Por: Gabrielly Souza
Notícia
Publicado em 27.10.2025 | 18:16 | Alterado em 27.10.2025 | 18:16
Ex-aluno da Escola Estadual Maria Aparecida Rodrigues, localizada no Parque Alvorada, em Guarulhos, na Grande São Paulo, o assistente de recursos humanos Marcos Souza, 22, relembra o episódio ocorrido durante uma forte chuva de verão, poucos dias antes do início do ano letivo de 2018. A queda do muro.
A área afetada pelo desabamento abrigava uma quadra de vôlei, que precisou ser interditada devido ao risco de novos desmoronamentos. Desde então, quase oito anos se passaram, mas o espaço nunca mais foi utilizado pelos alunos nas aulas de educação física, mesmo após pedidos da direção por reparos.
Na época da queda, a unidade já enfrentava dificuldades cotidianas, como falta de giz e ventiladores quebrados em sala de aula. “Quando o muro da escola caiu, senti uma sensação de abandono. E não fui o único”, relembra Marcos. “Meus colegas e professores, que estavam ali todos os dias, também perceberam isso.”

Na quadra da escola, os alunos jogavam vôlei, antes da queda do muro, que ocorreu em 2018 @Arquivo pessoal/Divulgação
Marcos lembra que aquele espaço não era utilizado apenas para as aulas de educação física, mas também servia como local para ensaios de gincanas e saraus realizados na escola. Além disso, havia árvores frutíferas de amora e pitanga, cujos frutos os alunos aproveitavam na época.
“A gente via os meninos subindo no pé de amora, mesmo sabendo que não podia. Sempre tinha alguém levando bronca no meio da aula”, recorda.
A situação se arrasta há tanto tempo que impactou diretamente a trajetória escolar de diversos alunos.
Giovanna, irmã de Marcos, concluiu o ensino médio em 2024, mas, ao longo dos anos, tanto ele quanto a mãe viveram em constante preocupação com o risco de a estrutura ceder novamente enquanto ela estivesse em aula. O temor de um novo desabamento era permanente.

A área interna da escola com o mato alto, o que dificulta o acesso dos estudantes ao local @Gabrielly Souza/Agência Mural
Michelle Barros, 21, estudante de publicidade e propaganda e também ex-aluna da escola, mora na rua onde parte do muro desabou e acompanha a situação de perto. Após concluir o ensino médio em 2020, a irmã mais nova dela continuou estudando na unidade até o ano seguinte.
Ela afirma que, mesmo com as reformas internas feitas em outras partes do colégio durante a pandemia, a reconstrução do muro nunca foi incluída.
‘O muro fazia parte de uma das quadras onde a gente brincava. Com a queda, a escola perdeu um espaço essencial de convivência e prática esportiva’
Michelle, ex-aluna da escola
A estudante de administração, Danielle Borges, 22, expressa sua frustração ao relembrar o incidente de sua época de estudante.
Recentemente, ao passar por uma rua próxima à escola, ela ficou chocada ao ver que, apesar dos anos e da conclusão do ensino, nada foi feito para melhorar a situação.
“Quando a gente vai mais fundo nessa questão, percebe que tem um problema lá, caído há mais de sete anos, que não foi corrigido. Ao meu ver, não é um problema difícil de resolver, mas vem sendo empurrado com a barriga há todo esse tempo, a troco de quê?”, desabafou.
Segundo a diretora da escola, Maria Augusta Belucci, desde o desabamento, a única intervenção realizada no local foi a troca do tapume, feita três vezes (de madeira PVC para um material metálico). A quadra anexa continua interditada e sem uso.
Durante esse período, diversos funcionários da FDE (Fundação para o Desenvolvimento da Educação), incluindo engenheiros, estiveram no local para realizar medições. No entanto, até agora, nenhuma medida concreta foi tomada.
Maria Augusta afirma que já buscou diálogo com o secretário estadual de educação, Renato Feder, que a encaminhou ao responsável da FDE. No entanto, segundo ela, nenhuma providência foi adotada, nem mesmo a visita à escola, que havia sido prometida.

Situação atual de parte do muro após o desmoronamento com tapume metálico @Gabrielly Souza/Agência Mural
A direção compartilhou com a Agência Mural cópias de toda a documentação enviada à Secretaria Estadual de Educação de São Paulo desde 2018, cobrando providências para a demolição e reconstrução do muro de proteção da unidade.
Além dos ofícios, os pais dos alunos também organizaram um abaixo-assinado com mais de 40 páginas, exigindo um retorno concreto da Secretaria. “É muito tempo sem resposta”, desabafa.
Na tentativa de agilizar o processo, a escola encaminhou à Secretaria, no início deste ano, três orçamentos de prestadores de serviço cadastrados e que já trabalham com a instituição, na expectativa de obter a liberação de verba e início imediato das obras. No entanto, até o momento, nenhuma resposta efetiva foi dada.
Segundo a diretora, a maior preocupação, agora, são os riscos que a estrutura oferece durante o período de chuvas intensas. “O que nos resta é esperar, né?”, comenta, desanimada.
A Agência Mural questionou a previsão para a reconstrução da área prejudicada. Em resposta, a Secretaria Estadual de Educação afirmou que a URE (Unidade Regional de Ensino) de Guarulhos Sul está com o processo de licitação em andamento para a reconstrução do muro da escola, obra que também contempla a reforma completa da unidade. O investimento previsto para o projeto é de aproximadamente R$ 1,6 milhão.
Além disso, afirma que o NOM (Núcleo de Obras e Manutenção Escolar) da URE, em parceria com a FDE, realizou melhorias internas na escola, incluindo pintura, poda de árvores, manutenção das canaletas, entre outros serviços.
A pasta diz também que URE Guarulhos Sul, juntamente com a equipe gestora da escola, acompanha de perto as condições de segurança e permanece à disposição da comunidade escolar para quaisquer esclarecimentos. Em relação ao diálogo com o secretário Renato Feder, a Secretaria ainda não nos apresentou um posicionamento.
Jornalista e pós-graduanda em Jornalismo Cultural pela UERJ. Correspondente local em Guarulhos e moradora do bairro dos Pimentas. Também atuo como jornalista na TV Cultura.
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