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Índice de jovens de até 14 anos grávidas cresce 300% no M'Boi Mirim

Apesar da redução na taxa geral da cidade, de 2013 a 2016, número de gestações ainda é altissimo em regiões mais afastadas

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Por: Redação

Publicado em 11.12.2017 | 13:13 | Alterado em 11.12.2017 | 13:13

Tempo de leitura: 4 min(s)
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No Hospital M’Boi Mirim, de janeiro a agosto de 2017, mais de 1.000 meninas, de até 19 anos, se tornaram mães (Alex Barbosa/Flickr/CCBY)

Nadine Rodrigues, 21, mora no Jardim Ângela, na zona sul da capital, desde que nasceu. Aos 15, decidiu largar tudo para viver ao lado do namorado de 36. Pouco tempo depois, parou de estudar no oitavo ano do ensino fundamental e engravidou um ano depois. Nesse período, passou a sofrer agressões do companheiro, até conseguir se separar e voltar a morar com a mãe.  

Nadine conta que sua gravidez foi difícil, descoberta já no terceiro mês. A filha nasceu prematuramente no quinto mês, com 28 cm e pesando apenas 600 g. A bebê ficou internada no Hospital do M’Boi Mirim por 60 dias. Aos quatro anos, atualmente ela se encontra saudável, sendo criada pela avó materna. Já o pai faleceu quando ela tinha apenas dois anos.  

“Eu não aceitava, fiquei com depressão, me afastei de todo mundo e achava que minha separação era culpa da minha filha. Era muito nova, gostava muito de sair e por questões financeiras, também, preferi deixar ela com minha mãe e fui morar sozinha”, afirma Nadine.

No Hospital do M’Boi Mirim, segundo dados fornecidos pela própria unidade, de janeiro a agosto deste ano, foram realizados 56 partos de meninas com até 14 anos e 1.063 de adolescentes de 15 a 19 anos. Já entre 2015 e 2016, a maternidade de jovens de até 14 anos cresceu 307%, enquanto o daquelas entre 15 e 19 anos aumentou 14%.

De acordo com o Mapa da Desigualdade da Primeira Infância, lançado no último dia 5 pela Rede Nossa São Paulo e pela Fundação Bernard van Leer, a maternidade precoce pode estar associada a condições de risco para o recém-nascido, como a prematuridade e o baixo peso ao nascer. Este indicador contribui na avaliação dos níveis de saúde infantil e dos fatores socioeconômicos e culturais que intervêm na ocorrência da gravidez.

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Atualmente Nadine mora com o atual marido, pai de outros dois filhos do casal. Aos 19, a jovem engravidou novamente, mas o bebê não sobreviveu ao nascer no quinto mês de gestação, da mesma maneira que a primeira. O terceiro filho veio um ano mais tarde, agora com dois meses de vida.  Dessa vez, assegura Nadine, tudo foi planejado.

“Descobri que eu tinha dificuldade para seguir com as gestações até o fim e fiz tratamento para que essa gravidez chegasse até às 38 semanas. Tanto a segunda gestação como essa, eu tive todo apoio do meu marido. Foi um parto normal e correu tudo bem. Hoje apenas sinto que minha filha não queira morar comigo, mas ela está sendo bem cuidada pela minha mãe, e consigo acompanhar o crescimento dela”, explica.

De 2003 a 2016, segundo levantamento do Mapa da Desigualdade da Primeira Infância, as regiões de Parelheiros e M’Boi Mirim, no extremo sul, ocupam as 10 primeiras colocações no ranking do índice de gravidez na adolescência, de mães com idade inferior a 19 anos na cidade de São Paulo. Em 2016, Parelheiros ficou na segunda posição e M’Boi na sétima.

Já o Mapa da Desigualdade, divulgado em outubro também pela Rede Nossa São Paulo, mostra que de 2013 a 2016 houve uma melhora no índice geral da cidade, a relação de adolescentes grávidas caiu de 45,21% para 26,22%. Mas reforça esse alto índice em algumas regiões e revela ainda que a proporção entre a taxa de grávidas na adolescência negras é três vezes maior em relação a não negras na região do Jardim Ângela.

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PORQUE QUIS

Aos 16 anos, Suellen Costa está com sete meses de gestação e cursando a 2ª série do ensino médio. Segundo ela, que há dois anos namora, ao contrário da maioria das meninas da sua idade, a gravidez veio por que ela quis, por opção.

“Conheço muitas meninas que estão grávidas aqui no bairro. Tem uma na rua que fez 13 anos e está grávida de cinco meses. Outra com 15, também. E uma com 17 que a filha nasceu recentemente. Acredito que muitas vezes é falta de orientação. Minha mãe orientou muito bem. É falta de cabeça dessas meninas, coisa de momento. Acha que é bonito e vai dar certo. A mãe aconselha, e segue quem quer”, opina Suellen, que mora no mesmo quintal onde vivem os pais e avós.

Ela conta que, no início do ano, o avô disse que queria um bisneto e ela resolveu “dar esse presente para ele o quanto antes”. “Minha mãe não aceitou, mas conversei com meu namorado e ele concordou tentar. Já temos tudo planejado”, revela.

“Em dezembro vamos nos casar e em janeiro minha filha nasce. Também não vou parar os estudos. Assim que conseguir, já volto para a escola, e sei que terei apoio para concluir o ensino médio”, assegura.

Para Suellen a gravidez seria algo mais tranquilo, mas não é o que acontece na prática. Ela conta que tem sido difícil ir à escola devido o peso e cansaço.

Durante o pré-natal na UBS do Jardim Herculano, no início, foi  complicado, por causa da demora para sair o resultado dos exames, sendo necessário refazê-los, além da troca de médico duas vezes. “Preciso fazer muitos exames, e recebo acompanhamento de um profissional de alto risco, por conta da minha idade”, finaliza.

Mapa da Desigualdade da Primeira Infância:

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ERRATA: Ao contrário do que mencionava o título da reportagem “Índice de jovens de até 14 anos grávidas cresce 300% no Jardim Ângela”, o correto é: “Índice de jovens de até 14 anos grávidas cresce 300% no M’Boi Mirim”. Atualizado às 16h56 de 16 de fevereiro de 2018.

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