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Agência de Jornalismo das periferias

Léu Britto/ Agência Mural

Por: Jacqueline Maria da Silva

Notícia

Publicado em 30.09.2024 | 17:21 | Alterado em 04.10.2024 | 8:47

Tempo de leitura: 4 min(s)

Duas vezes na semana, Camylly Vitória dos Santos, 21, gasta pelo menos uma hora e meia para chegar ao Hospital das Clínicas, na capital paulista, para fazer fisioterapia. Isso quando não precisa ir mais vezes para consultas e exames a fim de manter o lúpus controlado e ter mais qualidade de vida.

Os primeiros tratamentos foram fornecidos pelo serviço público de saúde de seu município. No entanto, o acompanhamento médico com reumatologista só foi garantido com intermédio da patroa da mãe, porque não é oferecido na cidade onde moram: Pirapora do Bom Jesus, extremo oeste da Grande São Paulo.

Camylly vive com a mãe, o padrasto e mais 5 irmãos no Conjunto Habitacional São Benedito, no bairro Vila Nova. Por lá, somente um Pronto Socorro atende a demanda do município e fica localizado no centro de Pirapora.

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Essa defasagem na saúde pública também é sentida pela faxineira Érica Morais dos Santos, 31, do bairro Parque Payol 2. “Demora muito para passar em uma consulta simples. Meu filho ficou mais de um ano esperando para marcar sessões de fonoaudiologia, na fila”.

E as demandas em Pirapora do Bom Jesus vão muito além da saúde: mais linhas de ônibus, com menos tempo de espera; opções de lazer; educação de qualidade; saneamento; segurança pública; infraestrutura, asfaltamento de ruas e programas de moradia também estão na ponta da língua dos eleitores, que no próximo 6 de outubro vão às urnas decidir o futuro da cidade.

“Sempre há muitos planos para as periferias, só não sei se vai sair do papel”

Érica, moradora do Parque Payol

Isso, de fato, é difícil de garantir, mas é possível levantar o que os candidatos prometem para as periferias. A Agência Mural checou todos os planos de governo para conferir o que os moradores de Pirapora do Bom Jesus podem esperar para os próximos quatro anos, com base nas informações divulgadas pelos candidatos na plataforma DivulgaCand.

Periferias nem no papel

Em Pirapora do Bom Jesus, a eleição municipal de 2024 está menos disputada em relação a de 2020. Neste ano, apenas quatro candidatos concorrem ao cargo de prefeito, contra sete no último pleito: Dr. Marco (PMB), Gregório Maglio (MDB), Neno Freitas (PDC) e Raul Bueno (Republicanos)

A corrida eleitoral está enxuta também nas propostas para as quebradas. Para se ter uma ideia, a palavra “periferia(s)” não aparece nos planos de governo. A citação mais próxima é “jovens periféricos”, presente no plano de governo de Gregório Maglio para se referir a um programa voltado para o empreendedorismo da juventude.

Os termos mais usados para se referir às quebradas de Pirapora foram “bairro em situação de vulnerabilidade” ou “pessoas carentes”. Alguns candidatos citaram diretamente o nome dos bairros periféricos de Pirapora do Bom Jesus, que são o Parque Payol (mais populoso da cidade), a Vila Nova e Bom Jesus.

Como as periferias aparecem nos planos de governo

Em 28 páginas, Dr. Marco cita o nome das periferias de Pirapora em cinco dos 15 eixos previstos em seu plano de governo. O bairro Parque Payol é o mais mencionado: nove citações, a maioria (4) nos eixos chamados “bem estar e saúde” e “capacitação, emprego e renda” (2), mas também em “gestão administrativa e tecnologia” (1), “esporte e lazer” (1) e “cidadania e desenvolvimento social” (1).

Neste último eixo, ele cita também o bairro periférico de Bom Jesus e em “esporte e lazer” o também periférico Vila Nova. As promessas vão da construção de um centro de reabilitação até a criação de um centro esportivo, passando pela implantação de um centro de apoio ao cidadão no local e instalação de um posto de atendimento ao trabalhador, com oficinas de capacitação profissional.

Raul Bueno (Republicanos) apresenta 17 folhas de proposta e 10 eixos, nos quais cita o Parque Payol uma vez na área da “saúde”, com a promessa de construção de uma UBS 24 horas.

Já o candidato Gregório Maglio (MDB) foi ainda mais enxuto ao citar as periferias: em sete páginas de plano de governo e 11 eixos de atuação, não cita o nome de nenhum dos três bairros periféricos do município (Parque Payol, Bom Jesus, Vila Nova).

Neno Freitas (PDC) apresenta seis eixos de atuação em um plano de governo de duas folhas e cita Vila Nova e Bom Jesus uma vez cada no eixo “saúde”, para falar sobre ampliação de centros e equipes de saúde. E volta a citar Vila Nova uma vez no eixo “esporte”, prometendo a iluminação do campo esportivo no local.

Apenas um candidato propõe planos para a juventude

Pouco mais de 16% da população da cidade de Pirapora do Bom Jesus é composta por jovens entre 15 e 24 anos, de acordo com Censo de 2022 do IBGE. Deles, 16% dos que têm entre 16 e 24 anos são votantes, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Como uma jovem da cidade, Camylly afirma que uma das maiores demandas da juventude periférica são oportunidades de trabalho e renda. Sem ocupação, ela faz parte dos quase 85% de pessoas sem emprego fixo no município, segundo dados da Fundação Seade, de 2021.

“Aqui não tem oportunidade. Queria fazer um curso profissionalizante de design de sobrancelha”, diz a jovem.

Apenas o candidato Dr. Marco traz propostas diretas para este público, com um eixo em seu plano de governo chamado “juventudes”. A ideia é criar políticas públicas para ampliar a participação de jovens nas decisões políticas e implantar um Conselho Municipal da Juventude.

O candidato também aborda as áreas de renda, emprego, cultura e lazer, com propostas de ampliar a oferta de emprego para jovens sem experiência e PCDs e incentivo a conclusão do ensino médio, ingresso à universidade e educação profissional.

Em seu plano também estão previstos incentivo ao esporte para jovens PCDs, promoção de manifestações culturais da juventude e oportunidades de formação para jovens egressos do sistema prisional. Contudo, o documento não cita as periferias nestes eixos.

Camylly fica atenta aos candidatos que aparecem com promessas no Vila Nova, ainda mais em época de eleição, na expectativa de que suas demandas, sobretudo de emprego, renda e melhorias dos bairros sejam atendidas nos próximos quatro anos. Em sua casa, a família decide o voto em conjunto. “Se minha mãe fecha com um candidato, vamos nele”.

Esta reportagem foi produzida com apoio da Report For The World

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Jacqueline Maria da Silva

Repórter da Agência Mural desde 2023 e da rede Report For The World, programa desenvolvido pela The GroundTruth Project. Vencedora de prêmios de jornalismo como MOL, SEBRAE, SIP. Gosta de falar sobre temas diversos e acredita do jornalismo como ferramenta para tornar o planeta melhor.

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