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Agência de Jornalismo das periferias
Rolê

Quarta edição da Feira Literária da zona sul fala sobre ancestralidade

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Por Gisele Alexandre | 05.09.2018

Publicado em 05.09.2018 | 19:30 | Alterado em 04.11.2018 | 21:13

RESUMO

A quarta edição da Felizs será realizada entre os dias 10 e 22 de setembro em diferentes espaços de cultura da zona sul de São Paulo

Tempo de leitura: 4 min(s)

“Uma andorinha só não faz verão, mas pode acordar o bando todo”. A frase dita pelo poeta Binho, um dos idealizadores da Felizs (Feira Literária da Zona Sul), resume a essência da atração que há quatro anos mobiliza artistas e escritores das periferias.

O evento tem como produtora a articuladora cultural Diane de Oliveira Padial. Moradora do Campo Limpo, ela enfatiza a importância de divulgar a literatura periférica e o caráter político do evento que chega a sua quarta edição.

Porém, considera que a literatura está além das fronteiras geográficas. “A literatura periférica é um termo que identifica um movimento cultural de um grupo de escritores oriundos desse local, mas não pode ser diminuída por usar esse nome”.

O evento será  entre os dias 10 e 22 de setembro em diferentes espaços do Campo Limpo, distrito da zona sul de São Paulo. Com o tema ancestralidade, a programação reúne sarau, contação de histórias, lançamento de livros, exibição de filmes, bate papo sobre literatura e shows.

Em entrevista à Agência Mural, Diane fala também sobre o desafio de difundir a cultura para os mais jovens, os desafios de selecionar os trabalhos para a Feira e a escolha da homenageada Eda Luiz, gestora do Cieja Campo Limpo.

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Equipe de produção da Felizs 2017 (João Cláudio de Sena/Divulgação)

Agência Mural: A Felizs leva literatura em seu nome, mas o evento também oferece arte, dança, música, teatro e muito diálogo. Qual é a missão dela?
Diane de Oliveira: A maior missão é poder trazer todo esse potencial que tem na periferia, de pessoas que produzem cultura em diferentes linguagens, e tornar visível dentro de um único evento. Existe um circuito cultural muito forte em outros pontos da cidade, mas na periferia ainda são poucos os espaços dedicados à cultura. Por isso, tornar os espaços públicos pontos de cultura, para mostrar a qualidade da produção feita aqui, é muito importante. Além disso, acreditamos que a cultura e a educação caminham juntas, então buscamos sempre trabalhar nas escolas, com educadores e alunos. A cultura é direito de todos, tanto de quem produz como de quem se beneficia dela.

O movimento cultural da zona sul tem sido um meio para os moradores se manifestarem. Nesse contexto, podemos dizer que a Felizs é também um ato político?
Totalmente político. É uma ação feita de forma coletiva. Junta o potencial das pessoas quebrando paradigmas na medida em que questiona aquela concepção formada de que, por exemplo, só é possível fazer teatro dentro de um auditório no centro. A Felizs é política porque transgride algumas coisas, é feita de nós pra nós mesmos, não é feita por uma produtora contratada. A realização é pensada por quem mora na região e participa dos movimentos culturais daqui. Não é uma organização vertical, de cima para baixo, e isso de certa forma acaba sendo um ato político. Nós decidimos juntos as temáticas que gostaríamos de abordar, quais são as reflexões que queremos trazer e em que formato vamos fazer isso. Além disso, a feira é política pela ousadia de produzir uma feira independente, com duração de 12 dias, com uma programação tão diversa e com tanto potencial de articulação.

Como a programação do evento é selecionada?
Ano passado tivemos 104 atividades, entre palestras, oficinas, shows etc. Isso tudo com uma equipe de sete pessoas [na organização]. O processo de produção começa em fevereiro. Fomos contemplados em um edital que viabiliza financeiramente a feira junto com outras parcerias. A programação é conduzida a partir dos nossos sonhos, porque temos uma abundância de coletivos e pessoas que gostaríamos de trazer e sentimos que muitos ficam de fora, mas precisamos fazer escolhas. A partir dessa reflexão, começamos a construir o esboço das temáticas que queremos abordar. Em cada edição escolhemos um tema que será o fio condutor das nossas atividades, esse ano o tema é “De onde você vem?”, que surgiu depois de chegarmos na questão da ancestralidade, principalmente.

A educadora Eda Luiz será a homenageada deste ano. Como foi a escolha dela?
Tínhamos a ideia de homenagear uma mulher e a escolha da Dona Eda Luiz, que não é escritora mas é uma educadora muito importante para o nosso território, vem de encontro com essa conexão que a feira tem com a educação. A Dona Eda tem um trabalho muito especial no CIEJA Campo Limpo, escola que deixará neste ano depois de 20 anos de atuação. Ela sempre apoiou muito o nosso trabalho e faz a ponte entre a cultura e a educação de maneira muito bonita.

O que é a literatura periférica e o que ela representa hoje para a zona sul?
Nasceu aqui na zona sul, através dos saraus, um forte movimento cultural. Há 10 anos eram nesses espaços que surgiam muitos coletivos de cultura e, nesse sentido, a linguagem privilegiada da construção sempre foi a literatura. Apesar da diversidade de expressões artísticas existentes no território. Em minha opinião, literatura é literatura em qualquer lugar. A literatura periférica é um termo que identifica um movimento cultural de um grupo de escritores oriundos desse local, mas não pode ser diminuída por usar esse nome. Os autores que chamamos de periféricos são tratados assim por uma questão de pertencimento, mas o trabalho deles não se limita somente a esse ou para esse lugar.

Qual o desafio dessa literatura?
É muito difícil em um país que não lê, para uma população em que o livro está super distante, acreditarmos que vamos alcançar muitas pessoas com a nossa literatura. Mas sabemos que somos capazes de despertar algumas pessoas, crianças e jovens, e isso é muito importante. Por isso que a programação da Felizs é recheada de atividades de contação de histórias, performances, apresentações musicais, palestras, isso tudo na tentativa de aproximar o leitor em potencial que a gente tem na zona sul.  

Gisele Alexandre é correspondente do Capão Redondo
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