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Em Paraisópolis, estúdio 7 Notas abre espaço para músicos das periferias 

Léu Britto/Agência Mural

Estúdio é projeto selo da Universal Music Brasil e tem parceria com a Canguru Records

Por: Livia Alves

Notícia

Publicado em 17.06.2024 | 12:34 | Alterado em 17.06.2024 | 22:23

Tempo de leitura: 4 min(s)

Apesar de ser um projeto recente se comparado aos estúdios tradicionais centrais, a ideia de dar espaço para músicos da quebrada foi plantada durante o ensino médio por meio da amizade entre Mike e Mateus. Em 2017, o sonho tomou forma com a entrada da jornalista Glória Maria, 24.

Ela estava no fim do ensino médio, quando fazia debates e rodas de conversas relacionadas à violência policial. Na época, pensou em como fazer algo na comunidade onde vive. “Fiz um post nas redes sociais procurando MC’s pra conseguir fazer uma batalha de rima. Foi quando encontrei o Mike e a gente fundou a Batalha do Paraisópolis”, compartilha Glória, que também é correspondente da Agência Mural.

Dali, no coração de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, nasceu o 7 Notas, projeto que amplia as vozes de jovens músicos das quebradas, que provavelmente não teriam acesso facilitado à indústria musical.

A jornalista Glória Maria com os integrantes do estúdio 7 Notas, em Paraisópolis @Léu Britto/Agência Mural

O estúdio é atualmente financiado pela Canguru Records, e tem parceria com a Universal Music. Dessa parceria, nasceu a Canguru Paraisópolis que já tem em média mais de 60 músicas captadas, sendo 6 músicas do Mano Mike.

Mike Jhonatan Silva Santos, 28, conhecido como Mano Mike, é o fundador do 7 Notas e se tornou referência por ser o primeiro artista de Paraisópolis a conquistar um selo de uma das maiores gravadoras do mundo.

O jovem, músico e diretor geral e artístico do estúdio, possibilitou que o projeto fosse público e gratuito, com o objetivo de trazer um espaço inclusivo para moradores das periferias.

Mike é músico desde os 14 anos, época em que frequentava rodas de violão com os amigos e em pistas de skate, onde explorava e aprendia mais sobre música. Aos 16 anos, costumava ir aos rolês da cidade com o violão nas costas com um repertório mais orgânico. Até então, o sonho de se tornar músico profissional parecia distante.

Quando a música passou a ser profissão, o jovem notou a baixa acessibilidade a espaços para a produção.

‘Eu já estava fazendo um som, me considerava músico, já estava pensando na minha carreira profissional, e a gente bateu de frente com essa dificuldade que era de captar o som’

Mike, músico de Paraisópolis

Buscando uma gravação de qualidade, Mike chegou a procurar um estúdio profissional, porém, não recebeu a assistência que esperava.

“Cheguei uma vez a ir num estúdio pago, paguei por hora e não foi uma recepção tão boa, a galera estava mais focada no ‘terminou sua hora você vai embora’. Pra gente que tinha juntado um dinheiro que não tinha naquela época, foi meio decepcionante.”

Músico em gravação no estúdio 7 Notas @Léu Britto/Agência Mural


Após essas situações, Mike e o amigo Mateus (ALLma) começaram a pensar em como fazer as próprias gravações e criar um espaço aberto para que músicos com as mesmas questões pudessem gravar.

Com uma trajetória semelhante, Mateus William Almeida, 30, conhecido como ALLma é cria do Paraisópolis, diretor musical no Estúdio Canguru Paraisópolis e educador de informática Básica, no Programa Einstein na Comunidade de Paraisópolis. Conta que iniciou na música fazendo rimas com amigos de escola.

“Iniciei na produção musical entre 2010 e 2011 de forma despretensiosa, quando um amigo da escola começou a fazer rimas (João Paulo Rocha dos Santos – JotaFlow) baixando instrumentais da internet. Naquela época, a acessibilidade e quantidade de instrumentais eram bem limitadas”, disse ALLma.

Mesmo sem conhecimento de tecnologia e produção musical, ALLma fez questão de aprender na prática, como forma de ajudar o amigo.

‘Tínhamos apenas um computador antigo e acesso a internet discada. A tentativa de ser útil a um amigo me ajudou a encontrar a profissão da minha vida, mesmo sem saber’

ALLma, produtor musical

Apesar do maior contato com a música, demorou alguns anos até Mateus vê-la como profissão. Fazia produção musical como hobbie e uma forma de fugir das dificuldades da vida. Porém, ao notar que se sentia melhor trabalhando com a arte, resolveu se aprofundar no tema e investir na carreira.

Mateus ALLma produtor musical @Léu Britto/Agência Mural

“Depois de alguns anos tentando me enquadrar em outras profissões, em 2018 uni o útil ao agradável e ingressei na faculdade de Produção Musical (Anhembi Morumbi) e oficializei o hobby como profissão. Tentei até uma faculdade de Direito, foram quatro semestre bem frustrantes”, desabafa.

O encontro de músicos

Mateus lembra quando conheceu o Mano Mike e passaram a sair para lugares semelhantes. Até que fundaram o coletivo InConvencional, formado pelos dois e um outro amigo, Jota Flow.

“No processo de reaproximação do Mano Mike acabei entrando no coletivo “Rimas PZS” que organizava a Batalha de Rimas do Paraisópolis, com isso acabei conhecendo a galera que hoje faz parte da nossa equipe”, comenta Mateus.

O 7 Notas, porém, veio com dificuldade, Mike conta que ele e ALLma trabalharam duro como entregadores de aplicativo para juntar dinheiro para comprar os equipamentos do estúdio. “Trabalhando no iFood na época, a gente alugou nosso espaço com o pouco que a gente tinha. Tinham alguns microfones de mão, uma caixa de outras parcerias e aos poucos a gente foi se estruturando”, relata Mike.

Inicialmente, o 7 Notas recebia turmas de jovens e dava aulas de produção musical, depois, após inovar a questão de produção, também passou a dar aulas de composição.

Léu Britto/Agência Mural

Léu Britto/Agência Mural

Léu Britto/Agência Mural

“Dedico minha carreira não apenas à música e educação, mas também a causas sociais, acreditando no poder do rap como ferramenta de transformação. A música não é apenas uma expressão artística para mim, é uma plataforma para criar impacto e inspirar mudanças significativas”, afirma ALLma.

A consolidação do 7 Notas só foi possível graças à jornalista e diretora geral Glória Maria, que criou o edital em 2017 e conseguiu recurso pelo VAI (Valorização de Iniciativas Culturais).

“Eles pegaram um espaço que cruza a DZ7, que é o espaço onde fica o estúdio. Eu entrei e falei ‘vamos estruturar esse projeto’. Escrevi um projeto, aí a gente fundou o 7 Notas e passamos a dar formação para os jovens. Foram 8 turmas, 8 meses, 32 jovens formados. Tinha parte teórica e parte prática”, conta Glória Maria.

Para participar do projeto, há um formulário no link na bio do Instagram do 7 Notas.

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Livia Alves

Jornalista apaixonada pela cultura brasileira. Pansexual, youtuber e streamer pelo canal LadoPan nas horas vagas. Correspondente do Campo Limpo desde 2021.

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ERRAMOS

17.06.2024O texto inicial dizia que a Universal financiava o projeto, mas na verdade os recursos são da Canguru Records.

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