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Agência de Jornalismo das periferias

Gabrielly Souza/Agência Mural

Por: Gabrielly Souza

Notícia

Publicado em 03.09.2025 | 17:31 | Alterado em 03.09.2025 | 17:31

Tempo de leitura: 4 min(s)

“Como minha filha vai comer se eu não atender todas as minhas clientes? Não dá pra sobreviver com três atendimentos por dia. Preciso que a Ana Júlia esteja na escola, não tenho rede de apoio”, desabafa Ana Carolina Souza, 24, autônoma e mãe da pequena Ana Júlia, de 1 ano e 4 meses.

Desde que a filha completou seis meses, idade mínima para ingressar nas creches públicas, ela tentou garantir uma vaga na rede municipal de ensino de Guarulhos, na Grande São Paulo. Ela fez o cadastro junto à Secretaria de Educação e indicou a EPG (Escola da Prefeitura de Guarulhos) Martins Pena, no Parque das Nações, por ser a mais próxima de casa.

As escolas de Educação Infantil (EPGs) em Guarulhos atendem crianças da idade de creche, pré-escola e fundamental 1.

Ana Carolina e a pequena Ana Julia @Arquivo pessoal/Divulgação

Mesmo seguindo todos os trâmites, não recebeu retorno da prefeitura. Quando foi finalmente chamada, descobriu que a vaga disponível era apenas para meio período. Durante a visita à unidade, soube que a EPG Martins Pena não oferecia atendimento integral há mais de um ano.

“No dia, encontrei mais três mães na mesma situação. Todas achando que tinham conseguido vaga integral, mas fomos surpreendidas. A prefeitura não atualiza a lista de espera”, relata Ana Carolina, que segue aguardando uma solução definitiva.

Diante da dificuldade de conciliar trabalho e cuidados com a filha, Ana Carolina teve que suspender temporariamente os atendimentos em sua esmalteria no início do ano, o que impactou diretamente a renda.

Sem respostas e precisando retomar ao trabalho, ela matriculou a filha Ana Júlia em uma creche particular, pagando R$ 800 mensais. Com os custos adicionais de alimentação, as despesas chegaram a R$ 1.200, valor que se tornou insustentável.

Em maio, com a ajuda de uma tia, Ana conseguiu uma vaga temporária em uma creche no bairro Jardim Helena, na zona leste de São Paulo, usando o comprovante de endereço de uma conhecida. Apesar disso, ela ainda aguarda uma vaga na rede municipal de Guarulhos.

Problema nacional

A situação de Ana Carolina reflete um problema municipal e nacional. Segundo levantamento da organização Todos Pela Educação, cerca de 2,3 milhões de crianças de até 3 anos estão fora da creche no Brasil. Apenas 41,2% das crianças nessa faixa etária estão matriculadas — número abaixo da meta de 50% estipulada pelo Plano Nacional de Educação (PNE) para 2024.

Entre os bebês de até 1 ano, o cenário é ainda mais crítico: apenas 18,6% estão na creche. O estudo revela que quase uma em cada quatro crianças (24,8%) deixou de frequentar unidades de educação infantil em 2024 por enfrentar barreiras como falta de vagas, localização inadequada ou ausência de rede de apoio.

Sem retorno da Prefeitura de Guarulhos, Ana Carolina decidiu acionar o Ministério Público de São Paulo, movendo uma ação contra a Secretaria Municipal de Educação. Enquanto isso, segue na esperança de conseguir uma vaga definitiva para a filha.

EPG Martins Pena, escola em que Ana Carolina aguarda pela vaga da filha @Gabrielly Souza/Agência Mural

Mães enfrentam despesas e insegurança para trabalhar

A auxiliar administrativa Kátia Roberta, 32, busca uma vaga na creche municipal para o filho Anthony desde que ele tinha 11 meses, quando moravam no bairro Santa Lídia.

A primeira tentativa foi no CEU (Centro Educacional Unificado) São Domingos, mas, seguindo conselhos, ela procurou diretamente a Secretaria de Educação, acreditando que o processo seria mais rápido.

Em junho, a Secretaria entrou em contato, dando esperança de uma vaga, mas a resposta foi frustrante: Kátia foi apenas orientada a procurar uma unidade próxima da nova residência, no bairro dos Pimentas. Encaminhada à EPG Procópio Ferreira, foi informada de que o nome do filho seria incluído em uma lista de espera para um berçário com disponibilidade.

Hoje, Anthony está prestes a completar dois anos e ainda não tem acesso à creche. Para conseguir trabalhar, Kátia paga R$600 por mês a uma cuidadora. “É difícil. Você vê vários cartazes dizendo que tem vaga, mas a realidade é outra”, lamenta.

Sabrina Leal Porto, 26, cabeleireira, espera desde janeiro deste ano, por uma vaga na creche para o filho Arthur Leal, 3. Antes de se mudar novamente para o município de Guarulhos, ela já havia aguardado por um ano por uma vaga em Diadema, na Grande São Paulo.

Sabrina, mãe do pequeno Artur, ela aguarda há 8 meses uma vaga na EPG Tarsila do Amaral @Arquivo pessoal/Divulgação

Atualmente morando no bairro Vila Paraíso, Sabrina inscreveu o filho na EPG Tarsila do Amaral, próxima de sua casa, mas até agora não teve retorno da prefeitura. Sem alternativa, contratou uma cuidadora por R$ 800 por mês.

‘Se não tenho com quem deixar meu filho, não posso trabalhar”. A instabilidade tem afetado sua saúde emocional e o sono’

Sabrina, cabeleireira

Ela também denuncia o atendimento da Secretaria Municipal de Educação, que, segundo ela, tem sido marcado por descaso e falta de acolhimento, tanto por telefone quanto presencialmente.

EPG Tarsila do Amaral é a unidade escolar que mães estão na fila de espera para matricular os filhos @Gabrielly Souza/Agência Mural

Vai ter vaga pra todo mundo?

A Prefeitura de Guarulhos iniciou, em agosto, as inscrições para a Educação Infantil e o 1º ano do Ensino Fundamental de 2026. Crianças já cadastradas em 2024 ou 2025 e ainda na lista de espera não precisam se inscrever novamente.

As vagas são para nascidos entre abril de 2022 e julho de 2025 (creche), abril de 2020 e março de 2022 (pré-escola) e abril de 2019 a março de 2020 (1º ano). Responsáveis devem comparecer à escola escolhida nos dias 10 e 13 de outubro para consultar a classificação da criança e receber orientações sobre a matrícula.

Placa usada pela Secretaria Municipal de Educação de Guarulhos anuncia o inicio do período das inscrições para 2026 @Gabrielly Souza/Agência Mural

A Secretaria de Educação não informou o número atual de crianças na lista de espera, mas, por telefone, afirmou que a prioridade é para crianças a partir de 4 anos, idade em que a matrícula passa a ser obrigatória.

Segundo a pasta, em 2025 foram feitas cerca de 18 mil inscrições, e 14 mil crianças já foram atendidas.

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Gabrielly Souza

Jornalista e pós-graduanda em Jornalismo Cultural pela UERJ. Correspondente local em Guarulhos e moradora do bairro dos Pimentas. Também atuo como jornalista na TV Cultura.

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