Magno Borges/Agência Mural
Por: Cleberson Santos
Notícia
Publicado em 23.08.2024 | 11:55 | Alterado em 23.08.2024 | 14:40
As periferias estavam na ponta da língua dos principais candidatos à prefeitura de São Paulo no primeiro debate eleitoral de 2024, promovido pela TV Bandeirantes no começo de agosto. Porém, ela não está tão presente assim nos planos de governo, em comparação à eleição de 2020.
Em levantamento feito pela Agência Mural, com base nas propostas publicadas pelos candidatos na plataforma DivulgaCand, do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a expressão “periferia” e suas variações (periferias, periféricos e etc) aparece 80 vezes nos projetos de sete dos dez candidatos à prefeitura da capital.
A quantidade de citações caiu em mais da metade em relação ao pleito anterior, em que as periferias foram citadas 208 vezes. Trata-se de uma redução de 61,5%. Porém, a quantidade de páginas publicadas pelos candidatos também caiu, de 698 no total em 2020, para 323 páginas. 53,7% mais enxuto.
Metroviário e ex–presidente do sindicato da categoria, Altino Prazeres (PSTU) foi o candidato que mais citou as periferias em seu projeto de governo. Foram 21 menções ao longo das 23 páginas do documento apresentado ao TSE.
Em segundo lugar estão o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) e o prefeito Ricardo Nunes (MDB), atuais líderes das principais pesquisas eleitorais, com 16 citações cada um. Pablo Marçal (PRTB) tem o arquivo mais longo dos dez candidatos, com 100 páginas, e citou as periferias 11 vezes.
O candidato do PSOL enumerou um total de 119 propostas (que ele chama de “diretrizes estratégicas”) ao longo do plano de governo. Das 16 citações, 10 estão entre essas diretrizes.
Boulos propõe um programa de urbanização e melhoria habitacional chamado “Periferia Viva”, a descentralização dos investimentos e equipamentos culturais nas periferias, e o projeto “pontos de esporte periféricos”, de estrutura similar aos Pontos de Cultura, criado pelo Ministério da Cultura em 2010.
O arquivo publicado por Ricardo Nunes quintuplicou a quantidade de menções em relação ao plano da chapa em que era vice de Bruno Covas (PSDB) em 2020, quando houve apenas três citações.
Nunes falou sobre as periferias tanto para falar de resultados da atual gestão quanto para apresentar propostas para a reeleição. Segundo o atual prefeito, São Paulo tornou-se mais “conectada, acessível e sustentável, facilitando a vida dos paulistanos, especialmente nas periferias”.
A quantidade de citações em 2024 remonta às eleições de oito anos atrás. De 2016 para 2020, a presença da palavra havia triplicado nos projetos dos candidatos. Foram 66 citações no pleito vencido por João Doria (PSDB), apenas 14 a menos que neste ano.
Um dos motivos da queda foi a redução no tamanho da proposta apresentada por Boulos. Ele apresentou um projeto mais enxuto em comparação ao pleito de 2020 e também com menos citações. Foram 66 menções em 62 páginas na eleição passada, contra 16 menções em 40 páginas em 2020.
Assim como no debate da Band, as periferias foram muito usadas na biografia dos candidatos nos respectivos projetos. Ao analisar o contexto em que a palavra “periferia” e suas variações foram usadas nos planos de governo, cinco candidatos a usaram para se apresentar ao eleitorado.
Guilherme Boulos (PSOL) e a deputada federal Tábata Amaral (PSB) citaram os bairros em que moravam, Campo Limpo e Vila Missionária, ambos na zona sul da capital. Ricardo Nunes (MDB) afirmou que viveu na periferia, mas sem mencionar o bairro, e Pablo Marçal (PRTB) afirmou que “nasceu na periferia de Goiânia-GO”.
Altino Prazeres (PSTU) falou sobre a origem periférica de forma mais coletiva: “Nossas candidaturas são de trabalhadores e trabalhadoras comuns, que enfrentam duras jornadas no serviço, pegam transporte público lotado e vivem na periferia”.
Nas eleições de 2020, apenas Orlando Silva (PC do B) havia se apresentado como “nascido na periferia”.
Em contrapartida, Bebeto Haddad (DC) não possui plano de governo publicado na plataforma até o momento da publicação desta reportagem. E outros dois não citam a palavra “periferia” em seus projetos. Tratam-se de João Pimenta (PCO) e Marina Helena (Novo).
Além da apresentação biográfica, o tema que mais rendeu menções foi saúde. Quatro dos sete candidatos citaram as periferias ao falar de propostas para esta área.
Altino prometeu a “construção e abertura de maternidades nos bairros das periferias”, enquanto Guilherme Boulos propôs a criação do programa “Mais Médicos Especialidades”, em que serão abertos “editais para credenciamento de médicos para trabalhar nas especialidades que mais necessitam de profissionais”.
Nunes garantiu que construirá “três novos Centros Municipais para Pessoas com TEA (Transtorno do Espectro Autista) nas regiões sul, leste e oeste”. Já Tábata Amaral deseja “universalizar os serviços de telemedicina para todos os cidadãos SUS dependentes”.
O candidato do PSOL prometeu “ampliar o número de equipamentos como centros culturais, Casas de Cultura, teatros e cinemas nas regiões periféricas da cidade” e aumentar “a proporção destinada ao fomento e apoio à cultura periférica” no orçamento da secretaria.
Nunes destacou os feitos da gestão dele nessa área, afirmando que ampliou “as oportunidades e o intercâmbio de conhecimento nas periferias de São Paulo”, além da padronização de cachês, que “promoveu a descentralização do orçamento da Secretaria e a valorização da produção cultural periférica”.
Altino foi o único candidato a citar as periferias ao apresentar uma proposta para a educação. O candidato do PSTU prometeu a ampliação da EJA (Educação de Jovens e Adultos).
Altino prometeu “isenção fiscal para micro e pequenas empresas” e que haverão incentivos da Prefeitura “particularmente às pequenas empresas instaladas na periferia da cidade que contratem funcionários”.
O candidato Datena (PSDB) também faz promessas na mesma linha, garantindo que haverá “imposto menor para quem gerar mais emprego” e afirmando que fará a implantação de polos de inovação e tecnologia na periferia. Pablo Marçal afirmou que irá descentralizar a economia e levar empresas, capacitação e crédito barato para as periferias.
Dentro deste tema, Ricardo Nunes afirmou que reduziu o tempo de abertura de empresas “de 100 dias para 17 horas” e destacou a criação da rede de coworking público, a TEIA.
Datena prometeu que irá “valorizar o futebol de várzea, aproximando e integrando os grandes clubes da cidade com os clubes da periferia”. Nunes afirmou que fará uma Lei de Incentivo ao Esporte Municipal, “incentivando a participação da comunidade em projetos esportivos”.
Além do já citado plano de urbanização integrada de favelas, Guilherme Boulos prometeu também “beneficiar ao menos 250 mil famílias em programas de regularização fundiária”.
Marçal afirmou que fará “o maior programa habitacional da história”, com construção de novas casas nas periferias, além do mapeamento, gestão e transformação de imóveis vazios na cidade em habitação popular.
Altino citou o massacre de Paraisópolis em 2019 ao dizer que “a cultura periférica não é considerada arte e a polícia tem passe-livre para fazer o que fez no baile da DZ7”. Boulos deseja implantar um “plano para combater a violência institucional e estrutural contra a juventude negra a partir de programas de cultura, lazer, esporte, formação profissional e empreendedorismo”.
A única vez que Ricardo Senese (UP) falou sobre periferia em seu plano de governo foi ao falar sobre juventudes. Ele afirmou que “é fundamental combater as causas profundas da violência, como desemprego e desigualdade social, e promover políticas de geração de emprego, especialmente para a juventude periférica”.
Altino defendeu que a cidade “deve ser controlada por assembleias populares organizadas nos bairros, nas periferias, nos locais de trabalho, na educação, na saúde”.
Boulos afirmou que, por meio da participação popular, irá “criar uma rede de equipamentos públicos em áreas urbanas, priorizando bairros periféricos, para promover cultura, educação, esporte e lazer”.
Nunes prometeu “a formação de grupos para discutir as necessidades de infraestrutura em áreas periféricas, coletando sugestões e expectativas dos moradores da região”.
Apenas Altino conectou periferias e população LGBTQIA+ no plano de governo. Ele publicou que “as LGBTI+ pobres e periféricas são marginalizadas do acesso à saúde pública, moradia decente e quando conseguem um emprego […] são nos postos precarizados e sem direitos”.
Ricardo Nunes citou as periferias ao afirmar que fortalecerá a GCM (Guarda Civil Metropolitana), “reorganizando a estrutura territorial do centro e garantindo mais guardas na periferia”.
Ricardo Nunes fala sobre um “plano municipal para implementar cidades inteligentes, resilientes e sustentáveis, com foco na periferia”, citando o uso de drones para “monitoramento integrado para fiscalização e proteção ambiental”.
Tábata Amaral defende a implementação de “infraestrutura de internet de alta velocidade na periferia de São Paulo, utilizando uma combinação de tecnologias, como fibra óptica e satélite, para garantir cobertura da população sem acesso”.
Ao falar sobre transporte público, Altino citou a questão do assédio sofrido por mulheres e que “encontramos as mulheres negras em uma situação ainda pior porque elas têm que utilizar as maiores viagens e nas piores condições”.
Ele também foi o único candidato a citar as periferias ao falar sobre a ampliação de bicicletários.
Ricardo Nunes afirmou que realizou “diversas melhorias na área de transporte e mobilidade, buscando facilitar a vida dos cidadãos, especialmente nas periferias”.
Tábata Amaral foi a única candidata a falar sobre as periferias ao comentar sobre a preservação do Centro da capital.
Para ela, o investimento em preservação e no desenvolvimento de novas centralidades aquece o turismo, fortalece as comunidades locais, reduz os deslocamentos pendulares e dinamiza as regiões periféricas.
Datena afirmou que se eleito irá “ampliar a cobertura vegetal por toda a cidade, com programa intensivo e permanente de plantio de árvores nativas”. Tabata também prometeu que “irá implantar novos parques nas regiões periféricas, visando a proteção das áreas verdes e produtoras de água”.
Ricardo Nunes foi o único candidato a citar as periferias ao falar sobre eventos climáticos extremos, mas para apresentar o que foi feito. Ele falou que “76 obras foram concluídas em áreas de risco e mais 44 estão em andamento”.
Correspondente do Capão Redondo desde 2019. Do jornalismo esportivo, apesar de não saber chutar uma bola. Ama playlists aleatórias e tenta ser nerd, apesar das visitas aos streamings e livros estarem cada vez mais raras.
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