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Agência de Jornalismo das periferias

Eto Valadão/Divulgação

Por: Barbara Paula

Notícia

Publicado em 06.02.2025 | 8:22 | Alterado em 06.02.2025 | 9:58

Tempo de leitura: 3 min(s)

A perda precoce da prima Giovana Moura, aos 21 anos, em maio de 2018, impulsionou Douglas dos Reis de Moura, 36, a desenvolver uma agência especializada em marketing de influência para pessoas pretas e periféricas.

Douglas define Giovana como uma artista talentosa, engajada em coletivos de dança e teatro, que sonhava em se tornar diplomata e viver na Inglaterra. Os sonhos da jovem foram interrompidos quando ela foi vítima de um atropelamento.

“A agência nasceu desse desejo de fazer pelas pessoas negras o que eu não pude fazer por Giovana”, comenta Douglas, que criou a Elo Negro Comunicações, na zona sul de São Paulo. “Eu falava pra ela que ia cuidar da carreira dela, mas não tive tempo de fazer isso. Então, precisava que a empresa fosse um elo entre as relações públicas e as pessoas negras.

Douglas, veste a coleção Geneses 7 – O Vazio, do estilista Seven Padduan para ensaio de fotos @Tonyyymon/ Divulgação

A Elo Negro Comunicações foi criada durante o período de construção do TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) do curso de relações públicas.

Morador da Vila Remo, Jardim Ângela, na zona sul de São Paulo, Douglas conquistou a graduação por programas sociais como o ProUni e se dedica a apoiar o público preto e periférico na construção de visibilidade.

Como profissional de afro comunicação, ele diz que a principal dificuldade do trabalho está na própria consciência da necessidade da comunicação por parte dos empreendedores, artistas e influenciadores, que estão construindo uma carreira pública.

Além disso, intermediar a relação deles com os departamentos de marketing das grandes marcas é outra parte importante do trabalho de Douglas.

O comunicador explica que nas periferias é preciso levar em conta a condição vivida pelos influenciadores. Atualmente atende mais mulheres e mães solos que têm carreira política.

Entre as clientes, ele cita que a maior parte tem jornada dupla. “São mães, funcionários CLTs, multi artistas e também influenciadores, criadores de conteúdo. É preciso olhar para a realidade dessas pessoas e conseguir escrever a partir disso”, reflete Douglas.

Na avaliação dele, muitas vezes esse olhar fica de fora na forma como a indústria foi criada. “No mercado a gente tem a estrutura de como fazer uma comunicação. Na faculdade de jornalismo, ou de relações públicas, aprendemos qual é a estrutura. E essa estrutura está baseada no quê? Ela está baseada numa escola de comunicação branca”, reflete.

Quando questionado se esse sistema funciona para a gestão de carreiras de pessoas pretas, ele responde: “Funciona, mas não gera identificação. Não gera reconhecimento. O algoritmo é feito por mãos brancas”.

Por isso, a agência se estrutura a partir do recorte em conscientizar empreendedores pretos a como falar de si mesmos e comunicar as qualidades das marcas.

Entretanto, desafios recentes como o anúncio da Meta em mudar as políticas de moderação de plataformas e o encerramento do programa de verificação de conteúdo no Facebook e Instagram, impactam diretamente o setor.

“A guinada das redes sociais para discursos de extrema direita podem impactar a contratação de criadores de conteúdo negros, reduzindo suas oportunidades no mercado. Desde o ano passado, já sentimos dificuldades em patrocínios, apoios e na contratação de influenciadores”, avalia Douglas.

MARKETING DE INFLUÊNCIA

Segundo a consultoria YOUPIX, o brasileiro é altamente influenciável em suas decisões de compra, o que tem levado marcas a investirem fortemente no marketing de influência. Em 2023, esse setor movimentou cerca de R$27 bilhões no país.

Kaique Andrade, 26, é social media e especialista em marketing de influência, que consiste em conectar marcas a influenciadores digitais para promover produtos ou serviços.

Natural do Capão Redondo, Kaique destaca a importância da representatividade na publicidade e o marketing de influência para quem vive nas periferias. “É uma ferramenta de expansão e representa uma nova cultura publicitária, dando voz a pessoas anônimas”, afirma.

Ele explica que essa forma de comunicação surgiu ao expandir o olhar além da TV para todas as telas, trazendo maior alcance, engajamento e acesso por meio de influenciadores que atuam nas redes sociais. “Diversidade e pluralidade permitem que as pessoas se vejam nas marcas, sentindo que elas são acessíveis”, pontua.

Projetos especiais

Atualmente, Douglas trabalha sozinho na Elo Negro. No portfólio do comunicador periférico estão os serviços de assessoria de imprensa, gestão de mídias sociais, planejamento estratégico de comunicação, gestão de carreira e marketing de influência.

Em 2024, conduziu dois projetos importantes. O primeiro foi o lançamento da coleção Gênezes 7 da Seven Padman, a mais recente coleção produzida pelo estilista Padduan, do Capão Redondo.

Douglas estruturou a estratégia de comunicação, captou recursos e produziu um desfile completo no Museu das Favelas, reunindo mais de 230 pessoas, o maior público do museu em um sábado.

A experiência levou ao segundo projeto: a curadoria e produção do evento Vozes Diversas, também no Museu das Favelas, durante o mês do orgulho LGBTQIA+. Esse foi o primeiro evento da agência com um orçamento maior, permitindo a contratação de artistas e equipe técnica, sempre priorizando profissionais negros e LGBTQIA+.

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Barbara Paula

Jornalista, comunicadora e modelo. Apaixonada por moda, poesia, fotografia, arte e cinema. Uma geminiana, humanista e ovolactovegetariana muito falante e risonha. Correspondente de Capão Redondo desde 2023.

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