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Agência de Jornalismo das periferias
32xSP

Estudo indica que vacinação contra Covid-19 deve priorizar também as periferias

Segundo pesquisa do Instituto Pólis, campanha de vacinação focada nas desigualdades de classe e raça seria mais efetiva para combater o coronavírus

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Por: Raquel Porto

Notícia

Publicado em 24.03.2021 | 21:40 | Alterado em 20.03.2024 | 12:13

Tempo de leitura: 3 min(s)

A Covid-19 acometeu mais pessoas negras de bairros periféricos do que brancas da região central ou de endereços nobres. Segundo profissionais ouvidos pela reportagem do 32xSP, priorizar a vacinação nas zonas de maior contágio criaria “bolhas” de imunidade mais efetivas no controle do vírus.

Essa é a conclusão a partir do estudo “Abordagem territorial e desigualdades raciais na vacinação contra Covid-19”, feito pelo Instituto Pólis.

Entre os meses de março e dezembro de 2020, no município de São Paulo, os homens negros tiveram maior taxa de morte (52%) em relação aos homens brancos. O mesmo acontece com as mulheres negras (56%) em relação às mulheres brancas.

Focar a vacinação nas periferias seria estratégia mais eficaz (Magno Borges/32xSP)

No caso específico de pessoas idosas com mais de 75 anos, no distrito de Santa Cecília, no centro, há 4,33% dessa população, e a porcentagem de óbitos foi de 2,81%.

Já no bairro de Sapopemba, zona leste da capital, moram 0,97% de pessoas com essa faixa etária e os óbitos chegaram a 1,46% durante o ano de 2020. Os números são do SIVEPGripe/SMS-SP e IBGE – Censo 2010.

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De acordo com Deivison Faustino, professor do programa de pós-graduação em Serviço Social da Unifesp e pesquisador do Instituto Amma Psique e Negritude, o vírus pode ser considerado democrático, como se afirmava no início da pandemia, no entanto, as condições de infecção e de morte não são.

As pessoas negras são as que mais estão presentes nos trabalhos precários ou atividades que tiveram mais dificuldade em parar: enfermeiras, auxiliares de enfermagem, empregadas domésticas”, diz.

“As questões sociais, as desigualdades raciais no Brasil fazem com que elas fiquem mais expostas ao vírus”, explica o pesquisador.

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O estudo aponta que é importante identificar os lugares onde o vírus mais circula e consequentemente faz mais vítimas. Portanto, a vacinação precisa ter uma estratégia de proteção populacional em escala demográfica.

Um vírus tão contagioso só pode ser barrado se a imunização priorizar grupos etários e portadores de comorbidades levando em consideração os critérios territoriais.

“Concentrando os imunizantes em determinadas zonas, poderia criar ‘bolhas’ de imunidade que se comportariam como barreiras físicas à circulação do vírus, com potencial de reduzir a taxa de contágio nas cidades como um todo”, indica o Instituto Pólis.

DISTRITOS MAIS AFETADOS

A pesquisa afirma que os distritos com maior número de hospitalização e sobremortalidade da população idosa, sobretudo negra, é onde deve ocorrer a prioridade de imunizantes.

Alguns deles são: Brasilândia, com 450 óbitos confirmados por Covid-19 desde o início da pandemia, Sapopemba (516), Freguesia do Ó (321), Grajaú (416), Iguatemi (208), Jardim Ângela (337), Jardim Helena (196), Lajeado (238) e São Mateus (271).

Jardim Damasceno, na Brasilândia, zona norte de São Paulo (Ira Romão/32xSP)

Para Deivison Faustino, além de identificar os lugares com sobremortalidades pelo vírus, é importante também uma pressão popular por vacinas para toda a população brasileira.

Médicos e enfermeiros que atuam em bairros periféricos têm a opinião que vai de encontro com a proposta do estudo. Como a médica Ingrid Sayuri Kinchoko, que trabalha em uma UBS no distrito de Cangaíba, zona leste de São Paulo.

“A vacinação como já é feita é uma boa forma de imunização, porém se ela também priorizasse os moradores das periferias, mais os idosos, teria uma taxa importante de proteção para a cidade e estado”, comenta Ingrid

Ainda segundo o professor Deivison, “o estudo permite criar um caminho de imunização que começa pelos mais afetados e vai em direção aos menos afetados e isso seria muito mais eficiente”.

“Fazer uma distribuição mais indistinta, homogênea, desperdiça esforços onde as pessoas já estão protegidas por fatores sociais, econômicos, e deixa de priorizar os lugares onde as pessoas estão mais vulneráveis e com maior chance de se infectar e fazer o vírus circular”, finaliza.

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Raquel Porto

Jornalista, pós-graduanda em Gestão Ambiental. Militante feminista engajada nas pautas de direitos humanos, meio ambiente, educação e cultura. Ama carnaval, cinema, música, séries, novelas, livros e HQs. Correspondente da Cidade Líder desde 2018.

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