Por: Sidney Pereira
Notícia
Publicado em 28.04.2022 | 18:00 | Alterado em 29.04.2022 | 17:25
José de Paulo, 18, trabalha há sete meses vendendo doces em um cruzamento da rua Voluntários da Pátria, a principal via do distrito de Santana, na zona norte de São Paulo. Com jeito tímido, ele aborda os clientes com um aceno e arranca sorrisos ao exibir um cartaz que anuncia: “Eu vou ser empresário. Tudo tem um começo!”.
O jovem vive com a mãe diarista na viela Luiz Haro, comunidade com cerca de cem moradores, espremida entre prédios de alto padrão no bairro Alto de Santana. O local de trabalho foi escolhido por ser perto de casa, evitando gastos com transporte. “E ainda tem uma árvore grande que dá sombra o dia inteiro”, brinca.
Ele conta que terminou o ensino médio e saiu do emprego em uma lanchonete para se dedicar exclusivamente às vendas no semáforo. “Ganhava um salário baixo, sempre gostei de vender produtos na escola e decidi sair. Compensa trabalhar na rua, já tenho clientes fixos”, afirma.
No comércio, os produtos que mais saem são o alho (ao custo de R$ 10 o pacote), balas e gomas de mascar (a partir de R$ 1). Além disso, também são aceitos pagamentos por QR Code. “Tenho 100% de lucro na venda”, revela.
Para ajudar no sonho de ser empresário no futuro, o rapaz planeja ingressar no curso superior de Administração. Enquanto isso, além de trabalhar durante sete horas diárias na rua, ele tem investido o lucro com as vendas em um pequeno e-commerce.
“Compro o produto, embalo, coloco a etiqueta e envio ao comprador”, diz José, que revende itens eletrônicos comprados no Brás [região central de São Paulo], mas sonha em montar uma loja física.
No último trimestre, 313 mil novas pessoas passaram a atuar como trabalhadores informais, mostram dados de janeiro de 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Segundo Lucia Garcia, 55, economista do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), os brasileiros não estão nesta condição de informalidade por escolha, mas sim pelo aumento do desemprego e a queda na renda.
“O mercado não tem oportunidades de trabalho suficientes para todos: 39,5 milhões de brasileiros não têm emprego [formal], o que chega a 40% do total”
Lucia Garcia, economista
Além dos desempregados, este grupo de trabalhadores informais é formado por assalariados sem carteira assinada, como diaristas e mensalistas, aqueles que atuam por conta própria e os empregadores sem registro.
A economista afirma que, historicamente, o crescimento da economia traz a diminuição da informalidade, mas a aprovação da reforma trabalhista deixou o setor em um patamar ainda muito ruim.
“Aí veio a pandemia, que jogou uma pá de cal no mercado, piorando o que já não estava bom. A informalidade voltou com muita força e é a última alternativa que os trabalhadores têm na luta diária pela sobrevivência”, diz.
“No final de 2021 e no início deste ano, os empregos começaram a ser gerados, mas a qualidade da ocupação de vagas é insatisfatória, instável, sem acesso a direitos, de curto prazo, e rendimentos mais baixos do que antes da pandemia”, complementa.
A atual taxa de desemprego no Brasil está em 11,1% e a especialista do Dieese critica a atuação do governo. “O problema é maior pela falta de coordenação da crise sanitária e a desorganização econômica. Os políticos gostam de anunciar números de crescimento, mas isso não garante renda suficiente para as famílias”.
Recentemente, o jovem José de Paulo se tornou MEI (Microempreendedor Individual) para ter direito a benefícios sociais, como o auxílio-doença, aposentadoria e pensão. Segundo o Governo Federal, o Brasil registrou 3,1 milhões de novos MEIs em 2021 – representando 80% dos pequenos negócios abertos no ano passado.
Sobre este caso, Lucia orienta que o vendedor continue como MEI, obtendo o seguro social com as contribuições para a Previdência Social. Ela também vê como positiva a participação no comércio eletrônico, “um mercado promissor, já que as mudanças dos hábitos de consumo são definitivas”.
Por fim, aconselha que o empreendedor procure o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) para ter noções de gestão, organização e visão de mercado.
Formado em Comunicação Social pela FAAP. Seu hobby preferido é acompanhar competições esportivas, como mundiais, durante o período de férias. Correspondente da Vila Maria desde 2014.
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