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Agência de Jornalismo das periferias

Paulo Talarico/Agência Mural

Por: Gabriel Negri

Notícia

Publicado em 24.09.2024 | 17:38 | Alterado em 24.09.2024 | 17:39

Tempo de leitura: 5 min(s)

Em 6 de outubro, pouco mais de 640 mil moradores de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, irão às urnas para escolher quem estará à frente do poder municipal, após oito anos de Orlando Morando (PSDB).

O atual prefeito deixa um legado dividido. Por um lado, os apoiadores ressaltam o avanço em obras de infraestrutura pela cidade e a conclusão de projetos atrasados, enquanto os críticos apontam a marca das desocupações, despejos e o desmonte de políticas na cidade.

Após meses de incertezas, Morando anunciou que apoiaria a própria sobrinha, Flávia Morando (União), para a prefeitura em uma disputa que há outros outros quatro candidatos: o deputado federal Alex Manente (Cidadania), o deputado estadual Luiz Fernando (PT), o ex-vice-prefeito Marcelo Lima (Podemos), e Cláudio Donizete (PSTU).

Oito anos de Morando

Durante oito anos, a cidade passou por mudanças significativas de infraestrutura, como a entrega de quatro viadutos (Viaduto Mamãe Clory, Complexo Castelo Branco, Viaduto da Praça dos Bombeiros – batizado de José Gomes da Silva -, e Complexo Tereza Delta).

Também concluiu obras inacabadas do governo anterior, caso do Piscinão do Paço, terminada em 2020, que visava diminuir os impactos das enchentes no município.

Após a entrega, ainda houve alagamentos no local, sendo o primeiro deles apenas seis meses depois.

Fábrica de Cultura em São Bernardo do Campo foi criada onde era previsto o Museu do Trabalhador @Prefeitura de São Bernardo

Em termos de trânsito, São Bernardo também apresentou mudanças. Dos 12 corredores prometidos, a cidade ganhou oito. Entre eles: Alvarenga, São Pedro, Galvão Bueno, Castelo Branco, Rotary, Anchieta-Imigrantes, João Firmino e Rudge Ramos.

Os demais projetos como Estrada Parque, Faria Lima, Jurubatuba e Ribeirão dos Couros, se encontram em processo de análise para execução.

Apesar disso, o transporte público na cidade segue sendo criticado por moradores das periferias, e a tarifa municipal é uma das mais caras da Grande São Paulo: R$ 5,95.

Moradores criticam condições dos veículos @Paulo Talarico/Agência Mural

Também houve a transformação das obras do antigo museu do trabalhador na Fábrica de Cultura, localizada próxima a sede da prefeitura, além de programas divulgados pela gestão como Asfalto Novo e Mais Luz.

Trânsito e saúde

Em quase 10 anos, Carla Renata Santin, 44, pedagoga de ciências humanas, e moradora de São Bernardo, percebe um grande investimento no setor imobiliário. “Nós estamos com uma cidade muito inflada, nesse sentido. E isso acarreta vários problemas na questão do trânsito e também de atendimento em serviços públicos”, comenta.

Ela também diz que a gestão se preocupou bastante em realizar grandes obras para mostrar à população que algo estava sendo feito.

Em contrapartida, Carla, como usuária do SUS (Sistema Único de Saúde), avalia piora na saúde do município, já tendo precisado interromper um tratamento devido à falta de médicos no posto de saúde mais próximo de onde mora.

Cidade passou por mudanças nos últimos anos @Gabriel Inamane/Divulgação

A gestão cita ter entregue quatro hospitais e ter hoje 1.060 leitos, e que o Hospital das Clínicas está com funcionamento total. Duas unidades de UBS’s e um Hospital de Olhos ainda não foram concluídos, a promessa é que esteja pronto até dezembro deste ano.

Enquanto professora, Carla também comenta que percebe uma piora na educação do município. “Cada vez mais vejo alunos que não sabem ler direito”, diz.

A gestão implantou ensino em tempo integral do 1º ao 5º ano e ressalta ter zerado a fila da creche com parceria com o terceiro setor para ampliar as vagas. Para as juventudes, houve a entrega de 65 Praças-Parques e 25 Arenas Parque em diversos bairros da cidade, além da reforma do Parque da Juventude.

A moradora conclui expressando o desejo por uma mudança de governo na cidade e que nem todos bairros sentiram melhorias. “Existem questões mais importantes do que avenidas asfaltadas, e eu digo avenidas porque, quando você entra nas periferias e bairros, vê que nada ali foi feito”.

Desmanche de políticas públicas

O atual governo municipal coleciona polêmicas e denúncias de desmonte de políticas públicas. Entre uma das mais controversas, está a escolha de Carlos Alberto do Santos, ex-tenente coronel condenado por envolvimento no massacre do Carandiru, para o cargo de Secretário de Segurança Pública.

Outra “dor de cabeça” para a gestão é o movimento hip-hop. Participantes da Batalha da Matrix acusam a prefeitura de perseguição desde o início. Toda terça-feira, dia em que os MCs se reúnem na praça da Matriz, há sempre a presença de guardas municipais.

Já houve episódios de disparos de balas de borracha e organizadores multados em até R$ 15 mil. Apesar das tentativas do poder municipal de acabar com o evento, em 2024, os organizadores e o público comemoram 11 anos de existência e resistência cultural.

Em 2023, Orlando Morando, também, foi denunciado por racismo institucional, em um fórum da ONU (Organização das Nações Unidas). A denúncia foi realizada pela UNEafro (União de Núcleos de Educação Popular para Negras/os e Classe Trabalhadora).

Também foi acusado pela tentativa de desmonte de serviços públicos, como a tentativa de despejo do Projeto Meninos e Meninas de Rua. A iniciativa foi criada em 1983, e com o objetivo de acolher crianças em situação de risco e fortalecer políticas públicas. Posteriormente, a associação conseguiu uma liminar para suspender a ordem de despejo.

No mesmo ano, o poder municipal derrubou um teatro na região periférica, no bairro Três Marias, e fechou duas bibliotecas na cidade. Na época, moradores e pessoas ligadas ao setor cultural criticaram a decisão e temiam um desmonte cultural.

Membros de Olga Benário, em 2023, protestam contra a falta de politicas publicas para mulheres na cidade @Lucas Barbosa

Em agosto de 2024, um dos espaços, localizado no Rudge Ramos, foi revitalizado e retomou suas atividades; no entanto, o outro, localizado no Baeta Neves, permanece fechado até o momento.

Em relação ao teatro, a prefeitura alegou, na época, que o mesmo seria demolido para a construção de mais salas de aula. Entretanto, moradores pediam o retorno das atividades culturais e a revitalização do espaço, o que não foi cumprido.

Ainda no fim de 2023, o Movimento Olga Benário ocupou uma casa abandonada, no bairro Alves Dias, denunciando o desmanche de políticas públicas voltadas a mulheres e a falta de uma casa abrigo para vítimas de violência doméstica.

Com relação à moradia, em 2022, 300 famílias foram expulsas de suas casas, por meio de uma ordem de despejo assinada pelo prefeito Orlando Morando, na área conhecida como biquinha (próxima ao Ferrazópolis). A prefeitura alega que eles moravam em uma área de risco, mas foi dado apenas 24 horas para que saíssem que ocorressem os fatos.

Além disso, a urbanização do bairro Capelinha, orçada em R$ 26 milhões, está paralisada.

Por outro lado, a gestão diz que entregou mais de 41 mil escrituras a famílias de 146 áreas pelo programa de regularização, e que foram entregues 2 mil moradias nos bairros Novo Jardim Regina (420 moradias), Parque São Bernardo (159), Silvina Audi (107), Divinéia/Pantanal (193), Vila Esperança (144), Capelinha/Cocaia (180) e Frei Tito e Nelson Mandela (800). Diz que há 2.338 unidades contratadas.

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Gabriel Negri

Jornalista, projeto de aventureiro, aspirante a escritor e aficionado por história. Correspondente de São Bernardo do Campo desde 2023.

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