APOIE A AGÊNCIA MURAL

Colabore com o nosso jornalismo independente feito pelas e para as periferias.

OU

MANDE UM PIX qrcode

Escaneie o qr code ou use a Chave pix:

[email protected]

Agência de Jornalismo das periferias

Léu Britto/ Agência Mural

Por: Jacqueline Maria da Silva

Notícia

Publicado em 08.05.2025 | 10:00 | Alterado em 07.05.2025 | 14:39

Tempo de leitura: 3 min(s)

Mal se entra no terreno visitado pela equipe de reportagem e vê um arco natural de cipós curvados sobre as árvores. Ele funciona como o portal para o lugar mais especial da casa: o jardim, repleto de temperos, ervas medicinais e as plantas alimentícias não convencionais, as PANCs.

A dona dele não poderia ter nome mais propício, Margarida Amorim, 52, que em horário comercial trabalha como vendedora e nas horas vagas ensaia as funções de jardineira, botânica, cozinheira e alquimista em sua casa. O local é tão importante para ela que recebeu nome próprio: Recanto do Ócio, no Recreio da Borda do Campo, periferia de Santo André, cidade do ABC Paulista.

Margarida em seu quintal agroecológico @Léu Britto/ Agência Mural

Se ela tem fome, é só ir ao jardim e colher bertalha coração ou taioba para fazer um refogado, ou uma salada de ora-pro-nobis enfeitada com flor de serralha. Como prato principal, feijão e mistura temperados com curcuma e hortelã – e um suco de jambu para refrescar. “As PANCs são deliciosas e têm muitos nutrientes que precisamos”, comenta Margarida.

As chamadas “plantas alimentícias não convencionais” (PANCs) são folhas, talos, sementes e flores comestíveis e ricos em nutrientes, que não são consumidos com frequência por desconhecimento, como sementes de jaca, coração da bananeira, o talo do mamão verde.

Fonte: Cartilha Instituto Kairós

Diversas plantas do jardim têm propriedades medicinais, como o boldo, recomendado para indigestão, colonha e cidreira, usados para auxiliar o controle da pressão arterial e alfavaca, que possui propriedades anti-inflamatórias. Margarida reforça, porém, que o uso de plantas medicinais deve ter acompanhamento profissional.

Vida da “prainha”: braço da Billings que faz limite com o terreno de Margarida @Léu Britto/ Agência Mural

Lazer nas margens da Billings

Cria da Favela Bougival, também em Santo André, Margarida e o marido, Carlos Lazaro Borges Campos, sempre tiveram o sonho de morar em uma casa no meio do mato. Mais: um local que trouxesse de volta a nostalgia dos tempos em que se plantava nos quintais. Com uma indenização trabalhista recebida pelo parceiro, foi possível realizar o plano, com um detalhe muito especial: a casa tinha vista para a Represa Billings.

“A gente queria é que tivesse água perto, se possível uma nascente. Quando chegamos aqui e vimos a represa muito próxima, mudamos na hora. Era ótimo para a gente”, fala com humor.

Sempre que vai à represa, margarida recolhe lixo trazido pela água de outras regiões @Léu Britto/ Agência Mural

Mas vale ter um paraíso desses só para si? Eles acharam que não. Por isso, começaram a dividir o espaço com amigos, familiares, vizinhos e quem mais se sentisse parte do local. Assim, em uma periferia com quase nenhum espaço de lazer disponível para a comunidade, o Recanto do Ócio se tornou lugar de acolhida, cultivo e preservação da mata nativa.

“Não é o ócio de não fazer nada, mas o ócio criativo, de ter um lugar em que se possa conhecer as plantas, a floresta, a represa”, explica entusiasmada.

Logo ao fundo do quintal, se estende a uma área de preservação de Mata Atlântica às margens da represa. Para chegar até lá é preciso fazer uma trilha de 10 minutos a pé no meio da mata fechada até a “prainha”, como o casal apelidou as margens da Billings.

Nos oito anos em que vive na propriedade, Margarida já plantou mais de 100 árvores @Léu Britto/ Agência Mural

De bota de cano alto nos pés e facão na mão, Margarida atravessa o caminho sem temer encontrar serpentes, saguis, capivaras e até porcos espinhos. Quando chega na “prainha”, abre uma sacola e recolhe lixo provenientes de outras regiões.

Este mesmo respeito ela tem pelas ervas que cultiva. Margarida tem planos para catalogar espécies e ajudar a reflorestar parte da mata já desmatada. Nos nove anos que reside na propriedade, já plantou mais de 100 árvores “A gente tem três pés de cambuci, jabuticaba, goiaba e amora”, completa orgulhosa.

receba o melhor da mural no seu e-mail

Jacqueline Maria da Silva

Repórter da Agência Mural desde 2023 e da rede Report For The World, programa desenvolvido pela The GroundTruth Project. Vencedora de prêmios de jornalismo como MOL, SEBRAE, SIP. Gosta de falar sobre temas diversos e acredita do jornalismo como ferramenta para tornar o planeta melhor.

Republique

A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.

Se você quer saber como republicar nosso conteúdo, seja ele texto, foto, arte, vídeo, áudio, no seu meio, escreva pra gente.

Envie uma mensagem para [email protected]

Reportar erro

Quer informar a nossa redação sobre algum erro nesta matéria? Preencha o formulário abaixo.

PUBLICIDADE