Comemoração terá show em 1º de novembro, às 11h, no Pátio Metrô São Bento, no centro de São Paulo
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Por: Isabela Alves
Notícia
Publicado em 01.11.2025 | 7:52 | Alterado em 01.11.2025 | 12:09
“Esse álbum é para as pessoas, mas também para mim. São coisas que eu gostaria de ter ouvido na juventude. É um registro para quem busca se encontrar”, afirma o multiartista RAVIH, 28, sobre “O Próprio”, seu primeiro disco, que ganha um show de celebração de um ano neste sábado (1º de novembro), às 11h, no Pátio Metrô São Bento, no centro de São Paulo.
Músico, cineasta e comunicador, RAVIH é morador de Parelheiros, no extremo sul da capital. As músicas e videoclipes dele estão disponíveis em todas as plataformas, incluindo Spotify, Deezer, Apple Music, Amazon Music, YouTube Music, Tidal e Pandora.
O nome artístico, escrito em letras maiúsculas, representa a ideia de “urgência e grito” de quem precisa se fazer ouvir constantemente para ser notado e validado pelo mercado da música: os jovens das periferias.
Com dez faixas inéditas, o álbum traz batidas de funk, hip-hop, R&B e pop. As letras, que começaram a ser escritas quando o músico tinha 17 anos, abordam temas como amor-próprio e empoderamento negro e LGBTQIAPN+, além do sentimento de pertencimento aos territórios periféricos.
“Dizem que o primeiro álbum é a sua vida inteira até aquele momento. Esse álbum é a personificação disso”, conta. O título “O Próprio” faz referência à busca do artista por entender seu lugar no mundo, onde e ao que se sente pertencente. “É pertencer a si mesmo, antes de tudo”, reflete.
RAVIH começou a compor inspirado em experiências pessoais, que inicialmente acreditava serem muito particulares. Com o tempo, percebeu que eram vivências compartilhadas por muitos jovens negros e LGBTQIAPN+ das periferias.
“Muitas daquelas letras sobre aceitação escrevi quando ainda não pensava dessa forma sobre mim mesmo. Até hoje estou nesse processo: olhar para mim com valor e me enxergar com beleza. É um desafio, considerando todo o contexto em que a gente cresce e está inserido”, reflete.
O primeiro single foi “Lanterna”, lançado em 20 de novembro de 2020, mas a trajetória na música já vinha de longa data.
A inspiração para começar a carreira artística veio da mãe, que sempre foi regente de corais da igreja, e do pai, que já atuou como DJ de baile black e integrou uma rádio comunitária. RAVIH começou a cantar na igreja aos 4 anos e, aos 12, foi presenteado com um teclado pelo pai. Uma das primeiras composições foi “Medo”, que integra o novo álbum.

Dançarina @ka_karamelo compõe o ballet do artista de Parelheiros @Divulgação
Se reconhecer enquanto artista também foi um processo. Ao desenvolver seus trabalhos autorais, RAVIH afirma ter o compromisso de remunerar todos os profissionais envolvidos. Por isso, os primeiros videoclipes foram financiados com recursos próprios. “Metade do meu salário era investido no meu sonho”, revela.
Para se aprimorar, dedica grande parte do tempo a compor, ensaiar e buscar editais que possam financiar suas produções. O Programa VAI, da Secretaria Municipal de Cultura, apoiou a realização dos clipes do novo álbum e do documentário “A Arte de se Fazer Visível”, lançado em 10 de janeiro de 2025, que conta a trajetória do artista.
Mais de 50 artistas periféricos participaram de ambas as produções. A curadoria foi pensada para conectar diferentes territórios, perfis e linguagens artísticas.
“Estou dividido entre correr atrás dos meus sonhos e não ser consumido por eles. Temos um show novo, estamos nos apresentando em vários lugares, mas eu também não sou só artista. Sou trabalhador CLT, tenho família e dois pais idosos em casa para cuidar”, conta.

O espetáculo conta com a participação da DJ @deisemiranda_hiphop e da guitarrista @ap_produz @Divulgação
Entre as maiores inspirações estão Rico Dalasam e Liniker. Também admira artistas internacionais, como Alicia Keys, Beyoncé e Bruno Mars. Apesar das referências, RAVIH se define como um artista de gosto eclético:
“Saio para dar uma volta de bicicleta pelo meu bairro, em Vargem Grande, e ouço de tudo: pagode, gospel, funk, indie e música clássica. A periferia é diversa e múltipla; nós, artistas dela, não temos como ser diferentes.”

RAVIH começou a compor na época em que estava no Ensino Médio, aos 17 anos
O álbum foi lançado em 10 de outubro de 2024 e, cinco dias antes, teve uma pré-estreia no Centro Cultural Grajaú, onde foram exibidos pela primeira vez os clipes das músicas, além de uma exposição com artes inspiradas no disco, ilustradas por dez artistas periféricos.
Além do álbum, foram lançados os videoclipes “Lar”, “Âncora” e “Próprio”, divulgados entre agosto e outubro de 2024. Eles serviram de base para dividir o show em três atos e estão disponíveis no YouTube.
Durante a transição entre os atos, o público escuta a poesia autoral do artista, intitulada “Refletindo”. No primeiro ato, são retomadas vivências recorrentes da juventude periférica, no segundo, há um olhar reflexivo sobre o presente, e no terceiro, o músico propõe uma visão de futuro diferente.

Karina Tigre é a responsável por fazer a direção criativa e coreográfica do show @Divulgação
Karina Tigre, companheira de RAVIH, é responsável pela direção criativa e coreográfica do espetáculo. “Ela se define como artista do corpo, então traz performance, dança e encenação para a cena. Eu sentia que precisava me desenvolver nessa área, e ela se dispôs a essa troca. Sinto que minha carreira deu um salto desde então”, diz o artista.
O videoclipe “Além do Seu Portão”, gravado no Teatro Municipal, foi o primeiro trabalho que os dois realizaram juntos. A obra está disponível no Canal Futura e na Globoplay.
No show de estreia, RAVIH apresentou a música “Não Desisti de Mim”, parceria com Felipe DS e Luke, que será lançada no próximo ano. O álbum também ganhou novas versões das músicas em colaborações com Italo (Colegial), Gabi Doya (Textura), Sammy Vaz (Conto de Farsas) e Ayana Britto (Labirinto).
“Quero muito levar o espetáculo para todas as quebradas que eu puder”, afirma. “E teremos a participação desses artistas e amigos periféricos talentosos no show de comemoração de um ano do álbum.”
RAVIH sonha que, em um futuro próximo, artistas das periferias tenham estrutura para construir seus próprios estúdios e palcos, transformando a realidade de maneira coletiva.
“A gente precisa construir nossos próprios espaços para não depender da validação externa. Nós somos as nossas próprias referências’
Jornalista e cineasta da quebrada. Pós-graduanda em Mídia, Informação e Cultura e em Gestão de Projetos Culturais pelo CELACC/USP. Fundadora da Parasita Filmes, produtora independente dedicada a contar histórias do extremo sul de São Paulo.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
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