Magno Borges/Agência Mural
Por: Jariza Rugiano | Jacqueline Maria da Silva
Notícia
Publicado em 20.04.2023 | 8:15 | Alterado em 27.02.2024 | 17:29
Para Ana Paula do Carmo, 8, estar em cerimônias do candomblé é semelhante aos dias em que visita a avó. “Quando estou muito tempo sem ver a minha avó e vou na casa dela me dá uma sensação muito boa. Quando rezo também, me dá uma sensação de tranquilidade e calma. Sinto a minha energia feliz”, conta a menina.
Ana vive no Jardim Silvina, periferia de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, e segue a religião de matriz africana desde os 3 anos de idade. Na doutrina, é como se tivesse 5 anos atualmente, pois essa é considerada a “idade de santo”, ou seja, quanto tempo tem de iniciada na religião.
Com esse período na doutrina, ela é considerada uma Yalasé, título importante que permite que ela ajude nas “obrigações”, tarefas relacionadas ao calendário festivo do candomblé. “Já enfeitei doces e flores”, exemplifica.
As obrigações e festas ocorrem em um salão chamado de barracão, localizado no mesmo bairro onde a família vive. Ana Paula dança em roda junto com os adultos, já que as atividades são integradas.
Além da dança, ela aprecia as músicas e as comidas. Cada santo tem uma comida preferida. “Arroz, farofa, frango e refri. Eu gosto do Amalá (quiabo, camarão, dendê), que é a comida do meu segundo santo, Xangô”, completa.
De origem africana, o candomblé é ligado aos ancestrais e a natureza. Foi trazido para o Brasil pelos povos escravizados no século 19, como os bantos e os nagôs. No país, sofreu influência de outras culturas, como a indígena e cristã.
Entre março e abril de 2022, Ana fez a renovação no candomblé. Ela precisou seguir algumas orientações que fazem parte do rito, como não usar telefone celular, internet, ficar em isolamento e não ingerir determinados alimentos por cerca de um mês.
Quando voltou às aulas, uma professora perguntou o motivo do afastamento por alguns dias e Ana respondeu que era por conta da religião.
“[Ana] sentiu que a professora foi rude quando disse que ela não podia ter esse afastamento, porque a religião não é mais importante do que a escola”, relata Jéssica do Carmo, 27, tia da menina. “Entendo, mas a professora deveria ter cobrado uma explicação da gente e não dela”, complementa.
Ana é filha de Oxum, orixá das águas, da beleza, do ouro e da fertilidade. Ser filho de algum santo significa ser um representante da entidade na terra e ser guiado por ele em seu desenvolvimento espiritual.
A menina diz acreditar na importância dos orixás, considerados deuses ligados aos fenômenos da natureza e ao cotidiano. “Eles cuidam da gente”, diz, antes de citar cada um deles. “Tem o Oxumaré, que representa o arco-íris, Oyá com o raio, Oxum com a cachoeira, Iemanjá com o mar, Nanã com a lama, e Ogum, que é o caminho.”
REPORTAGEM ESPECIAL
Ana Paula é uma das entrevistadas da série especial Religião na Infância, sobre como crianças lidam com a religião. Confira todas as histórias
Jornalista. Gosta de andar por aí de bicicleta, encontrar os amigos, filmes, livros, shows e colecionar memes. Correspondente de São Bernardo do Campo desde 2017.
Repórter da Agência Mural desde 2023 e da rede Report For The World, programa desenvolvido pela The GroundTruth Project. Vencedora de prêmios de jornalismo como MOL, SEBRAE, SIP. Gosta de falar sobre temas diversos e acredita do jornalismo como ferramenta para tornar o planeta melhor.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
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