Renan Omura/Agência Mural
Por: Renan Omura
Notícia
Publicado em 12.01.2023 | 18:26 | Alterado em 27.02.2024 | 16:12
“Se você não sabe o que é uma lowbike já te explico: ela é uma bicicleta rebaixada, totalmente customizada, com pinturas metálicas, peças cromadas e um garfo diferenciado”, revela o barbeiro Vagner da Costa, 35, morador do distrito de Palmeiras, periferia de Suzano, na Grande São Paulo.
Ele é fundador do coletivo Máfia 011, bike club suzanense formado em 2019 por adeptos do movimento lowrider. “Já viu aqueles carrões rebaixados com suspensão a ar que aparecem nos clipes de hip-hop? É a mesma pegada, só que o nosso lance é com as magrelas”, relata.
A lowbike é um modelo de bicicleta personalizada, com pinturas vibrantes e cores vivas. Geralmente possuem guidão e garfo cromado e contorcido, tendo como uma das principais características o quadro rebaixado e o cromo espelhado.
Os aros têm entre 72 a 144 raios por roda, muito mais que uma bicicleta comum. “As lowbike tem uma padrão de semelhança, mas cada pessoa tem seu estilo. O importante é entender o movimento.”
Vagner destaca que a cultura lowrider não se resume à personalização de veículos, mas trata-se de um estilo de vida que abrange diversas expressões artísticas.
“Vivemos a cultura lowrider na forma de se vestir, nas músicas que escutamos e principalmente em nosso comportamento no dia a dia”
Vagner da Costa, barbeiro
Embora o movimento lowrider tenha se popularizado em diversos países em decorrência dos clipes musicais dos anos 1980 e pelos filmes norte-americanos que retratam o gangsta life, a prática surgiu há mais de seis décadas nos Estados Unidos.
A cultura lowrider, que significa “andar baixo”, é oriunda das periferias de Los Angeles, especificamente na fronteira com o México. Entre 1950 e 1960, os jovens imigrantes de baixa renda passaram a customizar os carros antigos cortando as molas e com pinturas vibrantes. Assim como nos dias atuais, o intuito era imprimir a própria personalidade nos veículos.
“Na época, os carros novos ficavam só com os [norte] americanos ricos, então os imigrantes que trabalhavam em fábricas de funilaria e mecânica, começaram a personalizar os seus carros usando as suas próprias habilidades. Foi uma forma de reafirmar a sua identidade, e essa ideia permanece até hoje”, explica Vagner.
No Brasil, a personalização de carros, motos e bicicletas no estilo lowrider ganhou adeptos a partir da década de 1990. No entanto, a escassez de peças e falta de mão de obra qualificada ainda é o principal obstáculo enfrentado pelos praticantes da cultura.
Por ser um tipo de bicicleta custom, as peças e acessórios disponíveis no mercado brasileiro são importados, o que aumenta o preço dos produtos. Dessa forma, para reduzir os gastos os adeptos do movimento costumam garimpar as peças nos ferros-velhos e em sites de usados.
Além disso, é comum o próprio dono realizar as adaptações na bike. Vagner, por exemplo, já trabalhou em uma serralheria onde aprendeu a cortar chapas de ferro. Hoje, ele mesmo se encarrega de fazer esse tipo de serviço.
“Não é fácil ser lowrider no Brasil. Nós temos as nossas contas, aluguel, filho e comida. Se sobrar uma grana no final do mês, eu invisto na bike. Caso contrário, esquece.”
O metalúrgico Douglas Prudencio, 39, morador do bairro Jardim Europa, periferia de Suzano, também faz parte do grupo Máfia 011. Ele conta que demorou quase 10 anos para conseguir montar uma lowbike.
“Fui comprando as peças aos poucos. Comecei em 2011 e só terminei de juntar tudo em 2020. Muitos não entendem, mas lowrider é uma arte, por isso não se deve ter pressa”, afirma.
Bicicletas com pinturas metálicas, peças cromadas e um garfo diferenciado fazem parte do movimento @Renan Omura/Agência Mural
Bicicletas com pinturas metálicas, peças cromadas e um garfo diferenciado fazem parte do movimento @Renan Omura/Agência Mural
Bicicletas com pinturas metálicas, peças cromadas e um garfo diferenciado fazem parte do movimento @Renan Omura/Agência Mural
Bicicletas com pinturas metálicas, peças cromadas e um garfo diferenciado fazem parte do movimento @Renan Omura/Agência Mural
Douglas conta que manter uma bicicleta lowrider é tão difícil quanto montá-la, pois esse modelo de bike costuma ser extremamente baixo, sendo facilmente danificado em terrenos deteriorados.
“Já gastei em torno de R$ 7.000 para montar a minha bike, mas ainda não está do jeito que eu quero. Então, é provável que esse valor continue aumentando. Sem falar nos itens de reposição”, relata.
Para adquirir as peças, Douglas conta que costuma verificar diariamente os sites de vendas e nos grupos de lowbike nas redes sociais, porém nem sempre encontra o acessório que está procurando.
“Hoje já tem alguns profissionais especializados nessa arte, mas como é uma parada muito segmentada e trabalhosa, costuma sair bem caro”, conta.
Para o encanador Rafael Cordeiro, 40, morador do distrito de Guaianases, zona leste de São Paulo, um dos pilares da cultura lowrider é a persistência e o foco. Ele também faz parte do grupo Máfia 011.
“Muitos não entendem que a disciplina é um dos pilares do movimento lowrider e desistem antes de conseguir montar a bike. Tem que ter compromisso com a cultura. Entender de onde ela surgiu e vestir a camisa”, conclui Rafael.
Jornalista. É fotógrafo por hobby (as vezes por trabalho), é amante dos dias frios e nunca dispensa um café. Correspondente de Suzano desde 2019.
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