O que crianças das periferias esperam das eleições 2018?
Por: Lucas Veloso
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Publicado em 06.10.2018 | 16:17 | Alterado em 16.08.2021 | 21:12
Tempo de leitura: 5 min(s)
Limpar o banheiro da praça no bairro, aumentar o tamanho da escola para mais alunos conseguirem estudar, tirar os animais das ruas, parar com os estupros e que os pais deixem de bater nos filhos.
Estas são algumas propostas de crianças da zona leste de São Paulo ouvidas pela Agência Mural sobre o que esperam que mude com as eleições de 2018. A votação será neste domingo (7). Menores de 16 anos não votam, mas as políticas públicas apresentadas pelos presidenciáveis e governadores têm relação direta com o futuro delas.
A noção desse impacto é sentida pelos pequenos, que apontam a falta de estudo, de comida e a violência como problemas.
“A política são as pessoas que cuidam do país”, diz Emilly Candida Ferrarez, 8, moradora de Guaianases. Já Davi de Almeida, 5, faz planos, caso um dia seja parlamentar. Ele diz ver que os políticos não se preocupam com as crianças. “Eu ia mudar o parque, a praça, a quadra, a escola, mudaria os livros pra fazer atividade”, opina.
Mesmo dizendo que não sabe sabe explicar o que é política, Aiyra de Almeida, 9, pensa que os políticos deviam tirar a sujeira das praças, além de outra ações a favor das crianças que não estão no sistema público de ensino. “Devia mudar a escola, deixar maior para mais alunos entrarem. Dar casa para as crianças que moram nas ruas e dar comida para elas também”, resume.
Manuela Caravante, 6, aluna do primeiro ano do ensino básico, acredita que no Brasil “deveria mudar a maldade e também que as pessoas não sejam obrigadas a abandonar cachorro na rua”.
Para Kemely Raquel, 9, moradora de São Mateus, a política é “votar em alguém”, e que no país deveria mudar “as pessoas que estupram, matam e roubam”. Com 10 anos, João Prado vê política como algo para melhorar o Brasil. “Acho que deveria mudar o estupro e também ajudar as crianças doentes e trazer as que estão na rua para dar comida”, acrescentou.
A preocupação com a educação parece ser uma prioridade entre elas. Davi de Almeida, 5, diz ter várias coisas para mudar, como a quadra da escola em que estuda, a praça em frente de casa, além dos livros escolares. Para Gabriel Selefonte Silva, 9, os políticos se preocupam com as crianças e por isso deveriam “mudar as carteiras [da escola], que ficam riscadas de lápis e também dar caderno novo”.
Nos planos de governo registrados pelos presidênciáveis, as crianças são citadas 88 vezes pelos 13 concorrentes ao comando do Palácio do Planalto.
A maioria das citações estão no texto mais longo de Guilherme Boulos (PSOL). Ao todo, foram 25 vezes. Uma das propostas é o aumento de vagas em creches e a indicação de faixa etária em programas e propagandas. “Oferecer atendimento público e humanizado para mulheres cis, travestis, transexuais e crianças, em situação de vulnerabilidade”, diz um dos trechos.
Em seu plano de governo, Fernando Haddad (PT), fez 18 menções às crianças. Um dos tópicos indica prioridade na primeira infância, que vai dos 0 aos 6 anos de idade, etapa fundamental para o desenvolvimento humano, segundo o candidato. O aumento de vagas nas creches, diminuição da mortalidade infantil e a efetivação do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), com ações de combate ao trabalho infantil, proteção e ampliação no atendimento da rede de proteção aos menores são outros propostas apresentadas.
“Vamos criar um programa específico para cuidar de todas as crianças nessa faixa etária [de 0 a 3 anos]”, diz Ciro Gomes (PDT) no tópico “Investir maciçamente na educação”. O termo é usado 12 vezes no plano, sendo que a primeira vez é quando o candidato cita a ideia de aumentar a rede de creches no país, para dar oportunidade para mães que queiram ingressar no mercado de trabalho. O candidato se coloca contrário à redução da maioridade penal penal também, em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente e do Estatuto da Juventude, o ECA.
A ex-senadora Marina Silva (Rede) fala ‘criança’ 10 vezes em seu plano de governo. A candidata separou um capítulo “Criança é prioridade absoluta” para expor sua visão sobre o público. Ela classifica a primeira infância como período importante no desenvolvimento humano. Ela promete um acordo entre estados e municípios para implementar a Base Nacional Comum Curricular, além de prevenir e atender as meninas que engravidam na adolescência.
Como previsto em outros planos, João Goulart (PPL) também propõe, se eleito, zerar o déficit de creches e pré-escolas nos próximos quatro anos. Além disso, ressaltou a importância da educação na primeira infância.
No tópico de Educação de João Amoedo (Novo), o candidato afirma que pretende dar ensino de “de qualidade e conhecimento para que as crianças e os jovens possam construir seu futuro em um mundo em transformação”, define. As creches aparecem no documento como projeto a longo prazo, além de acreditar na proteção social como o caminho para cidadania plena e fim da pobreza. “Temos ainda 42% das crianças e adolescentes de até 14 anos vivendo em pobreza extrema e que precisam de proteção social”, aponta Amoedo. Ao todo, 6 citações.
“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”, é assim que Bolsonaro (PSL) introduz o plano de governo com cinco menções às crianças. A primeira trata do combate ao estupro de mulheres e crianças. As demais citações ficam no campo da educação. “Será possível detectar e corrigir dificuldades no processo de formação de nossas crianças e jovens. Com isso, acreditamos que todos os indicadores irão melhorar, na busca de um jovem melhor preparado para o futuro e para a vida”, define o documento.
“Como esperar que uma criança pobre possa competir em igualdade de condições com uma criança rica quando o destino delas foi selado no momento do nascimento?”, essa é uma das perguntas encontradas nas 21 páginas do plano de governo de Meirelles (MDB). Com cinco citações, o presidenciável fala que apesar de gastar 6% do PIB (Produto Interno Bruto) em educação, as crianças que vão à escola aprendem pouco. O candidato propõe o Pró-Criança, programa de acesso à creches particulares.
Também com três citações, Geraldo Alckmin (PSDB) diz que irá promover a integração dos projetos sociais, a fim de que as crianças tenham igualdade de oportunidades. Alckmin ainda indica uma rede contra o tráfico sexual e a alfabetização de todas as crianças brasileiras até 2027.
Famoso pelo jingle, ‘Ey, Ey, Eymael, um democrata cristão’, Eymael (Democracia Cristã) cita criança 3 vezes no plano de governo. A média é de uma citação a cada três páginas. Para elas, ele propõe ensino inclusivo, para educar crianças e jovens portadores de necessidades especiais.
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