Aos 20 anos, Joana criou um projeto para criar reconhecimento para crianças que têm interesse no mundo da moda
Por: Patrícia Vilas Boas | Cleberson Santos
Notícia
Publicado em 08.12.2020 | 7:35 | Alterado em 22.11.2021 | 15:54
A modelo Joana Moreira, 20, desde pequena, sempre se considerou uma menina vaidosa.
Moradora do Jardim Noêmia, bairro do Itaim Paulista, na zona leste de São Paulo, ela conta que beleza e autoestima eram pontos que gostava de trabalhar em si mesma e nas outras pessoas.
Na adolescência, por volta dos 15 anos, iniciou um curso técnico gratuito de passarela na Vila Curuçá, também na zona leste.
Uma das instrutoras enxergou o potencial da jovem e a convidou para desfilar voluntariamente para a marca “Estilo Black”, em um evento de lançamento que ocorreria em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo.
Essa seria a primeira grande experiência de Joana nas passarelas. Local que, no futuro, estaria tão presente no propósito de moda inclusiva.
O caminho até lá não foi nada glamuroso. Baixa autoestima, pressão estética, agências ‘charlatães’, cobranças abusivas e a falta de diversidade nos castings (processos de seleção de modelos) foram alguns dos motivos que fizeram com que Joana, cada vez mais, pensasse em seguir por conta própria.
A new face (nome que se dá às modelos iniciantes) precisou parcelar seu book fotográfico em seis vezes para ter material profissional que pudesse apresentar às agências. O mundo da moda não parecia ser nada inclusivo para jovens da periferia.
Pensando nisso, aos 18 anos, Joana idealizou o “Desfile Pela Negritude e Diversidade” nas escolas públicas da região. Realizado anualmente no mês da consciência negra, o evento deste ano foi cancelado devido à pandemia.
Com o evento, Joana busca estimular a confiança e autoestima de jovens e crianças das periferias que possuem o sonho de desfilar e seguir carreira no mundo fashion, segmento conhecido por sua elitização e inacessibilidade às pessoas de baixa renda.
“Se você ir no primeiro ensaio, quando ainda estão recrutando as crianças para participar, e no final, no dia do desfile, você consegue ver uma diferença muito grande”, conta. “Sempre lanço uma “sementinha” neles dizendo que eles são capazes.”
O projeto começou pequeno, em uma escola da região da Vila Jacuí, na zona leste de São Paulo, e agora já possui parceria com a DRE (Direção de Ensino) da Leste 2 para o programa Escola da Família.
“Tenho um grande privilégio, hoje posso escolher a escola que eu quero fazer o meu desfile”, conta. “Quero poder alcançar mais áreas e aprender coisas novas para ensinar às crianças.”
Para a modelo, a moda não precisa ser elitista. Seu principal objetivo é poder mostrar a diversidade brasileira, em todas as formas, cores e gêneros, nas passarelas. “Nos castings que eu vou, a quantidade de mulheres brancas, homens brancos, sempre loiros do olho verde, é absurdamente maior que a de negros.”
Porém, Joana enxerga de forma otimista o destaque que os movimentos antirracistas e pela equidade racial e de gênero vêm ganhando nos últimos anos. “A gente vê um esforço em ter mais modelos negros, do cabelo natural.”
Em 2020, o São Paulo Fashion Week, maior evento de moda do Brasil, instituiu cota racial obrigatória nos seus desfiles. Agora, pelo menos 50% dos modelos das marcas devem ser negros, afrodescendentes ou indígenas. Um passo importantíssimo na quebra de padrões que se perpetuaram por séculos na sociedade.
“Agências que estão chegando agora estão quebrando esse padrão”, diz. O futuro da moda tende a ser promissor e Joana, que faz parte dessa nova geração de modelos que vem pela frente, já está pronta para ele.
*Esta reportagem faz parte da série Crias da Quebrada, com a história de dez jovens das periferias de São Paulo
Jornalista em formação. Curiosa, gosta de sol, praia e um bom livro nas horas vagas. Correspondente da Vila Curuçá desde 2019.
Correspondente do Capão Redondo desde 2019. Do jornalismo esportivo, apesar de não saber chutar uma bola. Ama playlists aleatórias e tenta ser nerd, apesar das visitas aos streamings e livros estarem cada vez mais raras.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
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