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Agricultores das periferias tentam romper a ideia de que alimento orgânico é caro

“Todo mundo merece comer alimento sem veneno. Só porque está na zona leste, periferia, tem que comer o que é posto?”

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Por: Redação

Publicado em 13.01.2017 | 13:26 | Alterado em 13.01.2017 | 13:26

Tempo de leitura: 3 min(s)
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Agricultura orgânica nas periferias de São Paulo (Priscila Pacheco/32xSP)

“Todo mundo merece comer alimento sem veneno. Só porque está na zona leste, periferia, tem que comer o que é posto?”, diz o permacultor Marcus Vinicius de Moraes, 32, quando o assunto é o consumo de produtos cultivados sem agrotóxico nas periferias de São Paulo.

Morador do Itaim Paulista, Moraes faz parte do Quebrada Sustentável, projeto ambiental socioeducativo, e realiza atividades que propagam a segurança alimentar, direito ao acesso permanente a alimentos de qualidade.

A sede do Quebrada Sustentável, em São Miguel Paulista, abriga uma das hortas que integra a Associação dos Agricultores da zona leste e vende vegetais a um preço acessível para a população local.

“A gente está mostrando que é possível produzir alimento no mesmo preço que o tradicional que é vendido no mercado, mas com qualidade, sem veneno”, completa.

A fama de caro, propagado pelas redes de supermercados, pode ser um dos empecilhos que afastam a população do consumo de orgânicos.

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Alimentos recém-colhidos para as cestas entregues na Ilha do Bororé, Grajaú (Priscila Pacheco/32xSP)

“A primeira impressão é sempre a que fica. Você busca por um produto orgânico, vê que é caro e não faz uma pesquisa de preços em outros lugares. Passa batido”, afirma a agricultora Maria José Kunikawa, 61, conhecida como Tomi.

A agricultora vive em um sítio na Ilha do Bororé, bairro do distrito Grajaú, zona sul. Lá produz orgânicos que são vendidos para feiras e estabelecimentos localizados, principalmente, no eixo oeste da capital paulista.

Há poucos meses, junto com outros agricultores da zona sul, ela passou a se dedicar mais à venda na própria periferia. Assim, nasceu o Grupo de Consumo responsável Grajaú, Parelheiros e Capela do Socorro. O intuito é que o ato ganhe mais força no decorrer de 2017.

“A ideia é que a gente tenha consolidado um grupo de pessoas do bairro, de famílias que se reúnam e entendam que o que é feito não é uma comercialização pura e simples. É um novo modelo de relações de consumo que garante a segurança alimentar, o acompanhamento da produção, e preços mais justos”, explica o permacultor Jaison Lara, 24, que vive na Ilha do Bororé e é um dos articuladores da ação.

Na região, os consumidores fazem a encomenda por e-mail até a noite de sábado e retiram a cesta no dia seguinte na Casa Ecoativa, centro eco-cultural da Ilha do Bororé. A colheita é realizada na manhã de domingo.

Além de verduras como alface, rúcula, espinafre, rabanete, PANCs (Plantas Comestíveis não Convencionais) e temperos, são vendidos café orgânico, banana nanica verde, pão caseiro integral, ovo caipira e geleia caseira.

Uma das pessoas que encomenda as cestas é a nutricionista Lenita Borba, 41, que também mora na Ilha do Bororé. “Dou preferência para os produtos orgânicos justamente por serem da região. Prefiro pegar esses produtos que são isentos de qualquer produto químico”. Antes da venda das cestas, a nutricionista costumava frequentar a feira comum.

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Feira Sem Veneno na sede do Quebrada Sustentável (Priscila Pacheco/32xSP)

Na zona leste, os agricultores também começaram a criar grupos de consumo responsável para a entrega de cestas. Outra atividade recente é a comercialização para fora das periferias. Diferente da zona sul, os agricultores da região começaram produzindo para o público local, seja na feira ou direto na própria horta.

“Muitas pessoas vão à horta todos os dias. A gente tem até uma agricultora que fala que a horta é a geladeira das pessoas. A maior parte da nossa produção a gente vende lá”, comenta Andreia Lopes, 35, bióloga e responsável pela área de logística e comercialização da Associação de Agricultores da Zona Leste.

A enfermeira Aline Silva, 35, por exemplo, vive em Itaquera e vai até São Mateus comprar direto de uma horta da Associação desde o início de 2016. Ela também frequenta uma feira em São Miguel Paulista e resolveu consumir orgânicos por causa da saúde. “Por não ter os agrotóxicos, por ser mais natural, mais saudável, mais fresco”, explica.

As cestas com sete itens custam em média 30 reais. Já nas feiras da zona leste é possível encontrar hortaliças por dois e três reais cada maço.

Enquanto na zona sul a plantação é feita predominantemente em sítios, na zona leste as hortas ocupam terrenos ociosos de empresas, como a Eletropaulo e a Sabesp. Para Adriana Vieira, 33, responsável pela organização de eventos da Associação, o apoio delas aos agricultores é um desejo.

AVALIAÇÃO DOS PAULISTANOS

A pesquisa IRBEM 2016 (Indicadores de Bem Estar no Município), realizada pela Rede Nossa São Paulo e pelo Ibope, aponta que a nota dos habitantes de São Paulo na satisfação geral de qualidade de vida no tópico “cuidados que tem com a sua alimentação” foi 5,8 em 2015. Maior que em 2014, que apontou 5,7. Porém, menor que nos anos 2013 e 2009, que registraram respectivamente, notas 6,3 e 6,4 de satisfação.

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