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Várzea na Vila Nhocuné vai além do jogo e gera novas oportunidades

Além de gerar entretenimento na região, o evento gerou novas fontes de renda ao bairro

Lohe Duarte/Agência Mural

Por: Lohe Duarte

Notícia

Publicado em 19.08.2025 | 13:29 | Alterado em 19.08.2025 | 14:59

Tempo de leitura: 5 min(s)

Rafael Diniz, 36, é morador da Vila Nhocuné, no distrito de Artur Alvim, zona leste de São Paulo, e atualmente é proprietário de uma adega. O estabelecimento leva o nome de “Bonde dos Loucos”, por conta da torcida Loucos e Malucos da Vila Nhocuné, da qual ele é presidente.

Na rua Silva Lisboa, o empreendimento iniciou-se em 2023, quando Diniz se deparou com a reforma de um campo de várzea. Com isso ele teve uma ideia: montar um estabelecimento que atendesse aos participantes que viessem assistir as partidas de futebol.

Como mora na frente do campo, ele viu uma oportunidade de negócio. Junto com o amigo Rogério, abriram a adega e estão há dois anos com essa fonte de renda.

Ele recorda que já enfrentaram “vários perrengues”, mas com paciência e parceria o negócio tem dado certo. “Lá atrás não imaginava que daria tão certo e que a gente iria conseguir chegar tão longe, no começo tudo é mais difícil e muito dinheiro que investe né?”.

Rafael é um dos pequenos negócios que se fortaleceu por meio do esporte no bairro, modalidade que tem mais de 50 anos na região.

A melhora no campo foi idealizada pelo Sport Clube Batti Fácil, fundado em 2001. Junto com alguns times do bairro, incluindo um dos tradicionais da velha guarda, o Esporte Clube Paraná. Buscaram o poder público por meio de um vereador da região e, após as reformas, o local se tornou a famosa Arena Batti Fácil.

O campo passou a receber a super Copa Zona Leste, evento idealizado pela diretoria do próprio clube, que reúne diversos times e torcidas. Com isso, a circulação de pessoas aumentou e gerou crescimento no fluxo de vendas nos pequenos negócios do bairro.

O Sport Clube Batti Fácil é responsável pela administração do campo que recebe campeonatos como a Super Copa Zona Leste @Lohe Duarte/Agência Mural

Criatividade e confiança, geraram renda

Entre as atividades que se fortaleceram, boa parte são os famosos “negócios nas garagens”. Empreendimentos que mostram o desafio dos proprietários em driblar questões financeiras e as histórias que cada família carrega.

A família de Antônio Carlos, 44, é dona do ‘Garagem da Vila’. Morador do Nhocuné há 34 anos, ele e a esposa ainda estão fazendo a reforma do local.

A ideia inicial era fazer um salão de beleza para a esposa, porém, decidiram juntos mudar os planos. Hoje fornecem bebidas no geral, salgados e porções.

O bar da família de Analice homenageia ela e as irmãs. “DNA Petiscos” leva as iniciais das filhas: Deise, Natália e Analice @Lohe Duarte/Agência Mural

Na rua Professor Thiré, está localizado o bar ‘DNA Petiscos’, que chegou alguns anos antes da reforma. A família já fazia renda no bairro com diversos produtos, como capas de carro.

Analice Viana, a caçula da família, fala com orgulho de como iniciou a trajetória do bar e aonde chegaram. “Passamos por muitas dificuldades, mas nunca pensamos em desistir. Não é só a renda da minha família, são experiências e amizades.”

Além dos pais de Analice, o tio dela também trabalha em dias de jogo. Wanderson Jorge, 41, dono do ‘Kiosque do Caneka’, era motoboy, mas a chegada da Arena o motivou a deixar os perigos do trânsito e abrir uma coquetelaria.

“Vi que na beira do campo ainda não vendiam drinks, resolvi fazer um curso e hoje tiro minha renda das batidas, e estou sempre aprendendo e inovando para atender todo público”, afirma Wanderson, conhecido no bairro como Caneka.

Ele também faz drinks sem álcool, já que o local tem um ambiente familiar e recebe muitas crianças.

Wanderson, conhecido como Caneka preparando um drink para um cliente do camarote da Arena @Lohe Duarte/Agência Mural

Do outro lado da Arena, atua Rafael Nascimento, conhecido como ‘Dorra’ pelos moradores do Nhocuné. Proprietário do ‘Açaí da Várzea’, ele ressalta que conquistou até mesmo o público de outros bairros.

Antes, Dorra trabalhava em um mercado, em escala 6×1. “Não vi minha filha crescer, folgava uma vez na semana. Depois da Arena e da Super Copa Zona Leste, foi um ganho de vida maravilhoso. Hoje consigo curtir meus filhos.”

Em volta do campo, há também barracas, como a do pastel de Roseli Marinho, 55, e do Paulo Almeida, 60. Eles vendiam pastéis na feira de quinta-feira, e também faziam uma feira aos sábados.

Um dos clientes, que assiste aos jogos da Arena sugeriu que tentassem vender nas partidas. Eles gostaram da ideia e procuraram a presidência do clube. Desde então, todo sábado e domingo eles montam a barraca de pastel. “Estou aqui há 3 anos e não tenho do que reclamar”, diz Roseli com um sorriso no rosto.

“A várzea ganhou visibilidade na mídia, virou quase uma 4ª divisão. Antes era mais diversão, jogos comuns não lotava, mas os festivais enchiam isso aqui”, afirma Antônio de Oliveira, 71, conhecido como ‘Tonhão’, responsável pela administração do Niterói nos anos 1980 – primeiro time a comandar os jogos no espaço.

Ele ressalta que o futebol é uma ferramenta de inclusão social. “Espero que a molecada de hoje leve o time como nós conseguimos levar por mais de 50 anos”, fala ele com esperança na nova geração.

O Açaí da Várzea foi fundado em 2004, hoje o local atraí mais clientes devido aos campeonatos @Lohe Duarte/Agência Mural

Um dos presidentes do Batti Fácil, Paulo Rogério, 46, filho de Neusa e Rivinha, diz que após a inauguração da Arena em 2023, a chegada da copa e os eventos beneficentes, o espaço não só gerou lazer e visibilidade para o bairro, como proporcionou emprego para muitas pessoas.

No clube, são 14 funcionários, entre administrativo e operacional, além das pessoas que trabalham no bar do camarote, que aos fins de semana tem uma roda de samba.

“Na super copa Zona Leste os meninos além de jogar no projeto, trabalham de gândula durante a partida. Isso gera uma renda para a família e para eles próprios”, comenta Rogério. Hoje um gândula na várzea ganha em média R$ 30 por jogo.

Para Marcone Leite da Silva, 65, morador do bairro desde 1968, é uma satisfação ver o movimento da região e o nome da Vila Nhocuné ser conhecido na várzea. ”Sair na rua, ver o movimento, conversar com pessoas de fora é muito bom, a região cresceu bastante, foi bom para o comércio daqui.”

Jogos há 50 anos

As partidas na Vila Nhocuné vem de muito antes da Arena. Nos anos 1960, não havia muita diversão. Os garotos daquela época se juntavam em uma turma e formavam um time para jogar futebol. Eles ocupavam terrenos abandonados e davam o nome para o “campo”.

Tonhão conta que existiam muitos terrenos vazios, então a molecada pegava eucaliptos, faziam as traves e assim montavam os campos.

Lohe Duarte/Agência Mural

Em 1965, o loteamento começou à avançar, e a várzea ia acabando, dando espaço para mercados, casas e outras construções. Em 1969, um vereador que tinha uma coletividade com a Sociedade Amigos da Vila Nhocuné sugeriu de fazerem um campo no espaço que ainda restava sem ocupação dos loteamentos.

O time Sociedade Esportiva do Niterói, formado pela rapaziada da Vila Nhocuné, ficou responsável por essa várzea, e assim foi fundado o campo do Niterói entre a rua Professor Thiré e a rua Silva Lisboa. O local nos anos 2000 se tornou a Casa do Batti Fácil.

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Lohe Duarte

Jornalista, Mestre de cerimônia e organizadora de eventos corporativos. Catequista na paróquia do bairro. Católica e mãe. Ama pessoas e histórias.

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