Participante da segunda temporada do programa Drag Race Brasil traz referências periféricas para competição internacional
Cristiane Costa
Por: Cleber Arruda
Notícia
Publicado em 06.08.2025 | 19:15 | Alterado em 06.08.2025 | 19:15
Na passarela do programa RuPaul’s Drag Race Brasil, considerada a maior competição de drag queens mundial, a piritubana Bhelchi estreou com um look para atropelar a concorrência: um vestido de couro com o letreiro “Term. Pirituba” e as cores do ônibus que circula na zona noroeste de São Paulo.
“Só quem é de bairro, e andou muito de ônibus, sabe como é sonhar vivendo os perrengues da nossa cidade”, declarou nas redes sociais ao comentar a escolha do figurino.
Bhelchi é vivida por Jonathan Freitas, 37, professor de ballet, jazz, coreógrafo e designer de moda. Ela disputa o título de Drag Superstar com outras nove artistas de todas as partes do país, na segunda temporada da versão brasileira da franquia, que estreou no último dia 10 de julho.
Artista está no elenco da segunda temporada do programa com outras nove rainhas brasileiras @Divulgação/Wow Presente Plus
A confirmação da participação no Drag Race Brasil foi turbinada de emoções. “Foi uma mistura de sentimentos. Ao mesmo tempo, fui tomada pela imensa alegria de realizar um sonho”, conta. “Nós, da periferia, crescemos com limitações, inclusive de como lidar com situações boas.”
‘Algo tão grandioso como essa oportunidade não é comum em nosso cotidiano. Então, além de trabalhar muito, tive que trabalhar meu psicológico’
Bhelchi, participante do RuPaul’s Drag Race Brasil
A artista relembra que iniciou a carreira durante a pandemia de Covid-19, quando participou de um curso on-line de maquiagem drag. “Mesmo participando de concursos on-line, o alcance era muito limitado por conta do isolamento social”.
Para ela, as vivências nas periferias influenciaram a passagem dela pelo programa. “Comecei a dançar em uma escola de bairro, mas consegui passar pelas melhores escolas de São Paulo. Tive bolsa fora do país. Comecei a costurar porque não tinha dinheiro para comprar figurinos. Hoje, sou formado em design de moda”.
Na competição, as participantes encaram desafios de comédia, atuação, improviso, dança, canto e moda. As duas rainhas que tiverem o pior desempenho no episódio duelam em uma batalha de lip sync , que elimina a perdedora.
A campeã do programa leva para a casa o prêmio de R$ 150 mil, um ano grátis de produtos de maquiagem da marca Anastasia Beverly Hills, uma coroa e um cetro da marca Amped Accessories.
Look com referências ao Terminal Pirituba usado no primeiro desfile da temporada. A categoria era "Tempero Brasileiro" @Cristiane Costa
"Se tem uma coisa que a gente aprende é ir lá e fazer, chutar a porta, porque além de não ser fácil, ninguém vai fazer pela gente” @Diego Feroni
"Ainda existe muito preconceito. Faltam informações, investimento em cultura, e isso impacta diretamente nossa arte, no sentido de respeito, apoio, acessos e oportunidades" @Adelino Evan
Artista leva experiências na dança e na moda para competição @Diego Feroni
O reality é apresentado por Grag Queen, drag que ganhou a competição internacional Queen of the Universe, com apoio dos jurados fixos: o estilista Dudu Bertholini e a humorista Bruna Braga, além de convidados especiais a cada episódio. Os capítulos são lançados semanalmente às quintas-feiras, na plataforma Wow Present Plus.
As outras rainhas no páreo nesta edição são: Adora Black (Cidade Ocidental, GO), Chanel (Niterói, RJ), Desirée Beck (Irecê, BA), Melina Blley (Sapé, PB), Mellody Queen (Belo Horizonte, MG), Mercedez Vulcão (Vinhedo, SP), Paola Hoffmann Van Cartier (Vila Velha, ES), Poseidon Drag (Recife, PE) e Ruby Nox (Carnaíba, PE).
A presença de Bhelchi no reality tem sido celebrada na vizinhança. “Tem sido um presente tão lindo. Cada mensagem de carinho que tenho recebido, as pessoas dizendo que estão felizes por ter alguém do bairro no programa. Essa é a maior vitória!”
‘Encorajar as pessoas, mostrar que a gente pode e deve sonhar, ainda que seja difícil ou pareça distante. A educação e a arte transformam tudo’
Bhelchi
Para a rainha piritubana, a cena drag nas periferias de São Paulo está em crescimento. “Fico muito feliz quando vejo algum evento, ou simplesmente cruzo com alguma mana no trem”, comenta. “Temos de nos deslocar para trabalhar, mas aos poucos, sinto que estamos conseguindo propagar nossa arte.”
Cofundador, correspondente da Brasilândia desde 2010 e colabora na edição de projetos especiais. É jornalista do Valor Econômico e voluntário do projeto Animais da Aldeia. Canceriano, gosta de cachorros e de viajar por aí.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
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