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Agência de Jornalismo das periferias

Igor de Melo/Acervo Mucuripe

Por: Redação

Notícia

Publicado em 03.06.2022 | 16:38 | Alterado em 06.06.2022 | 16:31

Tempo de leitura: 3 min(s)
Esta reportagem foi produzida com o apoio do Instituto Unibanco IU

Na sala apertada de uma casa localizada em uma ruazinha muito simpática, entre tantas outras do Mucuripe, bairro da capital cearense, há um pequeno museu. Ali, espremidos, dezenas de livros, centenas de fotografias, documentos históricos das mais diversas épocas e mais algumas inúmeras matérias de jornais e revistas conservam a lembrança de um dos bairros mais importantes de Fortaleza.

O local é o Acervo Mucuripe, morada de Diego de Paula, 32, formado em turismo e marketing e especialista em gestão pública. A iniciativa, fundada por ele em 2017, também surgiu como forma de criticar o olhar limitado ao turismo na região. Mucuripe, antes uma vila de pescadores, virou bairro na década de 40, e foi uma das portas de entrada de navegações históricas do país.

“Só depois que saí do curso é que vivenciei a cidade como ele manda, pelo centro. Fui compreendendo que o turismo do Estado do Ceará é mal feito, porque é muito voltado para um único lado da cidade, um turismo de sol e praia, elitizado. Há um esquecimento da infraestrutura da cidade”, observa.

Após essa análise, Diego conta que passou a reunir o material para criar o acervo com a missão de valorizar a história do bairro. “Fui pesquisar o Mucuripe, já que não encontrava nada organizado na cidade sobre esse bairro histórico, em escolas, museus e bibliotecas. Essa falta de acesso foi a minha inspiração”.

E diz ter se surpreendido com o resultado desse esforço. “Depois de juntar coisas sobre o Mucuripe através de ONGs e pesquisas individuais, comecei a ter aquele choque, pois o que a prefeitura fala do Mucuripe é diferente de onde as pessoas vivem e entendem como Mucuripe”, conta.

Sem incentivos públicos, o espaço é mantido apenas com contribuições. O administrador do acervo conta que a maioria dos frequentadores da casa são universitários, professores e estudantes, mas que também há uma procura de moradores de bairros mais distantes. Contudo, ele critica a falta de estímulo ao acesso a esses espaços.

“As pessoas não se sentem motivadas para estarem em acervos da periferia, até porque eles não são visíveis nas cidades, não há conhecimentos de outros acervos ou até mesmo desse. O reconhecimento é limitado”

Para Diego, há também um problema na formação educacional com relação ao estudo da história. “Creio principalmente que estudando o macro da história, sempre a história do Brasil em geral, a gente esquece desse micro, esses detalhes de quem somos. Você dá um zoom e não consegue enxergar detalhes. Você amplia a quantidade de informações tanto que às vezes não consegue aprender”, analisa.

O Acervo Mucuripe, que reúne documentos históricos sobre a região e é aberto para visitas @Arquivo pessoal

O professor de escola pública, mestrando em História e frequentador do Acervo, Amadeus Pongitori, 39, observa como a falha em um estudo da história local pode impactar a curto e a longo prazo no ensino público e na formação das camadas sociais.

“Esse apagamento histórico aliena a população e vai lhe marginalizando. Há um desinteresse de fazer essa discussão de trabalho de conhecimento, de memória, para enfraquecer as mobilizações sociais, movimentos sociais, para que as pessoas se fragmentem e percam a coletividade”, avalia.

A estudante pré-vestibular Letícia Lima, 19, destaca ainda o papel da história na integração com a cidade. “Aprender e conhecer nossa história faz com que a gente perceba ela no dia a dia. É o que percebo ao andar pela cidade e não reconhecer obras, monumentos, nomes de ruas que nunca foram abordadas”, diz.

Para o professor Pongitori, o acesso aos museus na cidade precisa ser mais inclusivo. “A gente tem lugares interessantíssimos, gratuitos, lindos, mas são muitos afastados. E mesmo com as redes sociais trazendo mais à tona ainda não é despertado o interesse como se deveria. O lugar passa a ser tomado por uma elite, é feita para a usabilidade deles”.

Ele ressalta a importância do Acervo Mucuripe nesse contexto social e a necessidade da ocupação desses espaços. “Devemos ocupar teatros, museus, visitar acervos comunitários como este, centros culturais. Essas coisas precisam ser trabalhadas. Se o governo do estado incentiva, eu desconheço. Não chegou até mim, nunca fui convidado para essa festa pop”, diz.

Saiba mais:

As visitas ao Acervo Mucuripe acontecem aos sábados, com entrada gratuita para alunos de escolas públicas do estado do Ceará. Para demais visitantes, é cobrado um valor simbólico de R$ 10 a R$ 20 (Consultar o valor na tabela aqui). É necessário um agendamento prévio pelo Whatsapp: 85 3037-8856. O museu está localizado na Av. Álvaro Correia, 69b – Varjota, Fortaleza. Para mais informações ou tour virtual, acesse o Instagram @acervomucuripe

Por Caio Alves, de Serviluz, Fortaleza

Essa reportagem foi produzida por um dos estudantes universitários do Ceará participantes do “Acontece nas Escolas”, programa de bolsas de jornalismo da Agência Mural em parceria com o Instituto Unibanco. A iniciativa faz parte do Clube Mural, nossa área de treinamento e laboratório de prática e experimentos em jornalismo local e das periferias.

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