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Crianças sofrem com a desigualdade social na Vila Maria/Guilherme

Sob o medo constante de incêndio, moradores de comunidade criam os filhos e esperam solução da prefeitura há décadas

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Por: Redação

Publicado em 02.01.2018 | 14:49 | Alterado em 02.01.2018 | 14:49

Tempo de leitura: 3 min(s)
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A diarista Aline Lima, com o filho Gabriel, na porta de casa na Vila Maria/Vila Guilherme (Sidney Pereira/32xSP)

Moradores da Vila Guilherme, os meninos Gabriel Lima, 1, e João Pedro Ricciardi, 3, são quase vizinhos, mas a diferença no padrão de vida deles é visível. A família de Gabriel mora na comunidade do Coruja, a apenas 300 metros do confortável prédio onde reside a de João Pedro.

O abismo social entre eles foi revelado pelo Mapa da Desigualdade da Primeira Infância, estudo sobre as condições de vida das crianças nos 96 distritos de São Paulo, com base no acesso a serviços e equipamentos públicos.

No levantamento, Vila Guilherme e Vila Maria ficaram entre os sete piores distritos da cidade, na avaliação da qualidade de vida das crianças de até cinco anos. Algumas áreas dessa região da zona norte têm grupos com média, alta ou muito alta vulnerabilidade social.

O Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS), da Fundação Seade, colocou a Vila Guilherme em 93º lugar, com 12,5% de crianças nessa situação, e a Vila Maria em 90º lugar, com 11,8%.

Enquanto o menino João Pedro adora ir ao playground do condomínio, a calçada é o único espaço da comunidade para Gabriel brincar com os amiguinhos.

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A mãe do garoto, a diarista Aline Lima, 27, diz que sempre viveu ali e agora cria os seis filhos em um barraco de blocos e tábuas de madeira, com quarto, cozinha e banheiro. O mais velho tem nove anos e o caçula nasceu em dezembro no único hospital público da região. A diarista confessa que “sonha” em morar em um lugar melhor.

A comunidade do Coruja, criada há mais de 40 anos, abriga 180 famílias, de até 10 pessoas. A líder comunitária Heleneir de Jesus, 53, conhecida como dona Pingo, comenta que ali não há rede de esgoto e a de água foi ligada há apenas um ano, mas diz não ter queixas sobre as unidades de saúde ou escolas infantis na Vila Guilherme.

“A gente sempre consegue vagas nas creches e escolas, e só não leva o filho no posto [de saúde] quem não quer”, fala.

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A líder comunitária Dona Pingo, cercada por crianças (Sidney Pereira/32xSP)

Por outro lado, a segurança das famílias é uma preocupação constante. O Coruja fica colado às torres de transmissão de energia elétrica, nos dois lados da avenida Guilherme, e já passou por vários incêndios. A líder comunitária desabafa: “‘Nós temos medo de trovão, de relâmpago.

A maioria das casas é de madeira e o risco é grande. Dois moradores morreram no último incêndio, no carnaval [de 2017]. Meu barraco de madeira foi destruído, perdi tudo e fiquei só com a roupa do corpo. Depois construí um de alvenaria, mas também não fico tranquila”.

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Ela fala que a área em torno da comunidade foi enquadrada pela prefeitura como Zona Especial de Interesse Social (ZEIS), para a construção de habitações populares, regularização fundiária e urbanização.

“Isso foi há dois ou três anos. Estou aqui há 35 anos e a moradia é o nosso maior problema. É um entra e sai de prefeito, vou a muitas reuniões e sempre ficamos na promessa”, declara.

Segundo o Mapa da Desigualdade 2017, há 6.602 domicílios em favelas nos três distritos da prefeitura regional Vila Maria/Vila Guilherme.

HISTÓRIA DA DESIGUALDADE

Em nota, a prefeitura de São Paulo reconheceu a “histórica desigualdade existente na cidade” e alega que “trabalha para reduzi-la”. Entre as ações estão “a criação de mais de 18 mil vagas em creches” e um plano de apoio à primeira infância, firmado entre as secretarias de Educação, Saúde e Assistência Social.

A medida prevê um número único de identificação para a criança e a integração dos serviços, para acompanhar os menores e suas famílias, desde o pré-natal até os seis anos. Na área da Saúde, para toda a cidade, 56 novos pediatras foram contratados, pelo programa Mais Médicos, além de 68 residentes para os hospitais municipais.

Já a secretaria municipal de Habitação alega que “enfrenta um déficit de mais de 369 mil novas moradias na capital”.

Na zona norte, está prevista a construção de 3.258 imóveis. Com previsão de conclusão em 2018, o órgão declara que executa, na região da Vila Maria/Vila Guilherme, “projeto de urbanização em 15 assentamentos precários, com 3.550 domicílios em favelas e 780 unidades em áreas de readequação habitacional”.

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