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Enchentes em Quitaúna viram rotina, e moradores questionam demora em obra

Desde 2020, alagamentos aumentaram em bairro da cidade de Osasco; projeto para minimizar problema começou apenas em setembro de 2022

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Carolina Maria/Agência Mural

Por: Carolina Maria

Notícia

Publicado em 24.02.2023 | 14:02 | Alterado em 24.02.2023 | 14:02

Tempo de leitura: 3 min(s)

A dona de casa Neide Cardoso, 71, mora em Quitaúna há 35 anos e por seis vezes perdeu móveis da casa, por conta de enchentes no bairro que fica em Osasco, na Grande São Paulo

Ela lembra até hoje de 2020, quando sobrou apenas geladeira e fogão, eletrodomésticos que ficaram danificados por conta da água. Em fevereiro deste mês, ela reviveu esse cenário. “As quatro enchentes deste ano entraram na minha casa”, afirma a moradora.

Segundo ela, não houve apoio no passado e duvida que as coisas irão mudar daqui para frente. “A prefeitura não arcou com nada, na enchente de 2020 nós contamos com a presença do prefeito [Rogério Lins (Podemos)] no local. Ele pôde ver o estado de todas as casas, pôde ver tudo.”

Obra para minimizar problema começou apenas em setembro @Carolina Maria/Agência Mural

Na enchente daquele ano, logo que a água baixou, chegaram caminhões da prefeitura recolhendo o “lixo” das casas. “Deu para cada família alguns colchões já que não tínhamos onde dormir, e prometeu desconto em nosso IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), uma coisa que nunca aconteceu”, ressalta Cardoso.

Em setembro do ano passado, a prefeitura iniciou uma obra de drenagem de águas pluviais como promessa para resolver o problema. A obra tem um custo de R$ 12 milhões, e prazo de um ano para conclusão, no segundo semestre de 2023.

Só neste ano foram quatro enchentes e todas elas foram prejudiciais às mesmas famílias, que criticam a demora de começar o projeto.

No mandato do prefeito Rogério Lins (Podemos), o mesmo prometeu uma resolução ainda em 2020, mas a obra só começou em 2022.

Com o início da pandemia da Covid-19 em março de 2020 e a necessidade de criar tendas hospitalares, os recursos para os demais problemas foram reduzidos. Naquele ano, a obra não foi iniciada. 

O bairro de Quitaúna fica no limite entre as cidades de Osasco e de Carapicuíba. Os municípios são cortados pelo Rodoanel Mário Covas e também por um córrego que fica na margem da avenida Marginal do Ribeirão. 

Surpresa negativa

O casal formado pelo consultor de seguros Ricieri Faciole Junior, 52, e a contadora Claudete Sampaio, 53, chegou ao bairro em fevereiro de 2021. Os dois foram surpreendidos pelo problema.

Quando decidiram se mudar perguntaram para dois vizinhos sobre as enchentes, já que os portões da residência são ‘chapados’ e na esquina tem um córrego, mas ouviram apenas coisas positivas, inclusive que não enchia já há algum tempo. “Falaram da enchente de 2020 mas disseram que foi algo atípico, e que no geral há mais de 20 anos não acontecia isso, então a gente confiou.”

No entanto, a casa deles foi atingida pelas chuvas deste ano. “A água não tinha para onde ir, então começou a voltar pelos ralos. É cansativo, é água suja, água com terra, água de esgoto, a gente acaba gastando também muito dinheiro com os produtos de limpeza.”

De onde moram, eles têm toda a visão da obra, mas apontam falta de transparência no avanço do projeto. “Nunca colocaram uma placa, o que a gente vê é eles cavoucando e levantando montanhas de terra, que  cai no rio e ajuda a entupir.”

Casa invadida pela água em Quitaúna, em Osasco @Carolina Maria/Agência Mural

Água vem de um córrego na região, perto do limite do Carapicuíba @Carolina Maria/Agência Mural

Água vem de um córrego na região, perto do limite do Carapicuíba @Carolina Maria/Agência Mural

Desde 2020, moradores aguardam por obra para prevenir problema @Carolina Maria/Agência Mural

Ricieri conta que sempre sobe na laje e questiona o impacto da obra no meio ambiente. Segundo ele,  a área era  cheia de árvores, tinha em torno de seis macaquinhos – os próprios moradores os alimentavam com frutas. “A gente não faz ideia do que aconteceu com os bichinhos.”

‘Deu uma chuva de 20 minutos e o rio já estava enchendo, e a gente fica com medo, ansioso, a nossa expectativa é de preocupação, porque a gente sabe que mais enchentes virão e com isso mais transtornos’

Claudete Sampaio, 53, moradora da região

Um carro da Defesa Civil passava pelas ruas na primeira quinzena de fevereiro e parou em algumas casas. Segundo moradores, o órgão avisou que estava disponível para apoiar em casos de novos alagamentos.

 “A prefeitura nunca divulgou, então nunca tivemos essa ajuda”, afirma o aposentado Marco Antônio, 70, morador do bairro. “Eles vieram e disseram que não sabiam que essa era uma área de risco e nem sabiam sobre essa obra.”

Na enchente de 2020 o aposentado também perdeu tudo, dormiu nos colchões doados pela prefeitura. “Muita coisa que tenho hoje em casa foi doado, sofás, guarda roupa, cama, colchão, tudo ganhamos.”

Antônio relata o medo de ver a água subindo e entrando nas casas de novo.. “A gente não tem o que fazer a não ser ficar olhando e rezando para não perder tudo novamente”, desabafa.

A Agência Mural entrou em contato com a prefeitura, mas não teve retorno até o fechamento da reportagem.

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Carolina Maria

Jornalista, periférica, autora do livro “pensamentos desalinhados”. Meu livro foi publicado de forma independente. LGBTQ+. Ler é um dos meus hobbies favoritos. Correspondente de Osasco desde 2022.

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