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Agência de Jornalismo das periferias

Tatiane Araújo/Agência Mural

Por: Tatiane Araújo

Notícia

Publicado em 04.10.2022 | 16:51 | Alterado em 07.10.2022 | 11:18

Tempo de leitura: 3 min(s)

Quem passa pela avenida Zélia, em Barueri, na Grande São Paulo, percebe a presença de diferentes farmácias, mas uma delas se destaca pela fachada comercial onde se lê: “Drogaria do Miro desde 1985”. Fundada por Aldemiro Martins da Silva, 60, foi a primeira drogaria do bairro Parque dos Camargos, resistindo há 37 anos no mesmo endereço.

O estabelecimento é mais antigo do que o SUS (Sistema Único de Saúde), que só foi implementado mais tarde pela Constituição Federal de 1988 e formalizado em 1990 pela lei nº 8.080. Antes dele, a política de saúde que funcionava no país era o INAMPS (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social), criado em 1977 e extinto em 1993.

Durante esse período, somente era atendida a população formada por aqueles que trabalhavam em empregos formais com a carteira assinada e contribuíam com a previdência social. Assim, era muito comum as pessoas procurarem drogarias para se consultarem, pois o acesso à saúde pública era limitado.

A drogaria existe há 37 anos no mesmo endereço, mesmo com a chegada de grandes redes no bairro @Tatiane Araújo/Agência Mural

Miro, como é conhecido na região, se lembra que nos primeiros anos era muito procurado por clientes para indicação de medicamentos, curativos, injetáveis no músculo e até para arrancar dentes.

“Me procuravam para tentar resolver os problemas de saúde, mas sempre fiz isso bem consciente”, diz ele, afirmando não ser médico. “Quando o problema passava da minha capacidade, sempre indicava procurar um profissional”, complementa.

Débora Conceição da Costa, 45, cliente da drogaria há 35 anos, lembra de um episódio em que ele salvou a vida da filha, na época, com quatro anos. “Levei ela até o Miro com muita febre, pois não havia termômetro em casa. Ao medir a temperatura dela, ele indicou procurar um médico, pois ela poderia ter convulsões”, conta.

Depois do SUS, também foi criada a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), em 1999, que ajudou a fiscalizar o funcionamento de drogarias e farmácias no país. Miro se recorda dessa época.

“Antigamente era ‘terra de ninguém’, as farmácias faziam o que queriam, vendiam remédios controlados sem controle, faziam procedimentos diversos e preparavam garrafas (misturas de medicamentos) sem controle algum e sem pensar na saúde do paciente”, comenta, orgulhoso de nunca ter feito isso.

Os anos se passaram e, assim como a saúde pública avançou no Brasil, a famosa drogaria do Parque dos Camargos, que era só uma portinha sem funcionários, hoje tem três farmacêuticos no balcão e outros ajudantes que estão se especializando na função.

A Drogaria do Miro conta com três farmacêuticos e outros ajudantes @Tatiane Araújo/Agência Mural

Apesar dos progressos, o estabelecimento, que exibe prateleiras cheias de medicamentos e cosméticos, tem na entrada uma balança de ponteiro antiga que ainda funciona, lembrança dos anos 1980. Além disso, mantém a tradição de não fazer propaganda e não trabalhar com cartão fidelidade, mas sim colocar o cliente em primeiro lugar com um trabalho honesto.

Segundo o proprietário, o atendimento humanizado é o diferencial da Drogaria do Miro. “As grandes redes vieram para vender mais barato, fazer negócio e ter lucro. Colocam mão de obra barata e, assim, acabam atendendo o cliente sem qualidade nenhuma”, afirma.

O farmacêutico mais antigo da casa, Alaide Lopes da Silva, 57, que trabalha com o Miro há mais de 12 anos, confirma. “Já trabalhei em outros locais onde eu tinha que bater metas. Aqui a única meta é atender bem o cliente e ser honesto”, diz.

A balança na porta drogaria é uma lembrada dos anos 1980 e ainda funciona @Tatiane Araújo/Agência Mural

Para o fundador, os funcionários e clientes são como uma imensa família, isso porque ele tem clientes que atende há anos. Edna Maria da Costa Silva 50, moradora do Parque dos Camargos há 35 anos, é uma dessas clientes.

“Ele já me poupou de comprar remédios desnecessários, indicando algo que faria a diferença e às vezes indicava um medicamento similar que já tinha em casa, evitando a compra. Ele nunca foi do tipo que empurra medicação pelo retorno financeiro”, fala.

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Tatiane Araújo

Jornalista apaixonada por contar e ouvir histórias, ama a rua, gatos, música e produções audiovisuais. Correspondente de Barueri desde 2021.

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