Davi Jordan/Divulgação
Por: Isabela Alves
Notícia
Publicado em 13.08.2024 | 9:39 | Alterado em 15.08.2024 | 15:48
Os barco a vela brasileiro não trouxe medalhas nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 pela primeira vez desde 1992. No entanto, a olimpíada foi importante para quem veleja nas águas de São Paulo. O documentário “Guarapiranga” foi apresentado nas telas da capital francesa e teve a participação especial do Navegando nas Artes, projeto do Grajaú, na zona sul da capital.
“Passar nas Olimpíadas foi muito importante. É um reconhecimento que mostra que o trabalho que estamos fazendo aqui não está sendo em vão”, afirma o educador e instrutor náutico Yuri Gabriel, 27, membro do Navegando, projeto que compõe uma das frentes da Associação Imargem.
O documentário “Guarapiranga”, dirigido por Rico Faissol, com produção da SP Cine, fala sobre como a preservação das águas é um dever de todos ao apresentar a história da Represa Guarapiranga e a conexão da região com atletas olímpicos, como Robert Scheidt, vencedor de cinco medalhas.
O vídeo também mostra a conexão do esporte para as quebradas do Grajaú, onde fica outra represa: a Billings, onde atua o Navegando nas Artes. Os idealizadores usam a modalidade tanto para formação das crianças, quanto para conscientizar sobre a preservação do meio ambiente, com mutirões de limpeza nas margens.
“Se deixar o lixo acumular, vai chegar a um ponto que a gente não vai conseguir velejar, porque tem muita sacola e caco de vidro”, observa Yuri.
“O principal objetivo é entender que os acessos são direitos para todos, principalmente o direito à água, ao meio ambiente e a moradia. O barco a vela pode ter esse olhar esportivo, mas o nosso diferencial é olhar para a comunidade e entender a luta por melhorias”, conta Lucas Araújo, 34, educador e velejador.
Neste ano, o projeto Navegando foi contemplado na Lei de Incentivo ao Esporte e vem promovendo aulas de navegação gratuitas para pessoas de todas as idades de terça a quinta no Imargem, associação localizada no Jardim Gaivotas.
Para aprender a lidar melhor com a água, os alunos têm a possibilidade de fazer aulas de natação no CEU Navegantes. Nas sextas, o projeto recebe diferentes instituições para navegar e apresentar o território do Grajaú.
Com frentes em preservação ambiental e alimentação saudável, a Casinha do Imargem realiza a compostagem de alimentos para adubar plantas, reciclagem de lixo e distribui refeições com alimentos produzidos por agricultores do extremo-sul para os alunos.
“Muitas crianças que frequentam o projeto não têm acesso a alimentação saudável em casa e encontram isso aqui”, relata Luciana Evangelista, 39, responsável pela alimentação.
O filho de Luciana foi um dos entrevistados do novo documentário. “É muito gratificante ter um espaço para falar sobre o meio ambiente e o cuidado com a represa”, diz Luciana.
O projeto foi criado no início dos anos 2000 e se chamava “Vento em Popa”. Nessa época, o objetivo era promover formações de barco a vela na comunidade e também ter o conhecimento de como construir um barco.
“O bairro do Gaivotas tinha um dos piores índices de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). O intuito foi inserir uma atividade que fosse relacionada a comunidade e por isso o barco a vela foi escolhido. As crianças aprendiam um pouco da história da vela e conheciam a represa. Era um olhar mais atleta, mas com a pegada ambiental”, afirma Lucas.
Em 2014, o projeto encerrou as atividades e a Casinha, sede do grupo, se manteve fechada ao longo de dois anos. Na retomada, os educadores trazem o esporte com outro olhar.
‘Nem todo mundo quer se tornar atleta na frente de navegação e a gente sabe que é um esporte caro. Seguimos para conseguir formar e mostrar outras possibilidades para as crianças’
Lucas Araújo, educador e velejador
A Represa Billings é considerada a maior em área habitada de São Paulo. Em 2025, ela completará 100 anos. Apesar de abastecer mais de 1,5 milhão de pessoas da zona sul da capital e da região do ABC, os educadores entendem que ela não vem sendo cuidada como deveria.
“A represa precisa ser preservada. A gente olha como se fosse uma grande caixa d’água e estivesse poluída, mas por mais que esteja, ela tem muitos benefícios. Muitos moradores ainda vivem da pesca na região”, afirma Laís Guimarães, 28, educadora, velejadora e coordenadora da Roda de Afeto, projeto que também integra o Imargem.
Ela observa que o mundo náutico apresenta diversas possibilidades dentro do esporte, como o surf, caiaque, kitesurf e tantos outros.
No entanto, pessoas das periferias e outros lugares do extremo sul não têm acesso a esses esportes, além de ter receio de participar por não enxergarem como algo palpável às suas vidas, quando comparado ao futebol, por exemplo.
“Por que a vela é tão elitizada e não tem espaço nas escolas? Somos um Brasil rico com uma costa imensa, do sul ao nordeste. Além de não termos acesso a água, esses espaços estão sendo poluídos”, aponta Laís.
Graduada em jornalismo pela Universidade Anhembi Morumbi (UAM) e pós graduanda em Mídia, Informação e Cultura pelo Celacc/USP. Homenageada no 1° Prêmio Neusa Maria de Jornalismo. Correspondente do Grajaú desde 2021.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
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