APOIE A AGÊNCIA MURAL

Colabore com o nosso jornalismo independente feito pelas e para as periferias.

OU

MANDE UM PIX qrcode

Escaneie o qr code ou use a Chave pix:

[email protected]

Agência de Jornalismo das periferias
No Corre

Ferro-velho do Grajaú completa 20 anos de renda e reciclagem

Nascido em uma família de empreendedores, Silas Procópio Mendes criou o ferro-velho mais longínquo do bairro do Cantinho do Céu

Silas Procópio Mendes atua no ramo da sucata há 20 anos no Grajaú

Isabela Alves/Agência Mural

Por: Isabela Alves

Notícia

Publicado em 08.07.2025 | 18:46 | Alterado em 08.07.2025 | 18:46

Tempo de leitura: 4 min(s)

Silas Procópio Mendes, 50, atua no ramo da sucata há 20 anos no Grajaú, periferia da zona sul de São Paulo. “A gente é feito formiguinha”, compara sobre a ação dele no território. “Pegamos da rua, ajudamos o meio ambiente sendo um centro de coleta e encaminhamos para uma siderúrgica que possa reutilizar o material”, diz. 

Dono do ferro-velho mais longínquo do bairro Cantinho do Céu, Silas chegou com a família à região em 1986, quando o local era apenas uma trilha de terra. O pai, Amantino Procópio Mendes, foi dono da primeira loja de material de construção da região e ajudou muitos moradores a ergueremas primeiras casas.

“Você não tem dinheiro? A gente vai levar seu material e depois a gente vê”, dizia o pai para os clientes. “A gente aprendeu muito com isso”, relembra emocionado.

Todos os dias, mais de 40 pessoas passam no empreendimento para vender ou comprar produtos recicláveis @Isabela Alves/Agência Mural

Silas utilizou parte do terreno onde o pai teve o comércio para criar o próprio negócio. Para ele, empreender é uma herança de família.

“Sou um comerciante nato. Vem de sangue mesmo. Meu avô era comerciante, meu pai também e meus filhos obviamente serão comerciantes no futuro. Isso só vai nos agregando”, afirma.

O empreendedor trabalhou durante 7 anos na área da dedetização de insetos e, após a proposta de um amigo também chamado Silas, decidiu embarcar no ramo da sucata.

“Parece até um carma, porque eu fazia uma coisa totalmente diferente e fui na contramão. Dedetizar é um bem necessário, porque você controla os insetos. Mas e o produto que você joga no solo, que depois para no esgoto e polui? Agora estou ajudando a recuperar algumas coisas”, reflete.

Garrafas pets são enviadas amassadas para as grandes empresas fazerem a reciclagem @Isabela Alves/Agência Mural

De segunda a sábado, ele abre o portão de ferro das 7h e atende até as 17h. O local chega a receber cerca de 40 pessoas por dia: os catadores, mas também o público geral, como aposentados que querem completar o salário do mês ou pessoas que juntam o lixo dentro de casa.

Quando há alta demanda, o próprio Silas vai de carro até a casa da pessoa para fazer a retirada.

Indústria da reciclagem

Cada produto tem seu valor no quilo. O negócio recebe principalmente papelão, ferro e plástico, sendo que o preço pode variar de R$ 0,50 até R$1, dependendo do tipo de material. O alumínio, por exemplo, por ser considerado mais fino e qualificado, é o que tem o maior preço.

Depois de recolher, empresas levam os recicláveis para as siderúrgicas e usinas, que vão dar nova vida útil ao material. A venda do ferro velho para as grandes empresas também é feita na base do quilo.

A família de Silas foi uma das primeiras a empreender no bairro do Cantinho do Céu, na década de 80
O quilo dos recicláveis pode custar entre R$ 0,50 e R$ 1
Atualmente, o ferro-velho conta com dois funcionários em sua equipe, mas Silas gostaria de expandir o negócio
Alumínio e latão são exemplos de materiais mais nobres que custam mais caro
O gato Nino faz companhia no dia-a-dia do trabalho
Ferro-velho chega a recolher mais de 30 toneladas de recicláveis ao mês

A família de Silas foi uma das primeiras a empreender no bairro do Cantinho do Céu, na década de 80

O quilo dos recicláveis pode custar entre R$ 0,50 e R$ 1 @Isabela Alves/Agência Mural

Atualmente, o ferro-velho conta com dois funcionários em sua equipe, mas Silas gostaria de expandir o negócio @Isabela Alves/Agência Mural

Alumínio e latão são exemplos de materiais mais nobres que custam mais caro @Isabela Alves/Agência Mural

O gato Nino faz companhia no dia-a-dia do trabalho @Isabela Alves/Agência Mural

Ferro-velho chega a recolher mais de 30 toneladas de recicláveis ao mês

“Compro o material das pessoas, não vivo de doação. Pago por aquilo que as pessoas me trazem, processo o material para ter o retorno. Ao ser processado, o material vira outra moeda e assim eu tenho o meu retorno financeiro”, explica.

Para o empreendedor, o diferencial é que ele paga para poder trabalhar e depois ter lucro. No processo de separação, Silas distingue a qualidade do reciclável, realiza o processo de trituração com uma máquina e deixa o material no ponto de passar para as empresas produzirem novas peças, o que agrega valor ao produto.

Ao longo do mês, Silas chega a receber cerca de 20 toneladas de ferro e 10 toneladas de plástico. Duas pessoas trabalham com ele.

‘Gero emprego aqui e gostaria de gerar muito mais, mas não temos apoio. Eu acho que isso aqui é uma das coisas que o governo devia ter olhos’

Silas Procópio Mendes

O Brasil recicla apenas 4% do seu lixo, de acordo com o levantamento da Abrema (Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente) a partir de dados do SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento) de 2023.

Segundo dados da Prefeitura de São Paulo, das 20 mil toneladas de lixo produzidas diariamente em São Paulo, 40% do material é reciclável, mas somente 7% dos insumos com potencial para reciclagem são, de fato, reaproveitados.

Um dos momentos que marcaram a vida do empreendedor aconteceu em 2020, quando o ferro-velho pegou fogo devido a uma fagulha de ferro que se desprendeu e formou uma chama que queimou todos os materiais.

Os vizinhos, comovidos com a situação, queriam fazer doações em dinheiro para que Silas pudesse reerguer o negócio, mas ele preferiu continuar a comprar os materiais. “Você não vai parar não. Mete marcha aí”, disseram os amigos para animá-lo.

“Aqui a gente cuida das pessoas, porque muitos tiram o dinheiro do café da manhã trazendo materiais aqui, e também auxiliamos o meio ambiente, tirando o lixo das ruas. Isso é o que mais me deixa entusiasmado com essa área”, conclui.

receba o melhor da mural no seu e-mail

Isabela Alves

Jornalista e cineasta da quebrada. Pós-graduanda em Mídia, Informação e Cultura e em Gestão de Projetos Culturais pelo CELACC/USP. Fundadora da Parasita Filmes, produtora independente dedicada a contar histórias do extremo sul de São Paulo.

Republique

A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.

Se você quer saber como republicar nosso conteúdo, seja ele texto, foto, arte, vídeo, áudio, no seu meio, escreva pra gente.

Envie uma mensagem para [email protected]

Reportar erro

Quer informar a nossa redação sobre algum erro nesta matéria? Preencha o formulário abaixo.

PUBLICIDADE