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Agência de Jornalismo das periferias

Arquivo pessoal/Divulgação

Por: Ana Beatriz Alves

Notícia

Publicado em 08.09.2025 | 15:22 | Alterado em 12.09.2025 | 16:47

Tempo de leitura: 4 min(s)

Entre os famosos “predinhos” do bairro Parque Dourado, em Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo, nos anos 2000, a estética urbana e o som grave do hip-hop ditavam o estilo. Foi nesse cenário que Otávio Henrique, 33, começou a desenvolver uma relação com a cultura do movimento que moldou sua identidade e, mais tarde, o caminho profissional.

“É até difícil lembrar exatamente quando começou, porque parece que essa referência sempre esteve presente na minha vida”, relembra.

Ainda criança, Otávio se encantava com as festas de fim de ano que aconteciam no estacionamento do CDHU onde morava, Natal e ano-novo eram celebrados em conjunto com outros moradores. A “vaquinha” para som, comida e bebida ficava por conta da galera mais velha, mas todo mundo contribuía como podia.

Otávio criou a marca aos 20 anos e utiliza ilustrações e pontos da periferia de Ferraz de Vasconcelos para divulgar as peças @Arquivo pessoal/Divulgação

E por lá, ele conheceu algumas novidades: DVDs com coletâneas musicais como “Dinamite”, “Black Total”, alguns tênis diferentes, roupas estilosas. Mesmo sem entender tudo, ele já sabia que aquilo comunicava algo além do som.

“Foi a estética que me fisgou: o jeito de me vestir me chamava mais atenção até mesmo do que os carros e joias dos clipes”, conta Otávio.

Segundo ele, o hip hop sempre foi o som dominante entre adultos e pessoas que viviam há mais tempo no bairro, e os mais novos seguiam esse caminho. Mesmo com outros movimentos acontecendo com força, como pagode e principalmente o funk, eles eram vistos como “modinha”, e Otávio, ainda jovem, absorvia esse olhar dos mais velhos.

Conhecido como ‘Otaviofits’, o estilista cria peças de roupa streetwear desde 2012 @Arquivo pessoal/Divulgação

O acesso à internet, por volta dos 12 anos, expandiu ainda mais esse universo. Ele passou a pesquisar tendências, lançamentos e histórias dos artistas que gostava, como a coletânea “Bala na agulha” e o cantor Chris Brown. Na época, o objetivo era reproduzir o que via nos vídeos do YouTube, mas, com o tempo, o jovem começou a querer mais: queria criar.

O passo seguinte veio de forma quase acidental. Por volta de 2011, Otávio e alguns amigos passaram a importar peças de roupas que ainda não eram comuns no Brasil, como bonés e jaquetas college, presença obrigatória nos videoclipes de hip hop e que são famosas até hoje.

As jaquetas, no entanto, chegavam lisas, sem estampa. Ele então teve a ideia de bordar suas iniciais “OH” em uma delas. A reação dos amigos foi imediata. Um deles pediu que fizesse igual na sua. Depois, outro. Logo, ele estava personalizando peças para vários conhecidos do bairro.

Boné e bolsas de diversos tipos fazem parte do catálogo da Tomahawh

A “Tomahawk Fit”

A virada empreendedora veio pouco depois, quando um amigo que tinha acabado de receber a rescisão do trabalho viu os projetos de jaquetas no computador de Otávio e propôs: “Vamos criar uma marca com isso tudo”.

O investimento inicial foi feito por ele. Já Otávio e a namorada, Thais Bocca, ficaram responsáveis pela produção e desenvolvimento criativo. Foi então que a marca/loja online Tomahawk fit nasceu.

“Com o tempo, esse amigo percebeu que não se sentia confortável em empreender, mas eu e minha namorada seguimos firmes e animados até hoje”, conta o empreendedor. A marca, que nasceu de uma ideia simples e da estética do hip hop, completa 13 anos em breve.

O nome “Tomahawk” surgiu de forma espontânea, mas cheia de significado para Otávio e os amigos dele. Fãs de um jogo online de golfe, eles usavam frequentemente o termo para se referir a uma jogada especial, chamada “tacada certeira”.

Além de estilista, Otávio também é modelo e divulga a própria grife Tomahawk Fit
Os moletons de diversas cores
Ilustração da grife
Ilustração da grife

Além de estilista, Otávio também é modelo e divulga a própria grife Tomahawk Fit @Arquivo pessoal/Divulgação

Os moletons de diversas cores @Arquivo pessoal/Divulgação

Ilustração da grife @Arquivo pessoal/Divulgação

Ilustração da grife @Arquivo pessoal/Divulgação

“Tomahawk” virou quase um bordão do grupo, algo que representava habilidade, estilo e ousadia. Quando chegou o momento de dar um nome à marca, o termo apareceu naturalmente durante as conversas.

“Nós tínhamos várias ideias de estética, mas ainda não tinha o nome. Quando ‘Tomahawk” surgiu, todo mundo topou na hora. Tinha tudo a ver com a gente naquele momento”, relembra Otávio.

Hoje, conhecido como “Otaviofits”, Otávio é um multifuncional da quebrada: atua como modelo, fotógrafo, estilista, designer e videomaker, além de já ter trabalhado como office boy e ajudante geral para sustentar seus projetos.

A marca acumula quase 8 mil seguidores no Instagram, onde ele compartilha criações autorais que traduzem a vivência periférica, a identidade negra e a força cultural da cidade.

‘O que a gente faz é reafirmar uma cultura que, sem dúvida, é preta’

Otávio Henrique, estilista

Para ele, o objetivo é vestir autoestima. O empreendedor diz acreditar que a roupa é uma forma de comunicação. Uma linguagem não-verbal poderosa que pode tanto conectar quanto causar desconforto em quem não quer enxergar certas presenças.

Otávio já criou diversas coleções especiais pela Tomahawk FIT, sempre conectadas ao momento.

Em 2022, lançou uma linha inspirada na Copa do Mundo, além de edições comemorativas a cada novo ano da marca. Durante a pandemia de Covid-19, chegou a produzir máscaras com mensagens de conscientização sobre a importância da quarentena.

Atualmente, a loja online oferece peças de confecção própria como moletons, camisetas, bonés, bolsas cardcases e outros acessórios.

Otávio também criou peças durante a pandemia de covid-19 @Arquivo pessoal/Divulgação

Ao longo de mais de uma década, Otávio viu a marca circular em diversas regiões e acredita que inspirou outras pessoas negras e periféricas a criarem e ocuparem espaços. A moda, para ele, é apenas a ponta do iceberg. A real transformação vem quando alguém veste uma peça e se reconhece nela.

“O hip hop me ensinou a me vestir com confiança, a usar a roupa para dizer algo, marcar presença. É o que tento traduzir nas peças: roupas que se conectam com quem entende, que fortalecem quem usa – e, às vezes, até incomoda quem nunca quis nos ver ocupando espaço.”

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Ana Beatriz Alves

Jornalista, ferrazense e escritora. Boa ouvinte e contadora de histórias. Correspondente de Ferraz de Vasconcelos desde 2023.

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