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32xSP

Alto da Boa Vista convive com drama de enchentes há mais de 40 anos

Sistema de drenagem não comporta as grandes chuvas na região; inundações são inevitáveis em quatro quarteirões do bairro

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Por: Redação

Publicado em 20.07.2017 | 15:26 | Alterado em 20.07.2017 | 15:26

Tempo de leitura: 4 min(s)

Moradores do bairro Alto da Boa Vista, no distrito de Santo Amaro, zona sul de São Paulo, vêm enfrentando diversos problemas com a prefeitura municipal. O motivo é a busca por soluções para conter as enchentes que, a cada chuva, se agravam devido à inadequação das galerias na região. O resultado disso são os estragos e os transtornos aos moradores.

Os quarteirões das ruas Comendador Elias Zarzur, Ministro Roberto Cardoso Alves, e Conde D’Eu, entre a Irineu Marinho e a Nove de Julho; e a rua Nove de Julho (entre as ruas Comendador Elias Zarzur e Ministro Roberto Cardoso Alves) são as mais atingidas pelas inundações.

“Vivemos em um bairro antigo de Santo Amaro e ele evoluiu com a chegada de novas casas e apartamentos, mas o sistema de drenagem existente não comporta mais as grandes chuvas de hoje e as inundações são inevitáveis” ressalta a moradora Renate Nogueira.

“O problema das enchentes nesses quatro quarteirões não é de hoje. Há mais de 40 anos que os moradores estão sofrendo com isso. Para se ter uma ideia, atualmente são cerca de 100 imóveis afetados que perdem seu valor de compra a cada ano, sem falar de um terreno da prefeitura com 2.400 m², na rua Ministro Cardoso Alves, que está abandonado e, quando chove, traz ainda mais lixo para nossas casas”, acrescenta Renate.

O PROJETO

Em 2005, foi realizado pela Prefeitura de São Paulo um projeto no sistema de drenagem do bairro, que consistia em melhorar as margens do Córrego do Judas, que passa por toda essa região de Santo Amaro.

Com isso, a água desceria com menor força pelo córrego que passa próximo ao parque Severo Gomes, na Granja Julieta, para cair direto no Rio Pinheiros e evitar novas enchentes.

Porém houve resistência por parte de Eduardo Jorge, então secretário do Verde e Meio Ambiente, e dos moradores da Granja Julieta e Vila Japonesa. Eles alegaram que a obra transformaria o parque em um grande piscinão.

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Vista de cima da casa do Dr Brás (Crédito: Arquivo Pessoal)

“Qualquer obra que fosse realizada naquela área iria tirar toda a beleza que o parque possui, ou seja, os motivos não condiziam em nada com a realidade do projeto”, completa Cristina Antunes, diretora da Sajape (Associação de moradores dos Jardins Petrópolis e dos Estados).

Dessa forma, a Secretaria Municipal de Obras e Serviços sugeriu para os integrantes da Sociedade Amigos do Alto da Boa Vista (SABABV) que fosse construído grandes tubos embaixo da área afetada para atrasar o fluxo da água, e assim evitar mais enchentes no bairro.

“Desde o fim do ano passado, nós da SABABV junto com engenheiros especialistas neste assunto, estamos trabalhando em cima desse novo projeto, levantando todos os dados e custos para entregar para a secretaria e ver se desta vez conseguimos que a obra seja executada de fato”, diz Renate.

“Não aguentamos mais. A cada gestão nova é a mesma história. A associação de moradores vai à prefeitura explicar para o novo secretário de obras todos os problemas do bairro na esperança de serem resolvidos e nada acontece. Saímos de lá sempre com a mesma desculpa: a de que eles [Prefeitura] não possuem verba para executar a obra”, diz Cristina.

A reportagem do 32xSP questionou a Secretaria Municipal de Obras e Serviços sobre a falta de verba para a execução da obra de drenagem no bairro Alto da Boa Vista, mas não obteve retorno até o fechamento da matéria.

TRANSTORNOS E PREJUÍZOS

Enquanto o problema com as enchentes não é resolvido, os únicos prejudicados são os moradores, que a cada ano precisam se reinventar para minimizar os prejuízos em suas residências. É o caso do advogado Sebastião Brás, 72, que já teve inúmeros prejuízos e que, inclusive, aguarda receber da prefeitura precatórios de uma ação por danos morais e materiais movidos por ele em 1982, quando a água da chuva entrou na garagem da sua casa e danificou por completo o seu carro.

“É um sentimento de tristeza e de revolta ter de enfrentar todos esses problemas. Hoje possuo comportas instaladas no jardim que seguram bem o fluxo da água, mas tem vezes que vem uma chuva tão forte que acho que ela vai entrar pela janela da sala”, conta Brás.

Moradora do bairro há mais de 50 anos, Mônica Feddersen, 61, que já teve alguns eletrodomésticos queimados quando caiu uma árvore sobre o poste da rua em que mora, diz que a cada ano que passa os prejuízos só aumentam. Você liga para a prefeitura e só perde o seu tempo, pois sempre pedem para entrar com recursos e isso leva anos. No final das contas, é o morador que sai perdendo sempre!”

“Houve uma vez que a força da água foi tanta que quebrou o portão de casa. Foi um susto muito grande ao ver o portão aberto, pois achei que, além da enchente, alguém havia invadido minha casa”, acrescenta o jornalista Eric Ulbrich, 25, filho de Mônica.

Para o engenheiro agrônomo Gustavo OuKawa, 35, ações como a volta das lixeiras nas ruas e a aplicação de multas por descarte irregular de lixos residenciais deveriam ser tomadas para evitar mais enchentes, uma vez que a rede de drenagem e captação de esgoto do Alto da Boa Vista já é antiga e não comporta mais o volume de lixo gerado por todos os moradores do bairro.

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PESQUISA

De acordo com a pesquisa do IRBEM (Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município), publicada no início deste ano, os paulistanos avaliam muito mal a manutenção de bueiros, galerias e o controle de enchentes.

Na região sul 1, onde está localizado o distrito de Santo Amaro, que faz parte da prefeitura regional homônima, a nota média foi de 4,1 – uma das mais altas se comparada com outras regiões da cidade. A sul 2, por exemplo, obteve 3,3 – a nota mais baixa de toda a cidade.

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