música desde os 5 anos, quando começava a cantar músicas da artista preferida, a cantora de sertanejo Marília Mendonça.

Mas foi com o rap, apresentado pela mãe, Jaine Queiroz, 27, que a MC encontrou a vocação. Jane vendia brownies na rua, e participava de batalhas de rima. Inspirada na mãe e em batalhas na escola, Wendy passou a criar novos versos, ritmos e rimas às experiências do dia a dia. 

Wendy no parque. Criança tem feito músicas e se apresentado pelo estado @Nathalia Ract da Silva/Agência Mural

Com um microfone na mão e um laço enfeitando os cabelos, Mc Gatinha já realizou shows em São Paulo e em São Sebastião, Rio de Janeiro, Florianópolis e Ilhabela. 

“As pessoas, eram muitas crianças, já estavam na porta esperando e gritando por mim: “Mc Gatinha! Mc Gatinha! E eu quase surtei, porque muitas pessoas estendiam a mão para me tocar no palco enquanto eu cantava. Esse dia foi muito legal”, relembra sobre um dia em que se apresentou em uma escola.

Em entrevista para a Agência Mural, Wendy conta que o rap permitiu que ela estabelecesse uma identificação com outros compositores e cantores que apreciam o gênero musical. A partir de cada nova troca ela vai aprendendo e treinando técnicas de improvisação.

Quem acompanha as batalhas de rima sabe da importância como um meio de comunicação e afirmação pessoal, mas a escola em que Wendy estudava chegou a impedir que as batalhas acontecessem, além de não incentivar nenhum projeto relacionado a música.

Um dia, quando estava na escola estadual Deputado Pedro Costa, brincando com uma amiga no horário do almoço, viu uma batalha de rima e correu em direção aos estudantes que estavam improvisando versos. 

“O pessoal estava bastante animado, e um dos alunos representantes levantou as mãos para o alto e exclamou: “Quem quer rimar?”, e ela respondeu: “Eu quero! Eu quero rimar”, Isso foi tudo, “Aí eu rimei e eles gritaram: Uouuuu!” 

MC Gatinha faz rimas pela inclusão @Nathalia Ract da Silva/Agência Mural

Dali em diante, Wendy sabia que queria participar mais vezes das batalhas de rimas e decidiu organizar outras. 

“Nós organizamos um cantinho só para isso. As pessoas se aproximavam para olhar e formavam uma roda gigante. Teve um dia que eles quase quebraram o meu ouvido de tanto “Uouu! Uouu!“. 

Orgulhosa, ela conta que já venceu até de jovens do 5º ano. “Posso até vencer de um adulto, só precisa saber rimar direito!” 

Tô de saco cheio

Jaine ouviu falar da batalha de rima assim que Wendy chegou da escola e começou a contar a novidade. É costume da mãe conversar depois que ela chega da escola para acompanhar a rotina da filha. Wendy conta que antes de subir no palco, a mãe sempre fala uma palavra positiva: “Você consegue, é só acreditar que tudo vai acontecer!”

Mc Gatinha canta sobre a inclusão de pessoas com deficiência auditiva na música, inclusive tentando usar libras (Lingua Brasileira de Sinais). “Tô de saco cheio”.

“Tô de saco cheio, de não ver a inclusão com os surdos no recreio” 

A MC começou a se interessar por Libras após conhecer uma pessoa com surdez. Hoje, ela tem estudado para ampliar o vocabulário pela língua de sinais.

Outra música traz o incentivo a leitura em Pocolê

‘Pros de dentro aos de fora, aqui é o funk nova escola, incentivo a leitura rima 24 horas!’

“O celular coloca muito a criança no mundo da internet. E a internet estraga, o que é bom? ler um livrinho, pintar, brincar… Mexer no celular é legal, até eu fico no celular de vez em quando, mas as crianças também precisam saber que tem outras coisas no mundo pra fazer”, afirma a menina.  

Caderno com anotações da gravação da série da Netflix @Nathalia Ract da Silva/Agência Mural

Netflix – Os 04 da Candelária

Além dos palcos, Wendy participou do elenco da nova série ficcional da Netflix “Os quatro da candelária” interpretando a Pipoca, a criança mais nova entre os irmãos Andrei Marques (Jesus, irmão do meio), Samuel Silva (Douglas, irmão do meio) e Patrick Congo (Sete, irmão mais velho).

A história é baseada nos depoimentos dos sobreviventes da Chacina da Candelária, que aconteceu na cidade do Rio de Janeiro nos anos 1990. A série é do criador e diretor Luis Lomenha e chega em breve ao streaming.

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Nathália Ract da Silva

Historiadora e Fotojornalista. Realizadora do documentário curta-metragem "Chile de olhos bem abertos". É contadora de histórias na biblioteca da Fábrica de Cultura do Jaçanã. Correspondente do Jaçanã desde 2023.

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