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Apesar da pandemia, políticos mandam mais de 100 santinhos para casa das pessoas

Correspondentes dos bairros contaram os materiais recebidos para dar dimensão da quantidade

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Por: Cleberson Santos | Katia Flora | Halitane Rocha | Gabriel Lopes | Raquel Porto | Paulo Talarico | Lucas Veloso | Cleber Arruda | Aline Kátia Melo | Danielle Lobato

Notícia

Publicado em 07.12.2020 | 18:07 | Alterado em 27.02.2024 | 16:22

Tempo de leitura: 3 min(s)

Um apartamento na Cohab José Bonifácio, na zona leste de São Paulo, parecia o lugar perfeito para distribuir materiais de campanha. No prédio, onde há 60 apartamentos, foi entregue de uma só tacada 115 papéis do candidato a vereador Onofre Gonçalves (PT).

Nos dias seguintes, 78 santinhos de Abou Anni (PSL) encheriam a caixa de correio, seguidos de 36 da candidata Rute Costa (PSDB). Dos três, apenas Rute foi eleita. 

As 241 propagandas nesse prédio da periferia da zona leste são uma amostra de uma tradição nas eleições de São Paulo – a aposta no santinho para chegar ao legislativo. O que não mudou mesmo com o coronavírus

Nos últimos meses, a pandemia impediu diversas atividades nas cidades, como festas, saraus e encontros familiares. Mas as campanhas de candidatos a prefeito e a vereador foram realizadas como se não houvesse Covid-19. 

Além disso, os papéis com propaganda continuaram a lotar quintais e casas nas periferias de São Paulo, mostra levantamento da Agência Mural. No total, foram 754 materiais de campanha distribuídos em dez endereços da capital e da Grande São Paulo. 

Na Jova Rural, bairro da zona norte da capital, foram 62 itens ao longo da campanha. O candidato Ricardo Holz (Podemos) enviou 12, sendo duas cartas e dez santinhos com quadradinhos em branco para o eleitor escolher o prefeito que quisesse. 

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No dia das eleições, as ruas próximas das zonas eleitorais nas periferias ficaram cheias de santinhos @Ira Romão/Agência Mural

Com 7 santinhos cada, os candidatos Jesus da Periferia (PDT) e Emerson Facundini (Solidariedade) estão entre os que mais mandaram itens à região. 

Segundo determinação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), as propagandas distribuídas na forma de folhetos, volantes e outros impressos não dependem de autorização da Justiça Eleitoral. Todo material de campanha eleitoral impresso, como folders, folhetos, santinhos e cartazes, é de responsabilidade do partido, coligação ou candidato.

Há quatro anos, no Morro do Damasceno, bairro da Brasilândia, na zona norte da capital, um cachorro destruiu todos os folhetos que chegaram na casa do correspondente da Agência Mural na região. Neste ano, a soma deu 15. No Capão Redondo, na zona sul, o número foi de 35. O candidato Reis (PT) liderou com 9 itens enviados. 

Raquel Porto, correspondente em Cidade Líder, zona leste, cita que neste ano recebeu mais do que nas eleições passadas quando a disputa foi entre deputados. “Mesmo com a pandemia, o número de santinhos entregues na minha residência foi maior comparado à eleição de 2018, que foram 9”, diz. “No primeiro turno as ruas continuaram sujas do mesmo jeito, tudo parecia normal, exceto o uso de máscaras nas ruas”. 

Entre os 12 santinhos que recebeu, a candidata Leticia Gabriela (PDT) e o vereador eleito Eliseu Gabriel (PSB) depositaram 6 materiais ao todo, 3 de cada um. 

GRANDE SP

Mas enviar mais materiais para os endereços funciona? Não é possível dizer que esse é o único fator, porém, alguns dos eleitos claramente tiveram campanhas com mais materiais e números disponíveis.

No município de Osasco, por exemplo, dos 103 materiais de campanha que chegaram em uma casa no bairro do Bandeiras, 85 eram de candidatos a vereador da coligação do prefeito Rogério Lins (Pode), reeleito com mais de 60% dos votos. 

Candidatos que fizeram oposição a Lins tiveram menos presença – foram 13 santinhos de políticos que apoiavam o vereador Doutor Lindoso (Republicanos) e 5 da coligação do ex-prefeito Emidio de Souza (PT).

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Na imagem, materiais na esquerda são de apoiadores de Rogério Lins e ao lado de opositores @Paulo Talarico/Agência Mural

O ex-vereador Valdomiro Ventura (Podemos) foi quem mais enviou, com 18 cartões. Na sequência, o candidato Toniolo (PCdoB), vinculado a Lins, enviou 13 itens variados. Nenhum dos dois se elegeu. 

Em meio à pandemia, a cidade teve menos materiais circulando, ao menos nessa casa. 

Em 2016 foram 174 materiais de campanha, dos quais 66 foram de candidatos a vereador que apoiavam Jorge Lapas (PDT), ou materiais com propostas do concorrente à reeleição. 

Na cidade de Cotia, o vereador eleito Marcinho Prates (Solidariedade) foi o campeão, com 13 santinhos, seguido pelo também eleito Paulinho Lenha (MDB), com 4. Os demais folhetos foram enviados por outras legendas, como PT e PSL. 

Em São Bernardo do Campo, 46 candidatos a vereador nas eleições enviaram 110 santinhos para a casa da correspondente da região. A candidata Tina do Acarajé (PSDB) foi quem mais enviou dentre as dezenas de nomes. Acumulou 20 itens. 

Partidos como PCdoB, AVANTE e Progressistas também estão na lista com candidatos que encheram a caixa de correspondências com divulgação da campanha. 

Além do envio às casas, no dia das eleições foram vistas diversas ruas nas periferias cheias de santinhos no chão, prática irregular de acordo com a Justiça Eleitoral. 

Todos os partidos citados neste texto foram questionados sobre a quantidade de itens enviados e se pretendem trabalhar em ‘campanhas mais limpas’ nos próximos anos. Até o fechamento deste texto nenhuma legenda respondeu.

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Cleberson Santos

Correspondente do Capão Redondo desde 2019. Do jornalismo esportivo, apesar de não saber chutar uma bola. Ama playlists aleatórias e tenta ser nerd, apesar das visitas aos streamings e livros estarem cada vez mais raras.

Katia Flora

Jornalista com experiência em jornalismo online e impresso, tem publicações em diversos veículos, como Uol, The Intercept e é ex-trainee da Folha de S. Paulo no programa para jornalistas negros. Correspondente de São Bernardo do Campo desde 2014.

Halitane Rocha

Produtora do podcast Próxima Parada e correspondente de Cotia desde 2018. Mãe de gêmeas e 2 gatas. Família preta e do axé… muita treta!

Gabriel Lopes

Formado em Design Digital, porém com uma atuação profissional focada em pesquisa e estratégia. Sou um corinthiano que adora pedalar pelo bairro, jogar futebol na rua e tiro umas fotos dos céus da zona leste. Correspondente do Conjunto José Bonifácio desde 2019.

Raquel Porto

Jornalista, pós-graduanda em Gestão Ambiental. Militante feminista engajada nas pautas de direitos humanos, meio ambiente, educação e cultura. Ama carnaval, cinema, música, séries, novelas, livros e HQs. Correspondente da Cidade Líder desde 2018.

Paulo Talarico

Diretor de Treinamento e Dados e cofundador, faz parte da Agência Mural desde 2011. É também formado em História pela USP, tem pós-graduação em jornalismo esportivo e curso técnico em locução para rádio e TV.

Lucas Veloso

Jornalista, cofundador e correspondente de Guaianases desde 2014.

Cleber Arruda

Cofundador, correspondente da Brasilândia desde 2010 e editor em projetos especiais. É jornalista do Valor Econômico e voluntário do projeto Animais da Aldeia. Canceriano, gosta de cachorros e de viajar por aí.

Aline Kátia Melo

Jornalista, pós graduada em Mídia, Informação e Cultura pelo CELACC. Criadora da página do bairro Jova Rural no Facebook e Jova York no Intagram. Geminiana, ama teatro, livros, música e gatos. Cofundadora e correspondente da Jova Rural desde 2011.

Danielle Lobato

Jornalista, sagitariana com ascendente em lanches. Mãe de pet, viajante e apaixonada pela vida. Correspondente de Itaim Paulista desde 2016.

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