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‘Paraíso das magrelas’, Jardim Helena é referência no uso de bicicletas

Na zona leste de São Paulo, há uma média de 18 mil viagens diárias com bikes por motivos de trabalho; entretanto, a região conta com poucos quilômetros cicloviários

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Por: Redação

Publicado em 05.07.2017 | 16:26 | Alterado em 05.07.2017 | 16:26

Tempo de leitura: 4 min(s)

Desde que nasceu, Ezequiel Manuel de Souza, 18, percebeu que a bicicleta é um veículo essencial onde mora. “Às vezes eu até acho que nasci em cima de uma bike, mas ninguém quer me contar”, brinca o estudante que mora no Jardim Helena, bairro homônimo do distrito que faz parte da Prefeitura Regional de São Miguel Paulista, no extremo leste de São Paulo.

As principais atividades diárias de Souza são feitas utilizando uma bicicleta que ganhou de presente de um tio há cinco anos, mas desde criança tinha o hábito de pedalar com os amigos e colegas da escola. Nos finais de semana, ele se reunia com os primos para brincar de apostar corridas pelas ruas do bairro.

“Aqui tudo se resolve assim: a pé ou de bicicleta, mas sobretudo de bicicleta, pois conseguimos chegar mais rápido onde queremos”, afirma o jovem.

De acordo com o levantamento mais recente do Metrô paulista, publicado na Pesquisa Mobilidade, em 2012, é a zona leste que mais anda de bicicleta na cidade de São Paulo. Entre os locais apontados com maior ocorrência de viagens com a “magrela”, estão o Itaim Paulista, São Miguel, Vila Curuçá, Vila Jacuí e Jardim Helena.

Nestes lugares há uma média de 18 mil viagens diárias por motivos de trabalho. Entretanto, os locais contam com poucos quilômetros cicloviários.

Por outro lado, moradores dos distritos da Bela Vista, Brás, Cambuci, Bom Retiro, Consolação, Liberdade, Santa Cecília, Pari, República e Sé, onde a oferta cicloviária é maior, fazem 11.960 viagens diárias de bicicleta para trabalhar.

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As ruas planas e largas são as grandes aliadas das ‘magrelas’, pois facilitam a chegada nos destinos que levariam minutos a mais se fossem percorridos a pé (Crédito: Lucas Veloso)

“O Jardim Helena é plano, as ruas são largas e tudo contribui. Temos tudo para ser como Copenhague”, afirma a estudante Fernanda Ribeiro, 22, que compara o local em que mora à capital da Dinamarca, referência internacional quando o assunto é mobilidade urbana e bicicletas.

Para Oracir Tramanda, 56, membro da rede Bike Zona Leste, ainda existe uma necessidade de que o poder público perceba a potencialidade das periferias. “O uso desse meio de transporte favorece a todos. É barato e atende bem aos mais diversos públicos. Os bairros mais afastados do centro descobriram há décadas o bem das ‘magrelas’, mas os governantes só enxergam o centro como prioridade. Por isso, onde mais se usa bike é onde menos tem ciclovias, por exemplo”, ressalta o cicloativista.

Os bairros da zona leste somam 17,8 quilômetros de vias exclusivas para ciclistas, sendo a região que menos recebeu malha cicloviária ao longo dos últimos anos, mesmo tendo os bairros mais populosos e onde vive mais gente que usa bicicletas como meios de transportes opcionais.

Segundo dados do site Fiquem Sabendo, de janeiro de 2013 até junho de 2016, a Prefeitura de São Paulo inaugurou mais de 319 km de ciclovias, a maior parte delas no centro e adjacências.

Procurada, a Prefeitura não respondeu sobre a questão das demandas e ciclovias nos bairros da periferia da capital.

INCENTIVOS

Com o objetivo de apoiar os ciclistas, a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) criou os bicicletários públicos para apoiar as pessoas que usam as bicicletas para trabalhar. Hoje, há cerca de 20 mil passageiros cadastrados nos 29 bicicletários existentes ao lado das estações. Ao todo são 7.158 vagas disponíveis de forma gratuita.

“Eu uso a ‘magrela’ para estudar, trabalhar e me divertir e acho que os espaços tinham que aderir mais a essa realidade. Fora do meu bairro, tem lugares que vou e tenho que deixar a bicicleta presa no poste de luz, pois não tem como entrar no local com ela ou não tem espaço adequado para coloca-la”, relembra Fernanda Ribeiro, que usa diariamente o bicicletário da estação Jardim Helena-Vila Mara.

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O bicicletário é um dos lugares mais frequentados por quem usa o transporte público para sair do bairro e a bicicleta para circular por dentro dele (Crédito: Lucas Veloso)

Por conta da grande quantidade de bikes, a linha 12-Safira, da CPTM, que liga o Brás até Calmon Viana, é uma das que mais contam com vagas em seus bicicletários. A estação Jardim Helena-Vila Mara possui espaço para guardar 256 veículos.

POLÍTICA DE CICLOVIAS

Em 2013, ao tomar posse na Prefeitura de São Paulo, o então prefeito Fernando Haddad (PT) assumiu o compromisso de implantar 400 km de vias para bicicletas até o fim de 2015 – o que foi prorrogado por mais um ano. Com o fim do mandato, o petista alcançou a promessa feita em campanha, deixando um marco histórico na cidade.

Desde janeiro, a capital paulista está sob a administração de João Doria (PSDB). O atual prefeito já concedeu entrevistas à imprensa criticando a quantidade de ciclovias construídas no governo anterior, afirmando que não pretende prosseguir com a política cicloviária e prometendo desativar as que têm pouco uso.

FUTURO CICLOVIÁRIO EM SÃO PAULO

Preocupados com os novos rumos da política de mobilidade da cidade, alguns membros do Vá de Bike – organização criada para auxiliar novos ciclistas e usuários urbanos de bicicletas, por meio de conteúdo online, palestras e demais atividades de incentivo e formação – se encontraram com Doria para discutir a questão cicloviária.

Dentre os tópicos conversados, o prefeito ressaltou a intenção de rever os locais “inúteis” para se manter ciclovias e expôs a ideia de entregar a expansão da malha nas mãos da iniciativa privada. Sobre o fato de áreas centrais receberem mais investimentos do que as periferias, Doria sugeriu que as empresas devam mesclar os locais de investimento.

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A bicicleta se tornou um meio de transporte muito popular no Jardim Helena, extremo leste da capital (Crédito: Lucas Veloso)

“Como em toda privatização, concessões ou PPPs (Parcerias Público-Privadas), você tem que fazer um mix entre áreas nobres e áreas menos nobres. E fazendo isso com equilíbrio, nós podemos ter duas áreas nobres que estão na periferia. É dentro desse processo que nós vamos construir esse programa”, pontuou o tucano.

Souza acredita que um dia o seu bairro vai ser reconhecido como referência de mobilidade e espera que São Paulo siga o exemplo. “Comprar pão, buscar o filho na escola e estudar usando a bicicleta não é luxo, é necessidade no mundo de hoje. O Jardim Helena aprendeu e está dando exemplo de como se faz”, finaliza.

*Essa reportagem não é inédita e foi escrita pelo repórter Lucas Veloso em março de 2017 para participar de um concurso da Climate Journalism. Para o site 32xSP, ela passou por uma reedição.

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