Neste período, mais de 8 mil novas covas foram abertas apenas no Cemitério da Vila Formosa, na zona leste de São Paulo
Por: Redação
Notícia
Publicado em 02.06.2020 | 21:50 | Alterado em 29.09.2020 | 21:52
Por acreditar que uma das melhores maneiras da gente poder se prevenir e cobrar nossos direitos é saber o que está acontecendo, a Agência Mural traz neste episódio do “Em Quarentena” um tema bastante sensível, que é a rotina dos cemitérios neste período de pandemia.
O fotojornalista da Agência Mural, Léu Britto, percorreu os três maiores cemitérios próximos à periferias em São Paulo, para registrar a rotina desses locais com a chegada do coronavírus.
Léu visitou o Cemitério da Vila Formosa, na zona leste, o da Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte, e do São Luís, na zona sul. Até o dia que este programa foi ao ar, 2 de junho, apenas no estado de São Paulo, haviam sido registradas 7.615 mil mortes por causa do novo coronavírus.
Britto compartilhou o que ouviu dos sepultadores. “Eles me contaram que tem uma parte do cemitério que estão exumando muito mais corpos para dar lugar a novos corpos de Covid-19”. (ouça a partir de 00:38)
Ele também contou que fez o registro de um crânio que viu durante essas coberturas. “Eu vi um crânio exposto, fora da cova. Um dos sepultadores me disse que talvez algum colega tenha esquecido esse crânio. Segundo ele, foi um erro, porque eles não deixam ossos soltos ou à mostra”. (a partir de 00:49)
O repórter fotográfico falou sobre as visitas aos cemitérios de forma individual. Começou pelo da Vila Formosa, na zona leste.
“Lá o número de sepultamentos é muito grande. Como ele é o maior cemitério da América Latina, no dia em fui visitar, numa quinta-feira, das 9h às 15h, eu vi 55 enterros de pessoas que morreram por decorrência da Covid-19”. (ouça em 01:34)
James tem 34 anos, mora na Cidade Tiradentes, e é um dos sepultadores que trabalha no cemitério da zona leste. Ele falou que devido o aumento de sepultamentos, o trabalho para eles ficou mais cansativo. E confessou que tem medo de contrair o vírus. “Por mais que a gente utilize os EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), às vezes, por um descuido nosso podemos nos contaminar”. (em 02:34)
Ele trabalha com o enterro de moradores de São Paulo há mais de cinco anos e enfatizou que sua profissão também é marcada pelo preconceito. “Tem gente que valoriza hoje, ao ver que nosso trabalho aumentou, mas tem outros que evitam chegar perto da gente por achar que estamos contaminados”. (em 03:08)
O sepultador reforçou que a rotina está bastante puxada, mas para ele o dia mais difícil de trabalhar durante a pandemia ocorreu recentemente. “Foi anteontem, num sepultamento onde um pai que enterrou a filha de 9 meses há 15 dias, voltou para enterrar a esposa”. (em 03:28)
Ainda sobre o Cemitério da Vila Formosa, Léu Britto falou que lhe chamou muita atenção o número de mortes de jovens. “Me chocou bastante ver mães que enterraram seus filhos. Dos 55 sepultamentos que acompanhei, oito a dez eram jovens com menos de 16 anos”. (em 03:54)
Já sobre o Cemitério da Vila Nova Cachoeirinha, ele disse que presenciou um número menor de sepultamentos, mas que percebeu que o número de covas que estavam destinadas para a Covid-19, já estavam bem completas.
“Eles tinham quatro quadras destinadas para enterrar pessoas que morreram por Covid-19 e já estavam todas preenchidas. O Cemitério não é muito grande, mas tem uma frequência boa porque ele é um dos principais da zona norte”. (em 04:23)
O fotojornalista enfatizou que no caso do Cemitério São Luís, o que mais lhe chamou a atenção foi a transformação do local. “Lá você percebe que a paisagem mudou muito. Tinha muita área verde que ainda não estava sendo usada pra covas, mas agora o cenário mudou totalmente”. (em 05:05)
Para conferir os cliques do Léu Britto acesse a reportagem sobre os sepultadores que ele assina com o Lucas Veloso no site da Agência Mural.
Ouça este bate papo completo no Em Quarentena #45: A rotina de cemitérios em SP durante a pandemia.
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