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Mães dançarinas reinventam seus ritmos para seguir na arte

Moradoras de Ribeirão Pires conciliam o amor pela dança com os desafios da maternidade

Divulgação/Mika Alves

Por: Kethilyn Mieza

Notícia

Publicado em 09.05.2025 | 13:28 | Alterado em 09.05.2025 | 13:32

Tempo de leitura: 4 min(s)

As dançarinas Franciele Carvalho, 30, e Beatriz Delays, 32, aprenderam a seguir novos ritmos desde que se tornaram mães. Moradoras de Ribeirão Pires, na Grande São Paulo, elas conciliam o amor pela dança com os desafios da maternidade — entre pausas, reinvenções e a presença cotidiana dos filhos nos bastidores. Hoje, dançam com outras prioridades e buscam reinventar os passos sem abandonar a arte.

Franciele, ou Fran, como é conhecida, é mãe da pequena Mariah, de 1 ano e 4 meses, e está voltando aos estúdios para praticar a dança. Com mais de uma década de carreira, Fran começou a dançar aos 14 anos, influenciada pela mãe e pelas tias. Desde então, já foi professora, estrelou clipes e esteve nos palcos em shows de ícones do rap, como a cantora Drik Barbosa.

Aniversário de um ano da Mariah @Divulgação/Mika Alves

Antes da gravidez, havia dado uma pausa durante a pandemia de Covid-19, quando precisou buscar outras formas de renda e de cuidados para a saúde mental. A descoberta da chegada de Mariah mexeu com seu compasso.

“Na minha cabeça coloquei assim: ‘nunca mais vou voltar a dançar, nunca mais vou poder viver da dança, porque agora vou ter uma filha, vou ter que sustentá-la’”, conta.

Com o apoio de amigos e da família, conseguiu encontrar novos sentidos para a maternidade dentro da própria arte e se apresentou em shows até os cinco meses de gestação.

Após o nascimento de Mariah, se afastou da dança novamente. Hoje, volta às salas de aula e, aos poucos, retoma a rotina na dança. Agora, com uma espectadora nova na plateia. “Para mim, está sendo tudo muito novo. Parece que comecei a dançar hoje”, relata.

‘A maternidade me transformou numa mulher mais madura. Tenho uma visão um pouco mais sensível para as coisas, um pouco mais de empatia também pelas pessoas. E a vida muda

Fran

Fran participa do Cult.iva Cultural, um coletivo que realiza eventos voltados para o hip hop com aulas e palestras na região de Ribeirão Pires, com outros dançarinos como a Beatriz Deilays, ou Bea, mãe da Elis, de 5 anos.

Dançarina desde os 13 anos, Bea já passou pelo jazz, ballet, hip hop e até dezembro de 2024 era coreógrafa na Cia Sacro, grupo de dança de Mauá. Recentemente, precisou pausar a carreira para se dedicar à filha, diagnosticada com TDAH.

“A gente ama a dança. Quando não temos a dança é um tanto quanto desesperador pra quem trabalha com isso também”, conta.

Bea, Elis e Fran no espaço em que ensaiavam com a Cia Sacro @Acervo pessoal

Com menos frequência, Bea voltou a dar aulas e busca estar presente nos eventos do coletivo e de outros grupos da cidade. Para ela, esses momentos são uma forma de autocuidado.

“É uma forma de pensar mais na gente. Não que a gente não ame os nossos filhos, e não é sobre querer estar distante deles, mas precisamos de um momento para nós”.

Solidariedade entre as artistas

Apesar de contar com a ajuda do marido, dos pais e outros familiares, Bea relembra a insegurança que sentiu ao descobrir a gravidez em 2018.

“Acho que o que senti foi insegurança, muita incerteza, e foi um tanto quanto desesperador, porque eu tinha tomado a decisão de seguir esse rumo para o resto da minha vida. Tive que repensar, porque minha prioridade era ela”, conta.

Bea e Elis em viagem para competição com a Cia Sacro no Chile @Acervo pessoal

Mesmo com o acolhimento que as mães recebem no retorno aos palcos, os bastidores ainda impõem desafios. Um deles é a resistência dos organizadores de eventos, que por vezes desconsideram a presença delas com base em suposições sobre as dificuldades que teriam com os filhos, sem abrir espaço para escuta, alternativas ou soluções possíveis.

Bea conta que, durante a gravidez, mesmo precisando parar de dançar, pode contar com o apoio das amigas, como a própria Fran, que deu aulas em seu lugar e abriu mão de receber os pagamentos para ajudar a amiga.

“Acho que a maioria das pessoas não enxergam que as mães têm uma rede de apoio”

Fran

Hoje, apesar das dificuldades, ela vê o cenário artístico de eventos com alguns avanços e adaptações. “Eles [os organizadores] colocam agora uma área kids, justamente para que a mãe possa participar da aula um pouco mais tranquila, para que a gente consiga participar de um bate-papo e tenha um conhecimento”.

Com o trabalho do Cult.iva, Fran fala sobre a vontade de organizar um evento voltado para as mães. “A gente queria muito ter essa oportunidade de poder reunir todas as mães artistas e dançarinas num evento para a gente se ouvir. Porque eu acho que também seria uma forma de refúgio para as outras mães”, diz.

Bea e Elis em um evento de dança @Acervo Pessoal

Filhas nos ritmos das mães

A pequena Mariah é uma companheira da mãe nos eventos de dança e começa a se familiarizar com esse universo. Nas redes sociais, Fran publica vídeos dançando com a filha no colo, mostrando que a arte já vem de berço.

“Ela aprende tudo muito fácil e eu gosto de levar ela para esse meio, para poder crescer um pouco e para ela poder entender um pouco o que a mãe dela faz”, conta a dançarina.

Elis também cresceu entre passos de dança e sons de ensaio. Quando ainda tinha meses de vida, já assistia Bea durante os treinos, sempre contando com a ajuda e os cuidados de outros dançarinos. Hoje, aos cinco anos, é uma parceira nos eventos e viagens da mãe.

“A dança sempre teve um papel muito importante em relação à minha filha, porque eu vejo que a dança tem uma sensibilidade, uma sinceridade, uma profundidade muito importante para que a gente leve isso para a maternidade”, reflete Bea.

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Kethilyn Mieza

Jornalista. Dançarina apaixonada por arte e pela cultura hip hop. Escrever e contar histórias por meio do jornalismo é seu melhor caminho para dar voz às pessoas. Correspondente de Mauá desde 2023.

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