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Festa junina na Cohab José Bonifácio preserva memória de antiga moradora

Criada por Dona Ana nos anos 1980, festa junina reúne familiares, moradores, comidas típicas e histórias na zona leste de SP

Moradores da Cohab José Bonifácio fecham a rua para comemorar a tradicional festa junina

Anna Celli/Agência Mural

Por: Anna Celli

Notícia

Publicado em 11.07.2025 | 15:25 | Alterado em 11.07.2025 | 15:25

Tempo de leitura: 3 min(s)

Tudo começou com uma quadrilha. Quando Ana da Silva se mudou para a Cohab José Bonifácio, em 1980, deu início a uma tradição que permanece até hoje na rua Arnaldo Simon. Na nova casa, na zona leste de São Paulo, ela reunia as crianças da vizinhança e organizava ensaios divertidos e rigorosos todos os anos para a festa junina.

“Ela fazia questão de ser uma quadrilha bonita, de verdade. Enquanto não estava perfeito, não era quadrilha”, lembra Rosecler da Silva, 49, a Rose, filha de Ana, que faleceu em 2017, aos 67 anos.

Para Rose, manter a festa viva é um jeito de homenagear a mãe. Desde então, coube a filha manter a tradição junina no bairro, que geralmente acontece sempre no último sábado de junho. Embora seja realizada em uma única noite, a preparação dura meses e envolve quase toda a vizinhança. Começa no fim da tarde e vai até depois da meia-noite, quando finaliza com uma grande quadrilha.

Parte da equipe que mantém viva a tradição junina da Rua Arnaldo Simon há mais de 40 anos @Anna Celli/Agência Mural

A celebração produzida pela família tem todos os elementos da quermesse: bandeirinhas coloridas no alto, o cheiro de milho e quentão no ar, as vozes misturadas no bingo e os risos das crianças correndo pela rua para também aproveitar os brinquedos infláveis. Neste ano, cerca de 145 pessoas passaram pelo evento, que cresce a cada edição.

Além de Rose, a organização também é mantida por uma rede majoritariamente feminina, composta por irmãs, filhas, netas e vizinhas. “Na minha família tem mais mulheres, então naturalmente virou uma rede feminina. Mas os homens ajudam também. Somos uma equipe unida.”

Se antes a festa era feita com cada morador trazendo um prato, hoje a organização é mais ampla. Barraquinhas variadas, de pipoca, crepe, mini pizza, batata frita, espetinho, milho, os tradicionais bolos e doces juninos, música ao vivo, cama elástica para as crianças e, neste ano, até touro mecânico animaram o público.

Tudo é realizado pelo trabalho coletivo, desde a arrecadação entre os vizinhos e a montagem conjunta das estruturas, sem objetivo de retorno financeiro. “Fico noites sem dormir pra dar tudo certo, mas quando eu vejo a rua cheia, os portões abertos, as pessoas se abraçando… nossa, é muito gratificante”, conta Rose.

Moradora Renata Cristina foi uma das finalistas da gincana do desáfio com chapéu @Anna Celli/Agência Mural

Memória de uma rua

A festa é também uma forma de cultivar a memória coletiva da rua. Além de Dona Ana, outra figura marcante era Dona Filó, que fazia pipoca para as crianças e ajudava a espalhar o cheiro de carinho pela rua.

‘Naquele tempo, bastava a pipoca e a quadrilha para transformar a rua em festa. A gente adorava. Isso foi muito importante para nossa festa’

Rose, moradora da Cohab José Bonifácio

Rose aponta a responsabilidade em manter o legado da mãe. Se por um lado vieram desafios como agradar os participantes, por outro, o amor pela tradição tornou tudo mais leve. “Eu gosto. É algo que minha mãe gostava”, diz.

Os jovens também abraçam a tradição. “Eu e minha irmã conseguimos passar isso para nossas filhas. Meu irmão também. E eles passam para os amigos. É uma festa que não pode acabar.”

A festa da Rua Arnaldo Simon nunca precisou de autorização formal para o fechamento da via. Por ser uma rua pequena, os próprios moradores organizam tudo com autonomia e respeito à vizinhança. A quadrilha é sempre o momento mais aguardado e acontece por volta da meia-noite, reunindo todos que ainda estão por lá.

Dona Ana já não está mais ali para comandar os ensaios, mas a presença dela se sente em cada detalhe: no capricho da quadrilha, nos olhos atentos de Rose, no sorriso das netas.

“Ela gostava muito da festa, até quando não fazia mais, ficava ali sentadinha, dando pitaco. Hoje, não sei fazer o quentão ou vinho quente como ela fazia, mas aprendi a fazer os bolos, os doces… o cuscuz. Ela continua aqui”, conclui Rose.

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Anna Celli

Estudante de jornalismo. Curiosa, amante da natureza, e quero seguir na área do investigativo e socioambiental (pelo menos por enquanto) risos!

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