Suzana Leite/Agência Mural
Por: Barbara Paula
Notícia
Publicado em 30.10.2024 | 15:22 | Alterado em 30.10.2024 | 16:46
Autodidata, o estilista e artista criativo Padduan Lopes, 22, como prefere ser chamado, nos conta porque se considera a nova promessa da moda periférica brasileira.
Cria do Capão Redondo, na zona sul de São Paulo, ele começou há um ano e sete meses a marca Seven Padduan e já produziu quatro coleções: “Batimento”, “Torre de Babel”, “Submundo”, “ O Vazio -Geneses 7”.
Ele vem construindo a nova coleção, que estreará em novembro. A última delas, “Geneses”, contou com um desfile no Museu das Favelas para um público de mais de 200 pessoas.
O começo foi complicado. Para comprar a primeira máquina de costura, ele se desdobrava em empregos noturnos, criação de conteúdo da moda e trabalhos como modelo.
Atualmente, para ser um negócio sustentável, a marca presta serviços de styling, ajudando as pessoas a desenvolverem um estilo próprio, cenografia, produções de curta metragem, clipes e outras confecções artísticas.
“Seven, número 7, é meu número da sorte, data do meu nascimento. A construção dessa marca só foi possível, pela minha rede de apoio e persistência, precisei aprender a administrar meu tempo, dar valor a ele e ao meu trabalho”, conta.
Padduan é um nome de origem indigena que significa “aquele que vem”. O designer queria um nome que representasse um novo começo para a trajetória, e escolheu essa denominação depois de uma mensagem espiritual que teve em sonho.
Como observador e amante da moda, ele relata que no Capão Redondo percebe as diferenças em estilos entre jovens e adultos, e vê personalidade na nova geração. “Olho ao redor e vejo cada vez mais jovens e crianças mais seguras de si no modo de vestir.”
O trabalho exigiu que ele aprendesse a como se organizar. Ele começou a contabilizar quantas horas leva para costurar determinada peça, como também organizar orçamentos e variedade de materiais para conseguir de fato manter o negócio e se sustentar.
Um grande apoio foi a contratação de uma assessoria e guardar a renda de vários trabalhos e freelas, que ia executando.
“Empreender é isso, dar valor ao seu trabalho, começar a partir do que tem e falar para sua realidade que você não quer mais ela.”
Trabalhando como influenciador, criador de conteúdo de moda e recriando peças, sentiu a necessidade de inventar novas e não apenas reproduzir.
Ele queria que o trabalho trouxesse impacto cultural e construísse uma moda que reafirmasse as próprias origens, ancestralidade, sensualidade e a diversidade da comunidade LGBTQIAPN+, dando maior representatividade as minorias.
Quando questionado sobre o que é moda, o estilista explica que hoje moda é consumo, é poder de compra, fome por tendências, mas também é comunicação, ferramenta de inclusão e poder empoderar as pessoas.
“Moda é o porquê dessa roupa, é um ato político. Quem vai representar essa roupa? Quem vai vestí-la? Quem são as pessoas interessadas nela? Existem muitos porquês por trás da construção de uma coleção, é muito mais que fazer roupas”, afirma.
‘A moda humaniza corpos como o meu, periféricos, pretos e LGBTQIAPN+ ‘
Padduan, estilista
O estilista afirma que as inspirações para produzir são as próprias pessoas, as novelas que assistia na infância, os clipes de músicas, a ancestralidade, o místico, a diversidade de corpos, texturas e o estilo dark, sensual e romântico do rock.
No processo criativo, revela que primeiro vem a inspiração, a ideia e a partir dela começa a pesquisa, e o aprofundamento técnico.
“Já teve peça que finalizei no dia do desfile, ali no camarim, porque mudei de ideia, ou porque queria mudar a proposta para aquele momento. E a Seven, é isso, uma constante em movimento, o que ela é hoje, não será amanhã. Por isso pergunto a pessoa: o que você quer vestir no hoje?”
A primeira coleção dele, “Batimento”, surgiu durante a recuperação de duas paradas cardíacas que teve aos 19 anos de idade. Foi ela que abriu a marca ao mundo, trazendo o que ele descreve como um reencontro com a saúde física, mental e espiritual, como também da autoestima, amor próprio e essa nova chance de viver.
“A moda é criar uma nova sociedade, uma ferramenta que me protege nas ruas, e reafirma a minha existência, independentemente de opiniões, a roupa te traz poder sobre si e quebra padrões que foram impostos.”
Para ele, idealizar faz parte do trabalho, não somente a confecção em si. Por exemplo, para a segunda coleção, Torre de Babel, o estilista foi buscar na bíblia o que seria paz, e entender como ela é vista pela religião de maior domínio nacional.
Dessa pesquisa, veio a Trilogia criativa: “Torre de Babel”, representando a desordem estrutural; “Submundo”, representando a queda da torre, nós seres humanos tentando sobreviver à realidade, ao mundo e “O Vazio Geneses 7”, representando a saída, a tentativa de voltar a paz prometida.
O estilista comenta que aprendeu a costurar sozinho, a coleção “ Geneses 7” foi a primeira confeccionada toda na máquina.
Torre de Babel foi a coleção mais desafiadora para o artista até agora, apesar de serem apenas 5 composições, ela foi o primeiro desfile da marca. Umas das peças foi um vestido de noiva, foi a que mais deu trabalho e precisou de ajustes. Já a última coleção do estilista teve bastante repercussão.
Essa última coleção contou com uma deusa, que o artista chamou de a mãe das 7 faces, representando os mundos. O artista também compartilhou pequenos spoilers anunciando que na próxima estreia também terá uma deusa, mas que não será uma de tradição nacional.
A seletiva para os modelos da nova coleção contou com mais de 600 inscrições por meio de um vídeo de convocação que viralizou com mais de 17 mil visualizações, mas o estilista deve escolher somente 20 modelos.
Quando questionado sobre ser a nova promessa da moda, o artista responde: “E por que não? Eu sou uma promessa”.
Jornalista, comunicadora e modelo. Apaixonada por moda, poesia, fotografia, arte e cinema. Uma geminiana, humanista e ovolactovegetariana muito falante e risonha. Correspondente de Capão Redondo desde 2023.
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