Mateus Fernandes/Agência Mural
Por: André Santos | Egberto Santana | Isabela Alves | Jessica Silva | Kaliny Santos | Mateus Fernandes | Paulo Talarico | Renata Leite | Tamiris Gomes
Notícia
Publicado em 29.11.2022 | 22:52 | Alterado em 30.11.2022 | 10:10
A seleção brasileira avança na Copa do Mundo do Catar e o clima da competição (e do hexa) tem tomado as ruas das periferias da capital e Grande São Paulo. Em Guarulhos, um grupo de moradores da Vila São Rafael pinta as ruas de verde e amarelo desde 1994, e a tradição segue em 2022.
O arquiteto Antonio Carlos, 46, é um dos organizadores. Ele é morador da Rua Excelsior, que ganhou as cores da bandeira do Brasil no asfalto. “Mais de 30 pessoas se envolveram [na decoração], criamos um grupo no WhatsApp para organizar a pintura e bandeirinhas no bairro”, conta.
Os recursos são dos próprios moradores, além de doações de tinta. “Saímos batendo nas portas pedindo doação, a gente só compra o pó xadrez para pigmentar as cores”, destaca Antonio.
“É tudo comunitário, iniciamos em 1994 e hoje são oito Copas de muita alegria e cor nas quebradas”
Antonio Carlos, 46, arquiteto
A sensação de nostalgia e os momentos de alegria entre amigos e vizinhos animam Antonio a enfeitar as ruas. E um desejo dele é que as próximas gerações continuem com a pintura. “Pra gente que nasceu em 1970, 1980, e já temos nossos filhos, netos, buscamos passar essa cultura pra frente”, comenta.
Rua Excelsior, Vila São Rafael, Guarulhos, na Copa de 2022 @Mateus Fernandes/Agência Mural
Rua Excelsior, na Copa 2022 @Mateus Fernandes/Agência Mural
Rua Excelsior na Copa de 1994 @Reprodução/Mateus Fernandes
Também na Grande São Paulo, em Osasco, há ruas decoradas na zona sul, região onde cresceu o atacante Antony – um dos três jogadores da cidade escalados para jogar na seleção.
Na Rua Leia Maria Ximenes da Silva, na região do Padroeira, uma camisa com o nome do atacante é a marca da pintura, além de outras como “Rumo ao Hexa” e o mascote do mundial.
Rua Leia Ximenes da Silva, em Osasco @Paulo Talarico/Agência Mural
Rua Leia Ximenes da Silva, em Osasco @Paulo Talarico/Agência Mural
Rua Leia Ximenes da Silva, em Osasco @Paulo Talarico/Agência Mural
Rua Leia Ximenes da Silva, em Osasco @Paulo Talarico/Agência Mural
Perto dali, na Rua Henrique Lofredo, todas as seleções da Copa estão representadas em uma descida íngreme. Os moradores pintaram bandeiras dos 32 países que participam do torneio em toda extensão da rua.
O Brasil aparece três vezes, no começo, no meio e no final da via, totalizando 34 bandeiras desenhadas ao longo da via.
Já na região norte de Osasco, no Jardim D’Ávila, o vendedor Rodrigo Alves, 38, conta que recuperou tintas da Copa passada para pintar a Avenida Osvaldo da Costa.
“Na minha infância a gente sempre enfeitava a rua. A Copa de 2002 [em que o Brasil foi pentacampeão] me marcou. Eu era adolescente, acordava de madrugada para assistir no bar da minha mãe”, relembra Rodrigo.
No mesmo bairro, as empreendedoras Raniery Sheila, 37, e Lais Barsotti, 33, conversaram com os moradores da Rua Domitila d’Abril para colocar bandeirinhas. No final, cada pessoa colaborou com R$ 20.
Na Rua Ênio Gomes da Silva, na Vila Piauí, o técnico de informática Marcelo Henrique, 32, não contou com muitos moradores no rateio das tintas, mas decidiu decorar mesmo assim.
“Desde pequeno a gente faz isso, mas dessa vez a galera da rua não quis se juntar para pagar alguém para pintar. Então nós fizemos”, diz.
O clima da Copa também chegou em Mogi das Cruzes, no Alto Tietê, na Grande São Paulo. Na manhã de 24 de novembro, dia de estreia do Brasil na Copa do Mundo, Saulo Gonçalves dos Santos, 26, carregava um balde de tinta verde para pintar a rua de sua casa, no Conjunto Santo Ângelo.
Saulo trabalha como encarregado num supermercado do bairro e a ideia de pintar a rua surgiu a partir de uma conversa dele com um primo. Aproveitaram o evento para “fazer festa”, segundo ele.
De acordo com Saulo, além de ser uma fonte de diversão, colorir as ruas do bairro serve para amenizar o momento político pelo qual o país tem passado. “Desde a [Copa] anterior, a gente nunca mais viu as ruas pintadas ou todo mundo se animando. Dessa vez a gente quis fazer diferente”, completa.
Além de Saulo e o primo, outros vizinhos se juntaram para ajudar a comprar as tintas e as bandeirinhas do Brasil. “A gente fez uma vaquinha, cada um deu o que podia e fizemos as compras da tinta, das fitas”, conta.
Em Poá, também na Grande São Paulo, os moradores da Rua Guararema, no bairro de Calmon Viana, já possuem uma tradição de ver a rua pintada com os símbolos da Copa desde 2014.
O comerciante Wanderley de Carvalho Rodrigues, 42, mais conhecido como Tatu, é um dos responsáveis por arrecadar dinheiro e organizar os moradores para decorar.
A decoração ocorreu durante uma semana e, em grande parte, durante a noite, onde o volume de carros é menor. “Todos ajudam, adultos e crianças e assim não deixamos morrer a tradição”, comenta Tatu.
As fitinhas verde e amarelo foram recicladas da Copa de 2018, um fator importante em um momento de dificuldade na economia.
Alguns metros dali, na Rua 7 de Setembro, próximo a estação de trem de Calmon Viana, os desenhos que preenchem o muro são de Tinho, apelido de Vicente Rodrigues, 56, fiscal de supermercado.
Ele pinta a rua desde 2014 e neste ano também contou com a ajuda de comerciantes locais. “Não cobro nada, é mais para enfeitar a rua. Enquanto Deus me der força, saúde e mais quatro anos de vida, estarei decorando a 7 de Setembro.”
Em outra parte do município, em Nova Poá, a Rua João Garrido Ramos Filho ganhou cores por iniciativa dos pequenos. Eduardo Bernardino da Silva, 41, começou a prática na Copa de 1994 e hoje quem se mobiliza é a filha de 16 anos e as crianças do bairro.
Abaixo da João Garrido, a extensa Walter José Lamberti faltou com a decoração em 2018, mas nesse ano, mesmo com o atraso do mundial, a pintura retornou. Natália Sena Bispo, 32, é uma das organizadoras. Para ela, a importância da ação está na união entre os vizinhos.
Rua Walter José Lamberti, em Nova Poá @Egberto Santana/Agência Mural
Rua Walter José Lamberti, em Nova Poá @Egberto Santana/Agência Mural
Rua Walter José Lamberti, em Nova Poá @Egberto Santana/Agência Mural
Rua Walter José Lamberti, em Nova Poá @Egberto Santana/Agência Mural
Rua Walter José Lamberti, em Nova Poá @Egberto Santana/Agência Mural
Dona de um brechó na garagem de casa, ela ganhou uma nova visão na frente do comércio: a ilustração de uma grande bola verde e amarela ao lado dos anos vencedores do Brasil na Copa.
A participação e incentivo dos comerciantes dos bairros também é presente nas quebradas do Grajaú, na zona sul da cidade de São Paulo. A torcida pelo hexa aparece nas bandeiras e arcos de bexigas que enfeitam os estabelecimentos, e até nos anúncios de preços dos supermercados.
Uma dessas comerciantes é Valduína de Souza, 57, que enfeita o seu bar apenas durante a Copa. Dona do estabelecimento no bairro do Cantinho do Céu há 30 anos, ela diz que as bandeiras chamam a atenção dos clientes. “Eu só acompanho futebol durante a Copa e estou torcendo para o meu Brasil ganhar”, diz.
Quem também enfeitou a barraquinha com as cores da bandeira foi o vendedor de churros Jociei Pereira da Cruz, 56. Para ele, a Copa do Mundo chegou no momento certo para trazer mais alegria ao povo brasileiro depois de momentos tão difíceis, como a pandemia de Covid-19.
“Agora todo mundo é uma torcida só. É o que o país estava precisando, para que as pessoas que estão distantes se ‘ajuntem’ e fiquem mais alegres. A seleção está vindo forte e os nossos meninos estão voando. Brasil é Brasil”, comenta, animado.
Ainda na zona sul, o ajudante de obra autônomo, Alberto Lopes, 28, fez sua estreia como desenhista de figuras para a Copa na Rua João Valera Gomes, do Jardim Imbé. É também a primeira vez que a rua, no distrito do Capão Redondo, foi decorada.
O convite partiu de alguns moradores que sabiam do talento dele. Para projetar os riscos em grandes desenhos, houve um mutirão de mais de 10 pessoas, em sete dias de trabalho.
Desenhos de Alberto Lopes no Jardim Imbé @Reprodução
Desenhos de Alberto Lopes no Jardim Imbé @Reprodução
Desenhos de Alberto Lopes no Jardim Imbé @Reprodução
Desenhos de Alberto Lopes no Jardim Imbé @Reprodução
O rateio para custear as tintas e bisnagas veio dos moradores. Para os desenhos que cobrem 110 metros de trecho da rua, foram usadas duas latas de tinta de chão na cor branca, diluídas em água para poder render. O valor de cada lata de 5 litros foi de R$ 300, além dos R$ 70 em bisnagas.
O trabalho voluntário foi pago pelos moradores com cerveja e churrasco no primeiro jogo do Brasil, no dia 24 de novembro.
De um modo geral, a sensação é de que houve menos mobilização prévia para enfeitar as ruas como se viam em edições anteriores. Era comum, meses antes do torneio, as ruas estarem com as bandeirinhas penduradas, muros e asfalto pintados com o logo da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e a bandeira do Brasil.
Para Danilo da Silva Cavalcante, 37, morador do Sobradinho, na zona norte de São Paulo, o que faltou no bairro foi a organização dos moradores que existia antigamente. “Os amigos da época estão casados e se mudaram, e os poucos que ficaram não tocam no assunto de pintar a rua ou colocar bandeirinhas”, lamenta.
Já vai longe o tempo em que Danilo e os amigos pintavam a rua e penduravam bandeirinhas. Segundo ele, isso ocorreu na época em que o Brasil foi tetracampeão (em 1994) e depois pentacampeão (em 2002), há exatos 20 anos.
Um dos obstáculos deste ano foram os preços dos insumos para decorar as ruas, como tinta, pincel, rolinho, brochas. “Todos os anos fazíamos vaquinha para comprar tudo, alguns já tinham pincel, rolinho ou até mesmo tinta que não iriam usar mais e acabavam doando pra gente”, reitera Danilo.
Outra hipótese que poderia ter levado a essa perceptível diminuição de ruas enfeitadas para a Copa é a polarização política do país, justamenteum ano de eleição presidencial.
“Acredito que o clima político seja um dos fatores, porém, não o principal”, opinar o moradorMário Sergio Cardoso Santos, 33, de Pirituba. Outro ponto levantado por ele é o crescimento dos condomínios nos bairros, o que gera menos ocupação do espaço público pelas pessoas.
Jornalista, entusiasta do carnaval, do futebol de várzea, de bares e cultivador assíduo da sua baianidade nagô! Correspondente do Jardim Fontalis desde 2017.
Jornalista, também é crítico de cinema e redator. Sempre ouvindo ou assistindo alguma coisa, do novo ao velho, do longa-metragem ao reels do Instagram ou Tik Tok. Correspondente de Poá desde 2021.
Graduada em jornalismo pela Universidade Anhembi Morumbi (UAM) e pós graduanda em Mídia, Informação e Cultura pelo Celacc/USP. Homenageada no 1° Prêmio Neusa Maria de Jornalismo. Correspondente do Grajaú desde 2021.
Jornalista formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, Pedagogia e Mestra em Educação pela PUC-SP. Ama fotografias, séries, filmes e não vive sem Netflix. Correspondente de Mogi das Cruzes desde 2013.
Jornalista e pós-graduanda em Direitos Humanos pela Unifesp, atua como analista de comunicação no Instituto Jatobás. Correspondente de Osasco, na Grande São Paulo, desde 2022.
Favelado metido a palestrante, contrariando as estatísticas por aí! Graduando em Psicologia pela Universidade São Judas Tadeu. Coordenador do Cursinho Popular Cora Coralina. TEDx Speaker de GRU/SP. Apaixonado pelo rap e o funk. Correspondente de Guarulhos desde 2021.
Diretor de Treinamento e Dados e cofundador, faz parte da Agência Mural desde 2011. É também formado em História pela USP, tem pós-graduação em jornalismo esportivo e curso técnico em locução para rádio e TV.
Jornalista. Apaixonada por contar boas histórias, movida pela curiosidade e inquieta por natureza. Correspondente do Capão Redondo desde 2022.
Editora-assistente da Agência Mural. Fã de cinema, poesia e barulho de mar. Cofundadora e correspondente de Poá desde 2011
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