Jucinara Lima/Agência Mural
Bairro retratado na primeira reportagem da Mural em 2010 só recebeu reforma em 2024 e segue como ponto de encontro da comunidade na zona noroeste de SP
Por: Jucinara Lima
Notícia
Publicado em 24.11.2025 | 16:10 | Alterado em 24.11.2025 | 16:10
À meia-noite de 24 de novembro de 2010, a Agência Mural — então Blog Mural, hospedado na Folha de S.Paulo — publicava seu primeiro texto: “Lazer improvisado, mas que funciona”.
Assinada pela correspondente Bianca Pedrina, a reportagem retratava um campinho de terra do Jardim Brasília, na Parada de Taipas, zona noroeste de São Paulo, onde crianças improvisavam traves com chinelos e moradores capinavam o mato para manter o espaço em condições de uso.
Naquele período, a região tinha poucas opções de lazer. O campinho se firmava como um dos raros espaços coletivos do bairro e seguia ativo graças ao esforço da comunidade, que se mobilizava para garantir as partidas.
Quinze anos depois, a Mural voltou ao local para conferir o que mudou.

Campinho foi nomeado como Arena Jardim Brasília @Jucinara Lima/Agência Mural
A paisagem é diferente, mas o papel social permanece. O antigo terrão passou por reforma promovida pelo poder público e foi entregue em 2024. Desde então, o espaço é chamado pelos moradores de Arena Jardim Brasília. A quadra recebeu grama sintética, novo alambrado e reorganização das áreas externas.
O entorno também mudou. Ao lado da quadra, há ainda uma área apelidada de “camarote”, com bancos, vasos, bandeiras e enfeites feitos com materiais reaproveitados. O espaço é usado para acompanhar os jogos e evidencia o cuidado cotidiano da própria comunidade.

Camarote tem pneus com plantas, camisetas de times e bancos para os moradores assistirem os jogos @Jucinara Lima/Agência Mural
A praça vizinha ganhou aparelhos de ginástica ao ar livre e brinquedos de madeira, ampliando o uso do local. Em uma tarde comum, adultos utilizam os equipamentos enquanto crianças alternam entre a quadra e o parquinho.
Apesar das mudanças estruturais, o vínculo dos moradores com o campinho segue o mesmo. Renato Silva, 37, cresceu jogando no terrão.
‘Eu jogava aqui com oito anos. As traves nem rede tinham, a bola era remendada… às vezes a gente chutava o chão e arrancava o tampão do dedo’
Renato, morador do Jardim Brasília

Moradores fazem atividades físicas ao ar livre @Jucinara Lima/Agência Mural
Hoje, passa pelo espaço no fim da tarde para acompanhar o sobrinho de 7 anos e reencontrar vizinhos. Aos domingos, participa das partidas entre veteranos.
A movimentação infantil continua intensa. Felipe Lira, 11, frequenta o campinho todos os dias após a escola para jogar X1, modalidade em que apenas dois jogadores se enfrentam, alternando ataques curtos e finalizações diretas no gol.
“Aqui eu ganho todas. Meus amigos ficam bravos porque eu sou muito bom”, afirma, segurando a bola enquanto observa os colegas se organizarem.
Mesmo após a reforma, parte da manutenção ainda é feita pelos moradores, que se revezam para recolher o lixo, cortar a grama das laterais e colocar sacos plásticos nas lixeiras. Os materiais usados são doados por famílias do bairro, que mantêm a prática de cuidar do espaço desde a época do terrão.
Além dos jogos, a arena funciona como área de convivência do bairro. Nos dias de sol, moradores assistem às partidas nos bancos do “camarote”; em horários de menor movimento, adolescentes circulam pela quadra, andam de bicicleta ou se reúnem na praça ao lado. O espaço se consolidou como equipamento multifuncional, integrado ao cotidiano da vizinhança.
Artista visual, Fotógrafa, com atuação voltada à documentação visual de territórios periféricos e do futebol de várzea. Idealizadora do “Juh na várzea”, mãe de duas meninas, ama futebol e resenhar entre amigos.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
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