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No Jardim Helena, torneio de futebol LGBTQIA+ busca trazer mais diversidade ao esporte

Competição foi organizada por time de futebol feminino da zona leste e contou com 56 participantes

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Karine Ferreira / Agência Mural

Por: Karine Ferreira

Notícia

Publicado em 29.08.2023 | 15:13 | Alterado em 29.08.2023 | 15:13

Tempo de leitura: 3 min(s)

“Nunca vemos pessoas LGBTQIA+ em times da vila, são sempre grupos de pessoas héteros que mal dão espaço ou incluem pessoas diversas no time”, desabafa Laura Menezes, 22, integrante do Safira’s Team.

Laura começou a jogar futebol aos 11 anos, quando os dribles da molecada na rua dela chamaram a atenção. O esporte se tornou um espaço de refúgio.

Na busca de mudar essa característica heteronormativa do futebol, o Safira’s Team, time feminino da zona leste de São Paulo, realizou a primeira competição da região entre a comunidade LGBTQIA+, no último dia 13 de agosto.

Torneio de futebol LGBTQIA+ é o primeiro do Jardim Helena @Alexandre de Oliveira Silva

“Ver que tem pessoas na plateia, que são pais, que são mães, que são avós. É muito gratificante, porque é um apoio que a gente nunca teve, e hoje estamos vendo que podemos ter”, conta Mary Jane, 21, pedagoga e umas das responsáveis por organizarem a competição no Jardim Helena, na zona leste.

A organizadora, que teve ajuda do futebol para lutar contra a depressão e melhorar a qualidade de vida, revelou que, ao abrir inscrições para o torneio, recebeu relatos de pessoas que gostariam de participar de times da comunidade, mas que normalmente sofriam discriminação após revelarem a orientação sexual.

Troféus dos times ganhadores do Torneio @Karine Ferreira / Agência Mural

Ryan Felipe, 22, auxiliar em técnico de enfermagem e morador do Pimentas, bairro de Guarulhos, na Grande São Paulo, participou do torneio como membro do time vermelho, e conta que começou a jogar futebol quando criança, mas acabou se afastando depois.

“O Brasil é o país do futebol. Quando a gente sai na rua, tem o pessoal jogando, colocando os chinelos na rua. Vejo isso desde criança. Mas quando eu me assumi homossexual, o pessoal deu uma afastada, então agora resolvemos ocupar esse espaço, acolher o pessoal LGBTQIA+ para fazer parte do esporte”, conta ele.

Segundo o jovem, a ideia é fazer o mesmo com outros esportes, como o vôlei e a queimada.

Cenário desigual

O estudo ‘Reflexões sobre mapeamentos de coletivos, eventos e torcidas de futebol LGBTQIAPN+’,  publicado no ano passado e realizado pelo Nix Diversidade com apoio da Nike, indicou que 42,8% da comunidade LGBTQIAPN+ não tem acesso a práticas esportivas.

A pesquisa também mostrou que os coletivos representam o principal movimento para ampliar o acesso ao esporte, evidenciando um crescimento expressivo dessas iniciativas. O número de coletivos esportivos LGBTQIAPN+ cadastrados no mapeamento, por exemplo, aumentou de cerca de 60 para 124 desde o primeiro estudo, em 2022.

A pedagoga Mary Jane explica que a idealização do torneio inclusivo começou um ano antes, quando fizeram um festival de lésbicas contra gays. “Como ficou empatado por 2 a 2, o pessoal ficava cobrando a revanche, então tivemos a ideia de fazer um torneio mesclado. Tem time que tem trans, não binário, bi, lésbica, gay”.

O torneio, que foi anunciado no Instagram do time feminino Safira’s Team, teve o total de 56 inscritos. Para participar não precisava saber jogar, bastava querer fazer parte e se divertir com a galera. Os atletas foram divididos em 8 times e a competição teve 3 fases. Cada time tinha uma cor e o público poderia vestir a cor do grupo para qual fosse torcer.

Público que torcia e vibrava a cada lance dos times @Karine Ferreira / Agência Mural

A disputa foi realizada no Parque Jardim Helena, espaço que a equipe conseguiu utilizar gratuitamente após planejamento com a organização do parque.

“Um evento assim mostra que todo mundo pode jogar futebol, estar no time que quiser, porque o esporte é um refúgio e um direito de todo mundo”

Laura Menezes, integrante do Safira’s Team

Safira’s Team

Nascida e criada no Jardim Helena, Alice Rocha, 26, trabalha com montagem de móveis e marcenaria. Ela foi uma das responsáveis por ajudar a organizar o evento e é uma das integrantes do Safira’s Team desde a fundação.

A ideia surgiu em 2019, quando uma amiga postou no Facebook que gostaria de jogar futebol, mas que não tinha meninas suficientes para uma partida. Aos poucos, foram aparecendo garotas na publicação e logo surgiu a equipe. O nome faz referência a linha de trem 12-safira da CPTM, que liga a região entre o Calmon Viana e o Brás.

O Safira’s Team, que já tem mais de 50 meninas, disputa alguns campeonatos e amistosos e está aberto para quem tiver interesse em jogar. Basta entrar em contato com o perfil da equipe e comparecer aos treinos, realizados todas às segundas e quartas, às 20h, no Clube Escola Curuçá.

O grupo também está buscando por meninos que façam parte da comunidade LGBTQIA+ para, futuramente, conseguir montar um time masculino inclusivo.

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Karine Ferreira

Jornalista cultural, publicitária e corinthiana. Fiel à fotografia e à música, nunca falta samba, rap ou funk no meu dia-a-dia. Correspondente do Jardim Helena desde 2023.

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