Wellington Nascimento/Agência Mural
Por: Wellington Nascimento
Notícia
Publicado em 06.10.2022 | 20:50 | Alterado em 06.10.2022 | 20:55
No sábado (8) acontecem as finais da Taça das Favelas na Arena Barueri, na Grande São Paulo. Neste ano, comunidades de diferentes regiões de São Paulo chegaram à decisão e vão disputar o título inédito do torneio nas categorias feminina e masculina. O evento terá entrada gratuita e será transmitido ao vivo pela TV Globo, a partir das 14h.
O jogo inicial será entre Paraisópolis e Campanário pelo feminino. Paraisópolis é um bairro que pertence ao distrito da Vila Andrade, na zona sul de São Paulo. Com cerca de 100 mil moradores, é a segunda maior favela do estado e a quinta maior do Brasil.
Segundo a pesquisa mais recente feita pela Associação de Moradores de Paraisópolis, cerca de 85% das pessoas que vivem na favela vêm do nordeste do país em busca de melhores oportunidades de vida em São Paulo. Há 22 anos, essa realidade bateu na porta do Antônio Ednaldo da Silva, 58, mais conhecido como Berbela.
Ao sair da cidade de Iati, em Pernambuco, para morar na comunidade paulista, Berbela descobriu que tinha um dom: transformar materiais recicláveis em obras de arte. O resultado disso são 20 anos fazendo arte na sua oficina, em Paraisópolis.
O artista estima que atualmente há mais de 40 mil peças feitas com materiais como parafusos, pregos, peças de carro, de moto, correntes, dentre outros. “No que você pensar a gente faz arte”, disse o mecânico. O endereço da oficina do Berbela fica na Rua Melchior Giola, número 1.311.
Berbela criou mais de 40 mil peças feitas com materiais recicláveis @Wellington Nascimento/Agência Mural
Berbela criou mais de 40 mil peças feitas com materiais recicláveis @Wellington Nascimento/Agência Mural
Berbela criou mais de 40 mil peças feitas com materiais recicláveis @Wellington Nascimento/Agência Mural
Berbela criou mais de 40 mil peças feitas com materiais recicláveis @Wellington Nascimento/Agência Mural
Berbela criou mais de 40 mil peças feitas com materiais recicláveis @Wellington Nascimento/Agência Mural
Há muitas opções de passeios culturais em Paraisópolis. Outros exemplos são a casa de pedra do Estevão, o chamado Gaudí Brasileiro, e a casa feita com mais de 25 mil garrafas pet do seu Antenor. Para quem gosta de música, o Forró da Juliana é uma das maiores casas do estilo na cidade e o baile funk da DZ7 atrai centenas de jovens aos finais de semana na Rua Ernest Renan.
No futebol de várzea, Paraisópolis é a sede da Copa da Paz, um dos maiores torneios de várzea de São Paulo que é realizado na Arena Palmeirinha. E é nesse campo que treina a Daniela Pereira, 28, volante do time de Paraisópolis.
“O meu sonho é que um dia na comunidade tenha todas as categorias de futebol, desde o infantil até chegar na fase adulta”, diz a atleta. Ela esteve na final da Taça das Favelas em 2019 e sente que dois anos depois a equipe está mais confiante para conquistar o título pela primeira vez.
O adversário de Paraisópolis na final deste ano será o Campanário, do município de Diadema. Localizado na região metropolitana de São Paulo, Diadema faz parte do ABC Paulista, grupo formado também pelos municípios de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.
De acordo com dados do último Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2010, Diadema ocupava o 14º lugar entre os municípios mais populosos de São Paulo. Campanário é um dos 11 bairros que fazem parte de Diadema e é apenas o 9º maior em extensão de área com cerca de 1.952 Km².
Camila Valentim, 33, é volante e capitã da equipe do Campanário. A jogadora mora na comunidade desde pequena e gosta do lugar e da união das pessoas do bairro. Ela e as companheiras de time treinam no campo do Benfica, na Rua Melro, onde muitos jovens da região começam a jogar bola.
Outro local bastante frequentado pela jogadora no bairro é a praça Kaleman, na Avenida Luís Carlos Prestes. O espaço conta com duas quadras, uma de futebol e outra de basquete, além de um playground para crianças, aparelhos de ginástica e uma ciclovia.
Desde os 9 anos jogando bola, Camila conta que chegar à final da Taça das Favelas pela primeira vez é o momento mais marcante da carreira.
“Estar em uma arena lotada e ter a minha família e amigos juntos para me ver jogar ao vivo é um fato inédito na minha vida”
Camila Valentim, 33, é volante e capitã da equipe do Campanário
Logo após a final feminina, Jardim Ibirapuera e São Bernardo se enfrentam pela decisão masculina. O Jardim Ibirapuera é um dos mais de 60 bairros que pertencem ao distrito do Jardim São Luís, na zona sul de São Paulo.
Faltando poucos meses para uma possível volta do carnaval de rua em São Paulo, o Jardim Ibirapuera tem um dos blocos mais tradicionais da zona sul. O Bloco do Beco é uma associação cultural sem fins lucrativos que realiza desfiles de rua na comunidade há quase 20 anos. Mas por conta da pandemia de covid-19, não houve carnaval de rua este ano nem em 2021.
Durante todos esses anos, a associação atua para garantir o direito de acesso à cultura para a comunidade. Atualmente, há oficinas gratuitas de maracatu, violão, capoeira, teatro, dança, canto, forró, ginástica funcional e bateria feminina. A sede do bloco fica rua Bento Barroso Pereira, número 2.
Perto da associação fica o campo da Arena São Luís, um dos locais onde treinam os jogadores do Jardim Ibirapuera. No bairro também há um sarau chamado “Vozes da Quebrada” que é realizado quinzenalmente toda segunda-feira em um escadão da Rua Macedônio Fernandes.
Saindo da capital para o interior de São Paulo, temos o time do São Bernardo, da região sul de Campinas. Segundo a prefeitura, em 2017 o bairro tinha aproximadamente 48 mil pessoas.
E foi em uma barbearia na Avenida das Amoreiras, na New York Barbershop, que surgiu o campeão da Taça das Favelas de Campinas e o finalista da Taça das Favelas São Paulo desta edição. Um dos membros da diretoria do São Bernardo, o Guilherme Garcia, 34, mais conhecido como Dedão Campinas, contou essa história:
“Todos os atletas dos times aqui cortam cabelo nessa barbearia e eles ficavam jogando indireta para o barbeiro que já foi treinador em 2012 para ele inscrever um time para a Taça. De tanto insistirem, o barbeiro juntou um grupo de amigos e fizeram o uniforme para jogarem o campeonato.”
O barbeiro, no caso, é Leandro Roberto, 40, que é também o treinador do São Bernardo. O mais interessante dessa equipe é que essa garotada nunca havia jogado junto antes. Dedão menciona que apenas alguns faziam parte do Pulo do Gato, uma equipe de futsal de Campinas.
O diretor ainda conta que pretende morar a vida inteira em São Bernardo. O bairro foi importante no desenvolvimento da região sul de Campinas nos anos 1930 e 1940, já que o local serviu para instalação de indústrias e serviços. Hoje, Campinas é a maior cidade do interior de São Paulo.
Formado em Jornalismo e pós-graduado em dar boas risadas. Apaixonado por esportes, ex-atleta em atividade e toca violão nas horas vagas. Sonha em viajar o Brasil e o mundo para encontrar e contar histórias. Correspondente da Cidade Ademar desde 2022.
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