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Agência de Jornalismo das periferias

Isabela Alves/Agência Mural

Por: Isabela Alves

Notícia

Publicado em 31.05.2023 | 9:10 | Alterado em 31.05.2023 | 9:30

Tempo de leitura: 3 min(s)

A artista visual Victorya Antonoff, 28, sabe que os vizinhos no Grajaú, na zona sul de São Paulo, conhecem pouco sobre o trabalho que ela produz, a xilogravura. Isso não impediu que ela começasse a fazer um trabalho que retrata desde moradores da região a cantores famosos e filmes.

A xilogravura é uma técnica que utiliza a madeira como matriz e torna a reprodução da imagem gravada sobre o papel. A principal ideia desse estilo é fazer artes seriadas, ou seja, reproduzir a mesma imagem várias vezes.

“A gente utiliza a tinta e faz o desenho, mas no final é algo totalmente diferente da pintura e do desenho”, explica ela que já teve as obras expostas em oficinas culturais da cidade.

Cantor Belchior em trabalho realizado por Victorya @Isabela Alves/Agência Mural

Victorya conheceu a técnica na época em que cursava artes visuais na FMU (Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas), em 2013.

O professor e uma das principais inspirações dela foi Gidalti Oliveira Moura Júnior, mais conhecido como Gidalti Jr., vencedor do Prêmio Jabuti de Histórias em Quadrinhos com “Castanha do Pará”.

“Gostava de desenhar, mas não sabia a técnica. Quando as pessoas falam ‘você tem talento’, na verdade precisa estudar muito para chegar a maestria”, conta a artista.

Por meio das aulas, ela soube que a xilogravura teve origem na China e depois ganhou notoriedade mundial com a invenção da imprensa por Johann Gutenberg, no século 15. No Brasil, essa arte também é destaque na literatura de cordel, muito popular na região nordeste do país.

A partir das aulas na universidade, procurou fazer outros cursos extracurriculares oferecidos no Sesc Ipiranga e produziu o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) sobre o holandês Maurits Cornelis Escher.

Xilogravura é técnica que usa a madeira para as representações @Isabela Alves/Agência Mural

Antes de se dedicar à arte, trabalhava em logística em uma empresa de brindes, mas a atuação levou ela ao esgotamento, o chamado burnout. Desde então, ela está focada em produzir xilogravuras, chegando a fazer até três novas peças por semana.

O sonho dela é trabalhar dando oficinas nos Centros Culturais, Fábricas de Cultura e no Sesc, pois acredita que as periferias possuem poucos acessos para a xilogravura.

Além disso, ela enxerga que esse universo ainda é ocupado majoritariamente por homens, já que as mulheres são mais incentivadas a trabalhar com as colagens. “Sinto falta da força feminina. Existimos, mas ainda somos poucas”, conclui.

Corres da produção

As gravuras de Victorya possuem diversas referências a filmes favoritos dela, como Green Room (2015) e Pulp Fiction: Tempo de Violência (1994), assim como de cantores famosos como Letrux, Bob Dylan e Belchior.

“A ideia não é ser realista, mas colocar a minha expressão na imagem. Acredito que é por isso que a xilogravura causa tanta identificação nas pessoas”, conta.

Victoria aprendeu arte em 2013 na universidade @Isabela Alves/Agência Mural

Victoria aprendeu arte em 2013 na universidade @Isabela Alves/Agência Mural

Victoria aprendeu arte em 2013 na universidade @Isabela Alves/Agência Mural

Victoria aprendeu arte em 2013 na universidade @Isabela Alves/Agência Mural

De início, ela fazia apenas retratos de homens, porque achava mais fácil de desenhar. Com o tempo passou a retratar mais mulheres e casais LGBTs. “Trazer essa representatividade se tornou algo muito significativo”.

Os retratos são os produtos mais caros, pois é uma cópia exclusiva e única. Cada desenho custa em torno de R$ 150. Para além dos desenhos na folha de sulfite A4, ela também produz botons, fanzine e cadernos de mini-xilos.

A artista também busca promover oficinas de xilogravura com materiais alternativos e com o custo acessível, como substituir a madeira pela borracha escolar. Para gravar as imagens, utiliza um removedor de cutículas de unhas e faz a impressão com a almofada de carimbo.

O processo de produzir um quadro de 13 de altura x 12 cm de largura na xilogravura, de extrair a madeira e passar a tinta tipográfica, leva uma hora. “Tudo que produzi até hoje foram impressas manualmente com a ajuda de uma colher. Quando estou no ateliê de artes, utilizo a prensa”, diz.

Artista consegue renda do trabalho com a xilogravura @Isabela Alves/Agência Mural

A xilógrafa expõe os trabalhos em diversas feiras como na Oficina Cultural Oswald de Andrade (Bom Retiro), Espaço UM55 (República) e Grajabeer (Grajaú).

Victorya frequenta dois ateliês gratuitos: a Folhetaria durante a semana, que fica no porão do Centro Cultural São Paulo, no centro da capital, e o Sesc 24 de Maio aos sábados. “As oficinas sempre reúnem diversos artistas independentes. A galera se ajuda muito mesmo. É tudo nosso”, conta animada.

Em 2022, ela participou da competição International Ex Libris 2022 em comemoração aos 35 anos do Museu da Xilogravura, localizado em Campos do Jordão, e apresentou duas gravuras na ocasião. Agora, as obras fazem parte do acervo institucional.

Para conhecer mais sobre a artista, acesse a sua conta no Instagram: @victorya.antonoff

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Isabela Alves

Graduada em jornalismo pela Universidade Anhembi Morumbi (UAM) e pós graduanda em Mídia, Informação e Cultura pelo Celacc/USP. Homenageada no 1° Prêmio Neusa Maria de Jornalismo. Correspondente do Grajaú desde 2021.

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